OPINIÃO
A. Sevinate Pinto
A agricultura (sector agrário) começa a ocupar espaço crítico na
comunicação social. A sua importância é agora sublinhada por todas as
forças políticas e por um número cada vez maior de individualidades
que reduzem a uma minoria aqueles que continuam a não querer
compreender a multiplicidade das valias públicas e a natureza
específica desta actividade.
É a esses, aos quais, em muitos casos, reconheço grande inteligência e
brilhantismo intelectual, mas também a casmurrice que os leva a
considerar de forma cega os princípios clássicos da ciência económica,
não identificando diferenças entre a actividade agrícola e qualquer
outra actividade, que quero fazer hoje algumas perguntas.
A primeira, tem a ver com a complexidade das políticas públicas
dirigidas ao sector, as quais, ainda há dias, ouvi um influente
comentador, reduzir a uma mera distribuição de subsídios. Se calhar
injustificados, terá pensado sem o dizer.
Será que alguém conhece algum outro sector económico com maior
multiplicidade de unidades produtivas, com maior variedade estrutural
e/ou dimensão económica, com maior dificuldade técnico/económica, com
maior exigência e responsabilidade ambiental e/ou qualitativa e em que
cerca de metade dos produtores tem mais de 65 anos de idade e
rendimento médio inferior a 40% do rendimento médio do resto da
economia?
Se conhecerem, digam, porque eu também gostava de conhecer.
A segunda pergunta que gostaria de lhes fazer é se conhecem algum
sector que viva num enquadramento tão instável como o da agricultura:
é a PAC que se altera, às vezes radicalmente, de 5 em 5 anos, em
contraste e em conflito completo com os ciclos produtivos muito mais
longos de uma grande parte das actividades agrícolas e florestais;
é a politica nacional cuja margem, por mais pequena que seja, sofre
permanentes alterações;
é a volatilidade dos preços dos produtos agrícolas que variam
brutalmente de ano para ano, estilhaçando todo e qualquer planeamento,
por mais prudente que ele seja;
é a volatilidade dos custos dos factores de produção, frequentemente
em contra ciclo com os preços dos produtos.
Se conhecerem, digam, porque eu também gostava de conhecer.
A terceira e última pergunta que lhes queria fazer é se conhecem algum
sector económico em que aconteça com tanta frequência e com tanta
intensidade, as catástrofes naturais e os fenómenos imprevisíveis,
dificilmente seguráveis, tais como:
a BSE, a gripe aviária e tantas outras doenças animais que
regularmente atingem os efectivos pecuários e arruínam os
agricultores;
os incêndios florestais que nos roubam milhares de hectares todos os
anos e as secas frequentes que "queimam" pastagens, searas e sonhos
aos agricultores;
as intempéries de há dois anos que arrasaram uma grande parte das
estufas do Oeste, da chamada "agricultura protegida"!
o nemátodo (importado) do pinheiro que ameaça milhares de hectares
desta importante espécie florestal;
as chuvas intensas e imprevisíveis que nas últimas semanas destruíram
centenas de hectares já plantados com tomate para indústria e/ou de
milho, nos vales do Tejo e do Sorraia e/ou os olivais e as vinhas na
zona de Beja e de Pinhel;
a estranha bactéria E.coli , de origem ainda desconhecida, que tem
vindo a arruinar o mercado de hortícolas, principalmente em Espanha
mas também em toda a Europa.
Se conhecerem, façam o favor de dizer, porque eu também gostaria de conhecer.
Armando Sevinate Pinto
Engenheiro Agrónomo
http://www.agroportal.pt/a/2011/aspinto2.htm
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