segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

'Designers' que reinventaram o uso da cortiça

FEVEREIRO: MÊS DO DESIGN

por JOÃO RUELAHoje


Fotografia © Ricardo Junior/Global Imagens
Da casa de banho à sala de jantar, as criações da Simple Forms Design
marcam pelo visual arrojado e pelo material de valor singular.

Portugal é responsável por mais de 50% da produção mundial de cortiça,
matéria-prima que representa 3% das exportações nacionais. Proveniente
da casca do sobreiro, a cortiça é, tradicionalmente, utilizada
sobretudo para o fabrico de rolhas ou como material de isolamento.
Atualmente, ao entrar numa casa de banho, por exemplo, já é possível
lavar as mãos num lavatório de cortiça, iluminado pela luz de um
candeeiro feito do mesmo material.
Foi a partir da ideia de combinar o método artesanal com a mais
avançada tecnologia e com um visual inovador que os designers Alzira
Peixoto e Carlos Mendonça criaram, em 2004, a Simple Forms Design. A
cortiça está na base da maioria das criações desta empresa sediada no
Porto, que recorre a empresas nacionais para a sua própria produção,
mas que foi desenvolvida para o mercado de exportação.
"A cortiça é como uma imagem de marca para Portugal, mas somos o País
onde mais se desvaloriza a cortiça. Cá, quando falam em cortiça pensam
em rolhas, mas este é um material nobre", começou por explicar Carlos
Mendonça. "No mercado, não encontra mais nenhuma peça ou material como
o nosso. Se gosta, gosta; se quer, compra; e se compra terá de ser o
da Simple Forms Design, porque não há igual em lado nenhum",
acrescenta Alzira Peixoto.
É graças à coleção "Cork", lançada em 2004, que Carlos e Alzira são
hoje conhecidos como os "designers da cortiça". Esta coleção, composta
por objetos de cortiça para casas de banho, é composta por lavatórios,
saboneteiras, taças e tapetes, e valeu à Simple Forms Design a
distinção com o prémio Red Dot Design Award, em 2008. "Um prémio Red
Dot é, basicamente, um certificado de qualidade no mercado de design",
explica Alzira Peixoto. "Hoje, fala-se muito da cortiça em Portugal,
mas em 2004 já andávamos nós a apresentar peças e a perceber o
fantástico que é trabalhar este material", sublinha Carlos Mendonça.
Os lavatórios de cortiça são, talvez, a criação mais arrojada dos dois
designers. "Acho muita piada quando nos perguntam se podem ficar
coisas espetadas na cortiça. Claro que podem, mas se bater com um
martelo num lavatório de vidro aquilo parte. Neste, de cortiça, pode
bater à vontade", frisou Alzira Peixoto. "É um material novo, é normal
que achem estranho. Só acho incrível como se trabalhou durante tantos
anos tão mal a cortiça", completou Carlos Mendonça, antes de
acrescentar mais um dos propósitos da Simple Forms: "Vocacionar a
cortiça para a questão estética, e não só técnica."
Casas e ninhos de pássaros, candeeiros, tapetes e peças de imobiliário
são outras das criações da Simple Forms Design, que também procura
combinar materiais que, à primeira vista, sugerem ser opostos. Veja-se
o exemplo da coleção de mesa "Porcelain", em que a porcelana está
totalmente envolvida por cortiça. "Compramos a melhor matéria-prima e
fazemos um jantar gourmet com os melhores ingredientes", ilustrou
Carlos Mendonça.
A crise económica na Europa condiciona, naturalmente, a Simple Forms
Design, que tinha neste continente o mercado por excelência. Esta
empresa portuguesa de sucesso reconhecido internacionalmente aposta
agora nos mercados emergentes, sobretudo na Ásia. "Há mercado, mas é
preciso encontrar novos tipos de abordagem. Portugal? Não há mercado
para isto", lamentou Carlos Mendonça. Tendo como fator diferenciador a
exclusividade das peças, a Simple Forms, curiosamente, acaba por sair
prejudicada pela falta de concorrência, nomeadamente portuguesa. "Não
ganhamos mais por estarmos sozinhos nas feiras internacionais", refere
Alzira Peixoto. "As pessoas não vão pensar 'vamos comprar as estes
porque são os únicos portugueses'", concluiu.

http://www.dn.pt/inicio/economia/interior.aspx?content_id=2285867&page=-1

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