quarta-feira, 14 de março de 2012

O Desafio da Construção Colaborativa de Conhecimento

Miguel de Castro Neto
A partilha de informação e o acesso ao conhecimento têm sido referidos
inúmeras vezes como factores limitantes para a competitividade do
sector agrícola. No entanto, face às tecnologias de informação e
comunicação que hoje temos ao nosso dispor, em particular aquelas que
suportam a denominada Web 2.0, não existem actualmente limitações
significativas para construirmos sofisticadas plataformas
colaborativas visando dar resposta a esta necessidade, com custos
reduzidos e tirando partido da denominada inteligência colectiva.

O termo Web 2.0 pretende descrever a tendência que se constatou na
utilização das tecnologias da World Wide Web e do Web Design para
reforçar a criatividade, a partilha de informação e a colaboração
entre utilizadores (Wikipedia, 2012). Esta designação ganhou grande
notoriedade e, embora o termo sugira uma nova versão da World Wide
Web, ele não se refere a qualquer evolução das especificações técnicas
envolvidas, mas sim a uma mudanças na maneira como quem desenvolve o
software e os utilizadores finais utilizam a Web. Esta evolução levou
à criação e desenvolvimento de comunidades baseadas na web, tais como
redes sociais, partilha de vídeos, wikis, blogues e folksonomia.
São inúmeras as definições desta nova realidade apresentadas pelos
defensores da Web 2.0, também designada por Web Social, mas quase
todas partilham um ponto em comum: o utilizador, anteriormente apenas
receptor de informação, passa a desempenhar um papel activo, actuando
tanto como receptor como emissor, e as suas opiniões e pontos de vista
passam a poder ser apresentados a uma escala global.
Segundo Tim O'Reilly, criador do termo, a Web 2.0 "é a mudança para
uma internet como plataforma e um entendimento das regras para obter
sucesso nesta nova plataforma. Entre outras, uma das regras mais
importantes é desenvolver aplicações que aproveitem os efeitos de rede
para se tornarem melhores quanto mais são usados pelas pessoas,
aproveitando a inteligência colectiva".
Este paradigma pode ser constatado na Wikipedia, cuja dimensão e valor
se alimenta dessa "inteligência colectiva", pois o seu modelo de
negócio assenta na possibilidade oferecida a todos os utilizadores de
permitir a qualquer um criar ou editar uma entrada numa enciclopédia
em permanente actualização. Mais, o próprio software que suporta esta
plataforma é open source, oferecendo a qualquer pessoa a possibilidade
de criar novos wikis praticamente sem custos.
Foi com esta convicção e sob o lema "Hortofrutícolas em Rede:
Interagir para Competir", que a Federação Nacional de Organização de
Produtores de Frutas e Hortícolas (FNOP) lançou a HortiNET - uma rede
social profissional de recolha e partilha de informação técnica e
científica para a fileira hortofrutícola nacional.
A rede HortiNET (http://hortinet.info), criada pela FNOP no âmbito da
acção 4.2.2 "Redes Temáticas de Informação e Divulgação" do ProDeR,
pretende constituir-se como uma rede social profissional para o sector
hortofrutícola, visando promover o tratamento e difusão de informação
técnica e científica nesta fileira estratégica tirando partido da
inteligência colectiva desta comunidade, aposta na articulação e
adequação entre a produção de conhecimento e as necessidades dos seus
potenciais utilizadores, melhorando o tratamento e o acesso à
informação necessária para o desenvolvimento da competitividade das
empresas e dos territórios no contexto da produção de frutas e
hortícolas, estimulando a cooperação e a organização sectorial.
Pelo conhecimento que a FNOP possui sobre a fileira hortofrutícola, a
HortiNET poderá contribuir para uma mudança significativa das
condições de acesso a informação, considerada hoje como um dos
recursos mais valiosos para qualquer actividade económica.
Efectivamente, a partilha de informação e o acesso ao conhecimento são
hoje um imperativo estratégico para a competitividade do sector
hortofrutícola e, nesse sentido, é fundamental a colaboração entre
todos os agentes desta fileira, de montante a jusante e juntando todos
os elos da cadeia de valor, incluindo desde os produtores, aos
investigadores e académicos, empresas de produtos e serviços,
agro-indústria e mercados na partilha de informação e construção de
conhecimento.
A aposta numa rede social profissional assenta no sucesso
inquestionável da Web 2.0 e das Redes Sociais no contexto da vida
pessoal, o que nos levou a considerar a hipótese de construir uma rede
onde as tecnologias e características da Web social seriam utilizadas
para construir uma plataforma colaborativa visando a criação de uma
comunidade de prática para o sector hortofrutícola nacional, a
HortiNET. Esta rede, tirando partido da colaboração e da inteligência
colectiva, muitas vezes referida como crowdsourcing, para promover a
partilha de informação e a construção de conhecimento, poderá
constituir-se como a porta de entrada para a comunidade dos
interessados no sector hortofrutícola nacional. Assim, neste espaço
virtual e para além dos posts tradicionais de uma rede social, os
membros da rede podem criar/participar em grupos temáticos onde
partilham recursos (documentos, fotos, vídeos, etc.), debatem ideias
(fóruns), referenciam recursos (apontadores) e eventos e podem mesmo
construir documentos colaborativamente.
Esta iniciativa é, assim, o reflexo da aposta e compromisso da FNOP no
apoio ao acesso à informação necessária para o desenvolvimento da
competitividade das empresas e dos territórios no contexto da produção
de frutas e hortícolas. Sendo precisamente a escassez de informação um
dos aspectos muitas vezes referido pelas organizações envolvidas nesta
rede como uma das responsáveis pelas dificuldades em desenvolver em
tempo oportuno estratégias competitivas, a presente rede será, sem
dúvida, um promotor da competitividade do sector mediante a melhoria
do tratamento e acesso à informação relevante através da construção de
uma comunidade de interessados nesta área que, colaborativamente e de
forma orgânica, constroem conhecimento vital para a tomada de decisão.
A HortiNET resulta de um projecto apresentado à Acção 4.2.2 "Redes
Temáticas de Informação e Divulgação" do ProDeR pela Federação
Nacional das Organizações de Produtores de Frutas e Hortícolas (FNOP),
em parceria com o Instituto Superior de Estatística e Gestão de
Informação (ISEGI) da Universidade Nova de Lisboa, a Direcção-Geral de
Agricultura e Desenvolvimento Rural (DGADR) do Ministério da
Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território, o
Centro Operativo e de Tecnologia de Regadio (COTR), a Cooperativa
Agrária de Compra, Venda e Prestação de Serviços (AGROCAMPREST), a
Cooperativa Agrícola de Citricultores do Algarve (CACIAL), a
Cooperativa Agrícola de Hortofruticultores do Oeste (FRUTOESTE), a
Organização de Produtores de pequenos frutos (LUSOMORANGO), a
Cooperativa de Fruticultores e Horticultores da Região de Alcobaça
(NARCFRUTAS) e a Organização de Produtores Hortofrutícolas (TORRIBA).
Para além das entidades indicadas, a rede tem como parceiros
internacionais a GFA, consultora austríaca especializada na área
agrícola e a EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agro-Pecuária,
mais concretamente com a sua unidade EMBRAPA Informática
Agro-Pecuária, com competências reconhecidas internacionalmente no
contexto da gestão de informação e conhecimento no sector agrícola.
Miguel de Castro Neto
Professor Auxiliar / Subdirector Instituto Superior de Estatística e
Gestão de Informação da Universidade Nova de Lisboa
Publicado em 13/03/2012
http://www.agroportal.pt/a/2012/mneto.htm

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