domingo, 18 de março de 2012

O legado da Sogrape

Vinhos
A crónica semanal do especialista da VISÃO, José António Salvador
23:00 Quinta feira, 15 de Mar de 2012
O massacre comunicacional de que somos vítimas diariamente
(austeridade, dívida soberana, e de seguida: para a economia crescer,
é preciso exportar) cerca-nos com uma camada de nevoeiro, que nos
esconde um produto que exportamos globalmente desde a década de 40 do
século passado, o Mateus Rosé.
Ainda hoje a Sogrape comercializa 20 milhões de garrafas por ano em
todo o planeta, que representam 30% da sua facturação anual,
registando nos seus 70 anos de história o record de vendas de 50
milhões de garrafas/ano, quando a concorrência internacional não era
tão ativa neste domínio. O vinho constitui hoje um negócio planetário,
ainda não destruído pela China, onde o Mateus Rosé continua
reconhecido como símbolo de Portugal. Ora, foi justamente com um copo
de Mateus Rosé que Fernando Guedes recebeu na sua casa no Porto um
grupo de jornalistas e críticos de vinhos portugueses a quem
apresentou o seu último projecto vínico. Fernando Guedes deixou
funções executivas na Sogrape, empresa fundada por seu pai em 1942,
mas aos 81 anos continua a visitar regularmente as suas instalações e
propriedades nas diversas regiões do País. A Sogrape exerce atualmente
também a sua atividade produtora no Chile, Argentina e Nova Zelândia,
não virando assim costas aos apelos do designado "novo mundo". Assim
se compreende que um Riesling neozelandês de 2009 de vinhas velhas
tenha aberto o jantar à mesa, a que se seguiu um tinto do Douro,
Legado 2008.

Era esta a novidade da noite e aquilo a que Fernando Guedes designou
por Legado, razão do convite e do convívio.
Trata-se de um tinto produzido a partir de uvas colhidas em 7 hectares
de vinhas velhas com mais de cem anos da Quinta do Caêdo, com castas
misturadas (Rufete, Tinta da Barca, Donzelinho, Tinta Amarela, Touriga
Nacional e Touriga Franca), que estagiou dois anos em barricas novas
de carvalho francês. É um vinho vigoroso, taninoso, com frescura, que
vai durar longos anos na garrafa. Apenas serão comercializadas 3 000
garrafas desta colheita, quantitativo que não será ultrapassado em
futuras declarações deste Legado, que surgirá sempre que a equipa de
enologia assim o entender. Depois do Porto Ferreira Vintage 1952 e do
Sandeman Porto Tawny 40 anos com que se fechou a noite, o que me ficou
de decisivo neste encontro é que o Legado da Sogrape é esta empresa
familiar modelar, de sucesso continuado, que tem animado a economia
portuguesa.
Mais Sograpes existissem, no sector dos vinhos como noutros sectores
da economia, e não seriamos cercados por aquela massa de nevoeiro que
nos impõe a austeridade.
O vinho da semana
Tinto
Sogrape Legado Douro 2008 €75
http://visao.sapo.pt/o-legado-da-sogrape=f652750#ixzz1pSCBa35H

Sem comentários:

Enviar um comentário