segunda-feira, 12 de março de 2012

Vamos conseguir alimentar o mundo daqui a 20 anos?

09.03.2012 - 13:43 Por Alexandra Prado Coelho
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Aumento dos preços dos alimentos em 2008 e 2009 tornaram ainda mais
premente este debate (Foto: João Henriques/Arquivo)
A Fundação Gulbenkian e o PÚBLICO iniciam nesta sexta-feira um ciclo
de conferências sobre o futuro da alimentação, para pensar nas
mudanças na agricultura e nas nossas dietas. Como produzir mais e
desperdiçar menos?

Um mundo em que cada vez mais gente come carne, uma pressão crescente
sobre os cereais que alimentam os animais, solos a ficarem esgotados,
seca, recursos hídricos a serem explorados até ao limite e, ao mesmo
tempo, desperdícios de alimentos na ordem dos 30% a 50%. Como vamos
conseguir, no futuro, alimentar a população mundial?

A pergunta é o ponto de partida para um ciclo de conferências
organizadas pela Fundação Calouste Gulbenkian/PÚBLICO, intitulado O
Futuro da Alimentação - Ambiente, Saúde e Economia. A primeira,
Enquadramento Global da Produção e do Consumo de Alimentos, com o
especialista britânico Charles Godfray, professor da Universidade de
Oxford, acontece hoje, às 17h30, na fundação, em Lisboa, e a entrada é
livre.

As subidas dos preços dos alimentos a que assistimos em 2008 e 2009
tornaram ainda mais premente este debate. "A questão da qual partimos
tem que ver precisamente com a nossa capacidade para alimentar um
mundo com nove ou dez mil milhões de pessoas", explica José Lima
Santos, que coordenou o ciclo de conferências. "Isto prende-se com
alterações climáticas, mas também com mudanças nas dietas alimentares.
No Brasil, na China, na Índia, as pessoas estão a mudar a alimentação,
a consumir mais carne, o que causa uma pressão muito maior sobre a
procura de cereais."

"Vai ser necessário produzir muitos mais alimentos até 2030", o ano em
que, segundo o especialista britânico John Beddington, vamos assistir
a uma "tempestade perfeita" devido à escassez de água, energia e
alimentos. O problema, prossegue Lima Santos, é que "a produtividade
dos cereais por hectare está a aumentar de forma cada vez mais lenta".

A este cenário soma-se a questão do preço do petróleo, "muito
importante para a produção de alimentos", e a falta de água. "Temos na
África Subsariana, mas sobretudo no Norte da Índia e na China, zonas
altamente povoadas em que os níveis de esgotamento dos recursos
hídricos são brutais e os aquíferos estão a ser perfurados em níveis
impensáveis", alerta o professor do Instituto Superior de Agronomia.

É preciso, portanto, pensar no assunto e procurar soluções. E estas
passam por onde? "Até agora", diz Lima Santos, "os aumentos de
produção agrícola dependeram integralmente ou do aumento do uso de
água e energia para fabricar adubos ou pesticidas ou da expansão de
terra cultivada".

A dependência nacional

A partir daqui, as soluções têm de ser diferentes. Algumas passam pela
tecnologia e, aí, a tendência será para investir menos na planta
geneticamente modificada, super-resistente, e mais na "optimização do
funcionamento dos ecossistemas", recuperando "muitas ideias dos
sistemas tradicionais de agricultura" mas "utilizando mais
intensivamente a ciência".

"Outro dos ajustamentos que temos de fazer é ao nível das dietas." Mas
não é simples, porque "a nossa alimentação não é meramente biológica,
é cultural" - daí que uma das conferências deste ciclo seja sobre
"cultura e ética". "Há um compromisso ético sem o qual estas questões
não se resolvem." E aí entra a questão do desperdício - em relação à
qual vai ser apresentado na conferência de Dezembro um estudo
realizado em Portugal.

A situação de Portugal vai, aliás, estar presente em todo o ciclo. "O
problema é global, mas queremos também perceber as implicações que tem
para Portugal", um país que "raramente, se é que alguma vez, foi
auto-suficiente em alimentação". Portugal importa grande parte do que
consome. "Temos cerca de 30% de dependência do exterior, mas o facto é
que nunca fomos auto-suficientes, excepto em dois anos da campanha do
trigo, na altura do Estado Novo, mas isso foi feito à custa de uma
degradação enorme dos solos, o que era insustentável." Para começar a
pensar o assunto, a conferência de hoje inclui também uma intervenção
de Arlindo Cunha, ex-ministro da Agricultura, sobre a Política
Agrícola Comum e a globalização.

Conferências até Dezembro

O objectivo da Fundação Gulbenkian/PÚBLICO ao organizar uma série de
conferências sobre alimentação é "antecipar um dos problemas que mais
profundamente marcarão a nossa sociedade" no futuro. O ciclo que hoje
se inicia terá outras seis conferências até ao final do ano. A
seguinte, a 11 de Abril, tem como tema Alimentação e Saúde e inclui um
workshop sobre Alimentação em Tempo de Crise.

A 17 de Maio, o tema será Alimentação e Desenvolvimento e, em Junho
(dia 14), Alimentação e Economia (com workshop sobre casos de sucesso
na área alimentar).

Depois de uma interrupção, o ciclo regressa em Outubro (dia 16) com
uma conferência sobre Alimentação, Ambiente e Pescas; em Novembro (dia
2) com Alimentação, Agricultura e Ambiente. E termina em Dezembro (dia
13) com um debate sobre Alimentação, Cultura e Ética, que inclui um
workshop com a apresentação de um estudo sobre desperdício alimentar
em Portugal.

http://www.publico.pt/Sociedade/vamos-conseguir-alimentar-o-mundo-daqui-a-20-anos-1537058?all=1

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