segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Industriais do leite criticam estudo sobre o preço do leite

MARGARIDA MADALENO 25/02/2013 - 15:02
Estudo do Ministério da Agricultura acusado de nõ reflectir a
realidade do preço do leite ao longo de toda a cadeia de
abastecimento.


HELENA COLAÇO SALAZAR

A Associação Nacional dos Industriais de Lacticínios (ANIL) e a
Federação Nacional das Cooperativas de Produtores de Leite (Fenelac)
criticaram um estudo sobre os preços do leite ao longo da cadeia de
abastecimento feito pelo Ministério da Agricultura que dizem não
corresponder à realidade.

Em Dezembro, o Grupo de Planeamento e Políticas do Ministério da
Agricultura, divulgou um relatório que concluia que o preço das
rações, um dos principais custos de produção do leite, aumentou 6,6%
entre 2005 e 2011. Um aumento que representa dez vezes mais do que o
preço pago aos produtores. E sublinhava que "esta evolução revela a
incapacidade de refletir as grandes subidas dos custos inerentes à
atividade agrícola nos anos mais recentes, traduzindo-se numa
diminuição das margens ligadas à produção".

Este estudo, intitulado"Índices de Preços na Cadeia de Abastecimento
Alimentar para o sector do Leite" foi elabora no no quadro de
actividades da PARCA (Plataforma de Acompanhamento das Relações na
Cadeia Alimentar) que tem como objectivo promover a transparência ao
longo da cadeia alimentar.

Mas as organizações do sector discordam das conclusões e da
metodologia usada, acusando o estudo de colocar a indústria de leite
numa posição mais favorável do que a realidade ao publicar dados
difíceis de ratificar. "Este documento apresenta falhas metodológicas
graves que condicionam todo o estudo e que dão origem a constatações
distorcidas e muito distantes da efectiva repartição do valor ao longo
da cadeia", dizem.

Em concreto, a ANIL e Fenelac afirmam que os preços à saída de fábrica
referidos no estudo refletem apenas um valor máximo possível e não a
realidade.

De acordo com o relatório, o preço do leite embalado à saída da
fábrica tem vindo a aumentar cerca de 15% desde 2005. Porém, os
verdadeiros preços recebidos pelas empresas fornecedoras de leite são
impossíveis de se saber devido à "larga diversidade de descontos
contratuais e extra-contratuais" exigidos pelas lojas, dizem as
organizações, em comunicado.

"Em verdade o conceito de preços à saída de fábrica não existe e, pelo
menos no sector de lacticínios, os preços
comunicados são bastante superiores aos preços líquidos efectivamente
recebidos pelas empresas, o que distorce
completamente a análise efectuada", acrescenta o comunicado.

O estudo e as suas conclusões "colocam a indústria numa posição muito
mais favorável do que a que efectivamente se verifica", sublinhando
que "as próprias autoridades têm constatado sistematicamente um
comportamento desleal da moderna distribuição e predatório ao nível
dos preços e margens que pratica."

Em Janeiro de 2012, por exemplo, o Continente vendeu leite a 13
cêntimos por litro – cerca de 20 cêntimos abaixo do preço corrente.
Embora Portugal produza leite suficiente para o mercado nacional, o
Continente terá adquirido o leite em Espanha abaixo do custo de
produção, levando a ANIL e Fenelac a acusar a grande superfície de
pactuar com dumping: "Fica evidente que o único objectivo das
importações de leite é a destruição de valor e das marcas comerciais
nacionais e, em última análise, o aumento dos lucros da distribuição,
nem que para tal milhares de produtores de leite e as suas famílias
declarem falência".

Assim, o comunicado acusa o relatório governamental de ignorar a
realidade da indústria láctea e de tirar conclusões que são
"manifestamente contraditórias" às de outros estudos, concretamente os
da Autoridade da Concorrência.

http://www.publico.pt/economia/noticia/industriais-do-leite-criticam-estudo-sobre-o-preco-do-leite-1585723

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