segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

O murchar das palmeiras

OPINIÃO

HELENA FREITAS 06/02/2013 - 16:12
Controlar e assegurar a sanidade dos materiais de propagação e
monitorizar e erradicar as doenças não é possível sem recursos
técnicos adequados.

Nos últimos tempos, em especial quem vive nas cidades tem sido
surpreendido com a mortalidade de muitas palmeiras, que subitamente
desaparecem das praças e das ruas da cidade, ou dos jardins de algum
vizinho.

Alguns terão mesmo respondido com mágoa a um mandado irrefutável,
sendo obrigados a abater palmeiras agonizantes que ornamentavam há
muitos anos os seus jardins.

De uma forma ou de outra, percebemos que há um problema grave com as
palmeiras, e a própria imprensa tem feito divulgação das ocorrências e
da doença que as afecta. Neste caso, o flagelo fica a dever-se à
voracidade de um insecto não originário da Europa (Rhynchophorus
ferrugineus), que ataca um vasto leque de palmeiras, as quais
tipicamente usamos para ornamentar as avenidas e jardins de muitas
cidades do país.

Este insecto já está presente em todos os países mediterrânicos e
ameaça condenar a esmagadora maioria das palmeiras nesta região. A
gravidade e o potencial de expansão desta doença determina que as
palmeiras importadas de países terceiros afectados devem ficar em
quarentena, para que as autoridades possam actuar, detectando
eventuais sinais precoces da doença.

Este é um procedimento normal na prevenção da disseminação de doenças
e está naturalmente previsto para as plantas. Todavia, controlar e
assegurar a sanidade dos materiais de propagação e monitorizar e
erradicar as doenças não é possível sem recursos técnicos adequados.

Tendo em conta a escassez de meios de que dispomos, pode admitir-se
que se trata de uma situação de algum modo fora de controle.

Sendo a eficácia da praga quase garantida, e tendo em conta a escassez
de meios de que dispomos, pode admitir-se que se trata de uma situação
de algum modo fora de controle, pois está muito dependente do
conhecimento e vigilância das pessoas e da pronta actuação das
autoridades com responsabilidade nestas áreas.

Embora de natureza distinta, destaco uma outra praga que se disseminou
recentemente no país, com grave impacto económico, e que a maioria dos
portugueses acompanhou: a do nemátode-da-madeira-do-pinheiro ou
murchidão-dos-pinheiros. Esta última deve-se à actuação da espécie
Bursaphelenchus xylophilus, levando à morte do pinheiro num intervalo
de poucas semanas ou meses. Os sintomas traduzem-se no rápido
amarelecimento das agulhas, até atingirem uma cor
vermelho-acastanhada, bem como uma súbita redução da produção de
resina. A propagação do nemátode e a infecção de novas árvores depende
de um insecto-vector.

Recordo estas duas situações de calamidade associadas à mortalidade de
espécies vegetais, sendo uma espécie de interesse ornamental e uma
espécie florestal com forte impacto económico, mas podia citar muitas
outras, em particular as doenças que nunca deixam de ameaçar sectores
vitais da nossa economia, como a fruticultura nacional ou mesmo o
importante sector do vinho.

Ao fazê-lo, tenho dois propósitos: por um lado, manifestar a
preocupação que tenho com a perda de recursos e competências do Estado
para monitorizar e resolver situações fitossanitárias que são cada vez
mais complexas, entre outras coisas, porque as causas também o são, e,
por outro, chamar a atenção para a necessidade de pensar os
ecossistemas e as espécies seleccionadas em meio urbano, não apenas
pela sua expressão estética ou por conveniência de momento, mas também
na perspectiva de se evitarem espécies mais susceptíveis às pragas, o
que acontecerá mais facilmente quando a escolha se sustenta numa
importação pouco cuidadosa de espécies exóticas, tantas vezes
desadequadas aos espaços que as acolhem.

http://www.publico.pt/ecosfera/noticia/o-murchar-das-palmeiras-1583530

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