Preço da aguardente dispara e arrasta vinho do Porto
Caves de vinho do Porto
José Mota
25/05/2013 | 00:00 | Dinheiro Vivo
Os produtores de vinho do Porto estão a perder milhões - os custos
dispararam, uma vez que o preço da aguardente, que é usada para
fortificar o seu vinho, mais que duplicou desde 2011, mas não podem
aumentar os preços ao consumidor para não perderem mais quota de
mercado. E o pior é que, como cada vez há menos vinho para destilação,
devido a um aumento da procura e à quebra na produção, estão a ser
obrigados a reservar e a pagar já a aguardente da próxima vindima.
Adrian Bridge, CEO da The Fladgate Partnership, dona da Taylor's,
Fonseca e Croft, adiantou ao Dinheiro Vivo que, em média, a aguardente
está a custar 3,70 a 4 euros/litro, quando em 2012 rondava 2,55 e um
ano antes não excedia 1,60 euros. A subida de preço obrigou a reservar
já em maio a aguardente para setembro, quando em janeiro pagou, como é
habitual, a da vindima passada. Um esforço acrescido numa altura em
que o financiamento bancário não abunda.
"Isto teve um peso de oito milhões de euros no nosso cash flow", diz
Adrian Bridge, acrescentando que só a subida do preço representa um
custo acrescido de um milhão. O que significa mais 20 a 22 cêntimos no
custo de produção de cada garrafa de vinho Porto.
António Saraiva, da Rozès e São Pedro das Águias, aponta um custo
acrescido por garrafa de 20 a 25 cêntimos. Mas garante que não pode
repercuti-lo no preço final. "No ano passado conseguimos um ligeiro
aumento, até por via da escassez de stocks. Claro que não foi
suficiente para cobrir a subida de custos dos produtos secos
[garrafas, rolhas...], mas o vinho do Porto não é um artigo de
primeira necessidade e, na atual conjuntura, se as margens já não
estavam famosas, pior ficam." Recorde-se que o vinho do Porto conta
com uma adição de aguardente de 20% a 22%, em média.
E a que se deve este inflacionar dos preços da aguardente vínica? Por
um lado, à decisão de a UE de pôr fim às ajudas à destilação do álcool
de boca, por outro, a dois a três anos de colheitas extremamente
pequenas quer na Europa quer no novo mundo vitícola, o que fez
desaparecer 'stocks' e escassear o vinho de mesa para destilar.
A isto soma-se "uma quebra nas culturas de cereais para produção de
álcool para bebidas espirituosas no Leste europeu, que provocou também
uma maior procura de vinho para destilação", refere Jorge Dias. O
diretor-geral da Gran Cruz Porto estima em mais de 11 milhões o
sobrecusto destes aumentos para o conjunto do sector, em 2012, e em
6,5 milhões este ano.
Apesar de tudo, a pressão especulativa já baixou um pouco, garante
Adrian Bridge. Em janeiro, a aguardente chegou a atingir 4,10
euros/litro, mas "um terço da produção da vindima de La Mancha ficou
por vender e foi absorvida para destilar, o que baixou um pouco os
preços".
"As empresas já estão com margens extremamente reduzidas, fruto da
quebra de preços que se assistiu, sobretudo entre 2007 e 2011", diz
Jorge Dias. Este ano conseguiram transferir para o mercado uma parte
do sobrecusto (cerca de 5%), mas no próximo é necessário subir
novamente os preços. "Vamos ver se conseguimos...", diz.
Mais otimista está o maior grupo português de vinhos, a Sogrape, que
acredita que a situação da aguardente já estabilizou. Fonte da empresa
reconhece que o custo no ano passado praticamente duplicou, mas
assegura que o agravamento nas suas marcas Ferreira, Sandeman e Offley
foi sobretudo suportado pela Sogrape.
http://www.dinheirovivo.pt/Empresas/Artigo/CIECO160592.html?page=0
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