domingo, 29 de janeiro de 2017

Novas Leis da floresta não pensam nas alterações ao clima


26 DE JANEIRO DE 2017 - 20:50

Especialista em alterações climáticas critica falta de horizonte das leis florestais.

Foto: Gerardo Santos / Global Imagens
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O investigador Filipe Duarte Santos considerou hoje que a reforma da legislação florestal foi criada sem ter em conta as alterações climáticas que poderão mudar muito o tipo de clima de boa parte do sul do país.

"É surpreendente que este pacote legislativo, que é bem vindo e tem muitos aspetos positivos, não tenha tido em conta logo de início aqueles departamentos da administração central que têm a responsabilidade da adaptação às alterações climáticas", afirmou à Agência Lusa, à margem de uma conferência sobre investigação florestal.

Falando no Instituto Superior de Agronomia, em Lisboa, Filipe Duarte Santos afirmou que "daqui a 50, 60 anos, o clima vai ser diferente", o que se deve refletir nas novas florestas que estejam e venham a ser plantadas, uma vez que "a floresta é um investimento a longo prazo".

"Quando se faz uma política florestal tem que se ter um horizonte temporal de 40 ou 50 anos", afirmou, referindo-se ao pacote de legislação aprovada em Conselho de Ministros em outubro passado.

No sul do país, por exemplo, "a floresta é vulnerável, sobretudo o montado", que desde há cerca de 50 anos tem cada vez menos chuva anualmente.

"Se continuar o decréscimo de precipitação e o aumento das temperaturas, as condições, que já não são ótimas, vão degradar-se e é necessário ter isso presente", defendeu, acrescentando que a floresta pode adaptar-se, mas que a ação humana também pode ajudar.

O catedrático da Universidade de Lisboa afirmou que "as pessoas que estão a investir na floresta e a plantar novas florestas têm que ser informadas sobre as condições climáticas futuras, até por uma questão económica".

Filipe Duarte Santos, especialista em Geofísica e Física Nuclear, apresentou projeções que, no pior dos cenários de continuado aquecimento global, vão significar que no fim deste século o Algarve e o Alentejo poderão ter um clima desértico, com cada vez menos caudal nos rios, nomeadamente o Tejo.

No plano internacional, considerou que "a China vai liderar o combate às alterações climáticas", quer por a sua economia se basear no carvão e ser extremamente poluente, quer por estar cada vez mais sujeita a fenómenos climáticos extremos.

"Eles têm perfeitamente consciência de que é necessário combater as alterações climáticas", afirmou, lembrando a primeira intervenção de um Presidente chinês no Fórum Económico Mundial de Davos, e defendendo que é preciso "respeitar um governo que tem esta consciência" e quer "contribuir para que no futuro o mundo não tenha sittauções graves".

Quanto à atuação do novo Presidente norte-americano, Donald Trump, Filipe Duarte Santos, que foi um dos revisores do relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) das Nações Unidas, considerou que "as notícias não são boas".

"Não sabemos o que Trump vai fazer [aos acordos de Paris contra o aquecimento global]", afirmou, apontando a nomeação para chefe da diplomacia norte-americana do ex-presidente da petrolífera ExxonMobil como sinal da incerteza.

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