segunda-feira, 19 de março de 2012

Produtores locais querem abastecer cantinas escolares

19 de Março, 2012
O presidente da Associação In Loco, Nélson Dias, defendeu hoje que
Portugal deve criar condições para que as cantinas escolares sejam
abastecidas por produtores locais, o que beneficiaria a economia da
região e as crianças.
Nélson Dias apresentou hoje no IV Congresso Português de Alimentação e
Autarquias, que está a decorrer em Lisboa, a experiência do núcleo
'Prove' do Algarve que consiste na venda directa de cabazes com frutas
e legumes da época dos produtores locais aos consumidores.
Em declarações à agência Lusa, o responsável adiantou que tem havido
um crescimento do número de produtores e de consumidores que preferem
comprar através de cabaz, sublinhando que «largas toneladas de
produtos já são escoados por esta forma, que significa criação de
riqueza nessas regiões».
«Num país que tem uma dependência alimentar tão grande como nós temos
do exterior, seja numa situação de crise ou não, faz todo o sentido
incentivar a produção nacional com garantia de escoamento», sustentou.
Para garantir a qualidade da comercialização destes produtos, a
associação tem trabalhado com a Autoridade de Segurança Alimentar e
Económica (ASAE) sobre esta matéria e está agora a discutir com este
organismo a inclusão de outros produtos transformados e de origem
animal no cabaz, avançou à Lusa.

O que está a ser mais difícil é o diálogo com as escolas para
introduzir estes alimentos nas cantinas, o que se deve, segundo Nélson
Rodrigues, a um «problema de enquadramento legislativo».
«Portugal tem de criar as condições para que seja possível garantir o
escoamento da produção local para as cantinas escolares», defendeu.
Apesar de as autarquias serem obrigadas a fazer concursos públicos
para contratar as refeições das escolas, Nélson Dias disse que «é
possível fazer alterações à lei e privilegiar a produção local», como
já acontece em Itália e no Reino Unido.
«É uma questão de vontade política de querer alterar a legislação de
forma a garantir aspectos de discriminação positiva para a produção
local, como por exemplo garantir que os alimentos que chegam às
escolas são frescos e quem consegue garantir isso é a produção local e
não as empresas de catering», frisou.
Com esta medida, resumiu, «saem a ganhar as escolas, os alunos, a
produção local e a economia do país».
O coordenador da Plataforma Contra a Obesidade da Direcção-geral da
Saúde disse à Lusa que actualmente existe «uma grande autonomia para
as escolas, que podem de certa maneira potenciar esta ligação» com os
produtores locais.
«Há muita coisa em aberto que pode ser pensada, uma ideia que está na
mesa e tem vindo a ser discutida é aproximar os agricultores e quem
produz alimentos da própria escola e das crianças», frisou Pedro
Graça.
Pedro Graça deu um exemplo do que já está a acontecer em muitas
escolas do país, em que são oferecidas peças de fruta às crianças. O
único critério para que isto aconteça é que «a produção venha de
produtores locais para incentivar essa ligação».
Sublinhou ainda que «um momento de crise económica pode ser uma
oportunidade para aproximar os cidadãos do mundo rural e de práticas
alimentares» tradicionais que devem ser incentivadas.
Para a nutricionista Isabel do Carmo, «as organizações autónomas
locais podem ser a solução» para ultrapassar a crise: «Se olharmos
para os números a nível do país dir-me-ão que é uma pequena solução,
mas pode crescer», além de ser «bom para os produtores e para os
consumidores».
O projecto Prove começou em 2004 na Península de Setúbal e já está
presente em 13 regiões do país.
No Algarve, o volume de negócios é de 3.750 euros por semana e de 195
mil euros anuais. Semanalmente, vende-se em média 285 cabazes, dos
quais 180 são biológicos (15 euros) e 105 tradicionais (10 euros).
Lusa/SOL
http://sol.sapo.pt/inicio/Economia/Interior.aspx?content_id=44380

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