segunda-feira, 7 de maio de 2012

Assunção Cristas, a nova cara laroca do Bloco de Esquerda

OPINIÃO

Paulo Gaião
12:10 Segunda feira, 7 de maio de 2012
9 15

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Assunção Cristas e Francisco Louçã estão os dois de acordo: é preciso
regular os descontos do Pingo Doce. Só nos faltava mesmo o Estado
metido nos supermercados. Parece um regresso ao tempo em que havia
cabaz de compras, floristas nacionalizadas e cooperativas comunistas
que vendiam directamente do produtor das UCPs da Reforma Agrária de
1975.A diferença é que aqui os ideólogos da regulação são do CDS e
estão a defender as clientelas de agricultores que costumam colocar o
voto no Paulinho das Feiras, que gosta de visitar o mundo rural de
boné agrícola na cabeça.

No final, quem vai pagar é o consumidor final. As cebolas da reforma
agrária de há 37 anos eram mais caras que na mercearia. Era o imposto
revolucionário. Quando Assunsão Cristas regular e aumentar as margens
de lucro dos agricultores, vamos pagar mais pelo tomate. É o preço de
cada voto agrícola no CDS nas próximas eleições. Se não voltarmos ao
tempo das mercearias onde as senhoras finas das Avenidas Novas
gostavam de se abastecer no senhor António careiro é uma sorte. Nas
declarações que fez ao Expresso, Assunção Cristas não se referiu com
estranheza a "isto do Pingo Doce"?


E há mais clientelas para a direita satisfazer aproveitando o mau
comportamento da populaça no Pingo Doce no dia 1 de Maio (a direita
dos interesses, habituada a um mundo certinho, também não gostou muito
de ver num dia litúrgico da esquerda os trabalhadores pagães no
descontão). A indústria transformadora, onde está o grosso dos
produtos dos hipermercados e os verdadeiros negócios, também vai ser
ajudada pelo Estado com a regulação das margens dos hipermercados.

Louça está no seu papel. Dispara contra a família Soares dos Santos,
sem se importar de favorecer a clientela de Paulo Portas e Assunção
Cristas. É típico dos jogos leninistas, onde Trotsky bebeu. Assunção
Cristas e o CDS é que precisam de ser metidos na ordem pelo PSD e
Passos Coelho. Dão uma machadada no neo-liberalismo, que só é bom
quando não lhe ferem os interesses particulares. E são um mau exemplo
para o governo. Não há ministro que possa hoje defender as suas
clientelas, na saúde, educação, justiça, etc. porque a troika não
deixa. Milhões de portugueses estão a levar pela tabela. Mas os
agricultores de Assunção são mais que os outros.

Descontos cumprem função social

Uma história como o descontão do Pingo Doce, que não dava mais que um
"reality show" televisivo, tornou-se no grande assunto de Estado em
Portugal. Felizmente, a sociedade civil, trata da vida. O problema é
mesmo quando o Estado aparece a querer regular coisas que não deve e
não sabe, no pior momento para o fazer.

Os portugueses sempre tiveram excelente capacidade de reacção às
adversidades. O negócio adaptou-se rapidamente à crise e entrou numa
onda de descontos generalizada (carros, restaurantes, serviços de todo
o género). Como se faz lá fora há muito, onde o dinheiro dá liberdade
e segurança e não é para gastar à doida. Como Álvaro Santos Pereira,
um estrangeirado, bem percebeu. É o descontão que está ainda a fazer
trabalhar a economia. Só é pena que em tempo de vacas gordas os
consumidores que hoje compram com descontos nunca tenham ganho
consciência do seu poder e tenham gasto rios de dinheiros em produtos
inflacionados em vez de lutarem pelo seu preço justo, não os comprando
e fazendo-os os descer. O descontão nos hipermercados cumpre hoje uma
função social e funciona como válvula de escape contra a pressão da
crise e a eventual revolta social. Tal como acontece com milhares de
pais que estão a ajudar os filhos com os seus salários e pensões de
reforma e impedem a sua entrada na falência. Se acabarem com ele, a
crise vai doer mais a toda a gente. Também aos agricultores de
Assunção Cristas, agora iludidos pela ministra de que a crise não é
para eles.

http://expresso.sapo.pt/assuncao-cristas-a-nova-cara-laroca-do-bloco-de-esquerda=f724158#ixzz1uBzpoeDI

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