RICARDO VILHENA 03/02/2013 - 00:00
Há menos adegas cooperativas, mas o sector ainda resiste e quer ser
mais competitivo ADRIANO MIRANDA
Federação Nacional das Adegas Cooperativas diz que o processo foi
natural, hoje o país está a produzir menos vinho do que no passado.
O TECIDO EMPRESARIAL COOPERATIVO
A crise tem sido aziaga para muitas empresas cooperativas portuguesas.
De acordo com o Instituto dos Registo e Notariado, em 2012, estavam
registadas 4644 cooperativas em actividade. Deste total estão
excluídas 1530 cooperativas registadas como extintas e 251 como
dissolvidas. O total tem vindo a descer: eram 4774 em 2011 e 4882 em
2010.
Em 2012, considerando o mesmo total, que exceptua os registos de
pessoas colectivas extintas ou dissolvidas, havia 357.471 sociedades
por quotas, 116.911 sociedade unipessoais e 31.232 sociedades
anónimas. Em relação a 2011, apenas as sociedades anónimas cresceram.
Nesse ano, os valores eram, respectivamente, 367.806, 109.328 e 31.097
registos.
O INE, baseando-se em dados do Ministério da Justiça, revela que o
pico de dissoluções de cooperativas, entre 2005 e Novembro 2012, foi
atingido em 2010. A evolução é a seguinte: oito dissoluções em 2005,
11 em 2006, 35 em 2007 e 31 em 2008. Em 2009, dá-se o salto para os
três dígitos, com 208, seguindo-se 2010, com 262, 2011 com 174 e 2012
(excepto Dezembro) com 112.
Nos últimos dez anos fecharam 23 adegas cooperativas em Portugal e uma
deixou de laborar uvas, mas os representantes do sector cooperativo
ligado ao vinho e à agricultura acreditam que o modelo empresarial de
cooperativa é resistente à crise e querem torná-lo mais competitivo e
atractivo ao investimento. Os dados são da Federação Nacional das
Adegas Cooperativas (Fenadegas) e sinalizam o fecho de adegas entre as
campanhas vinícolas de 2001/2002 e 2011/2012.
Na década anterior encerram cinco adegas, o que mostra uma aceleração
recente das falências no sector. A Fenadegas tinha 130 cooperativas
ligadas ao vinho associados quando foi fundada, em 1982. Agora, com os
fechos e ainda os processos de união e reintegração de meia dezena de
adegas, restam uma centena na lista.
Costa e Oliveira, secretário-geral da Fenadegas, afasta a ideia de má
gestão como explicação principal. "É uma incompreensão recorrente, à
qual tenho muita aversão, a de dizer que as adegas fecham porque são
geridas por um bando de saloios", critica. Para o responsável, a
evolução histórica ajuda a perceber estes encerramentos: "As adegas
cooperativas surgiram nos anos de 1950, quando os transportes eram
ineficientes, obrigando quase à existência de uma ou mais cooperativas
por concelho. E o país produzia 11 milhões de hectolitros, hoje produz
seis. Com menos vinho produzido, algumas cooperativas tiveram de
fechar."
Costa e Oliveira lembra também o papel da crise e da globalização. "A
crise leva a um esmagamento dos preços em baixa, os produtores esperam
vender o seu vinho premium de seis a nove euros nos Estados Unidos e
lá querem comprar a 20, a 50 cêntimos", exemplifica.
Exemplos de sucesso
O delegado federativo reconhece haver "adegas a mais". "É doloroso ver
uma adega a fechar, mas tem de haver diálogo entre cooperantes para
saber se a existência da cooperativa ainda se justifica", explica.
"Por outro lado, temos adegas de ponta que são exemplos
internacionais", contrapõe.
As cooperativas pesam 46% na comercialização de vinho em Portugal. A
aposta passa agora pela integração, pela venda de produtos em
conjunto. "Já não acredito tanto nas fusões ou uniões, porque da união
de duas não nasce necessariamente uma adega melhor, os produtores têm
é de encontrar entendimentos estratégicos nas suas regiões", defende a
mesma fonte.
Nas vinhas, o tempo é agora de poda. E na Confagri, a confederação que
reúne as cooperativas agrícolas, incluindo a Fenadegas, aposta-se em
podas legislativas. Aldina Fernandes, adjunta da secretaria-geral
desta organização, defende alterações no Código Cooperativo que
permitam "profissionalização e agilidade na governação das sociedades
e acesso a investimento externo".
Com estas mudanças, a Confagri acredita que o sector cooperativo
agrícola "terá mais hipóteses de concorrer com as grande cadeias de
distribuição e a nível internacional".
"O sector tem mostrado muita resistência à crise, e não está provado
que os encerramentos sejam maiores do que no sector privado. A imagem
de que uma cooperativa é uma coisa débil é errada e há muitos exemplos
de sucesso", conclui Aldina Fernandes.
http://www.publico.pt/economia/jornal/encerramento-de-23-adegas-na-ultima-decada-nao-desanima-cooperativas-25997321
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