domingo, 12 de fevereiro de 2012

A internacionalização da agricultura portuguesa

OPINIÃO: José Martino
Fevereiro de 2008
O desenvolvimento da agricultura portuguesa tem que passar pela
internacionalização dos mercados dos seus produtos, sobretudo naqueles
que têm condições edafoclimáticas mais ajustadas que permitam chegar a
produtos com características diferenciadoras, melhor qualidade
gustativa, cujas fileiras aliam competência técnica e gestão
empresarial com organização, rentabilidade e competitividade.
Os mercados internacionais e, com maior preponderância, pela sua maior
proximidade geográfica, o mercado espanhol, têm que assumir um peso
determinante no escoamento das produções agrícolas portuguesas, sob
pena de não se conseguir ultrapassar a diminuta dimensão do mercado
nacional e sobretudo o nosso fraco poder de compra.
O valor acrescentado e a mais valia financeira ganhos pela qualidade
dos produtos nos mercados internacionais são estratégicos para
remunerar a fileira e dar um incentivo adicional à agro-indústria e
produção para se especializarem, incorporarem mais inovação e
trabalharem afincadamente na implementação dos factores
diferenciadores.

A diminuição da pressão da oferta sobre o mercado nacional traz a
vantagem adicional de se conseguir que a distribuição organizada, a
qual domina o mercado em variados sectores, tenha que remunerar melhor
os produtos portugueses caso estes não tenham outras alternativas no
estrangeiro.
Esta nova visão dos mercados internacionais e em particular de Espanha
corresponde a uma mudança de paradigma mental dos agricultores
nacionais e da agro-indústria associada, a qual será, sobretudo, o
resultado do processo da assumpção de que o espaço geográfico ibérico
é o mercado natural dos produtos agrícolas portugueses.
O planeamento e a estratégia da produção têm que dar resposta para
chegarmos e estarmos com as nossas marcas doze meses por ano nos
mercados internacionais. Para tal vai ser necessário que as empresas
portuguesas tenham explorações agrícolas no hemisfério sul para
poderem tirar partido das produções em contra-estação.
O primeiro passo para abordar de forma sistemática e coerente a
internacionalização da agricultura portuguesa passa pela elaboração
dos Planos Estratégicos de Fileira, sub-fileira ou produto. São
instrumentos privilegiados de diagnóstico, quer pela análise do
"estado da arte" a nível global na sua vertente de "análise externa",
quer ao nível de Portugal no capítulo da análise "interna". Por outro
lado, definem e clarificam os objectivos atingir nos próximos seis
anos, assim como traçam os respectivos planos de acção e conjugam-nos
com os respectivos orçamentos de execução.
A "análise externa" resulta do conhecimento aprofundado do que se
passa em todos os países produtores, independentemente de serem nossos
concorrentes directos ou não. Desde a produção, à agro-indústria até
aos mercados temos que trabalhar para possuir quer por pesquisa à
distância, quer por cantacto directo, a informação actualizada e
eficaz que mostre a realidade nua e crua com que os portugueses têm
que se bater para conquistarem os mercados internacionais.
Temos que fazer o mesmo trabalho para Portugal ultrapassando as
limitações que sempre apontamos de ausência de dados ou a sua fraca
fiabilidade. Quando realmente queremos fazer bem e ter sucesso os
resultados aparecem.
A discussão alargada do diagnóstico pelos membros de cada fileira é
factor chave de sucesso para se traçarem os objectivos correctos e se
apontarem as acções mais adequadas para que sejam atingidos.
O documento tem que fazer a orçamentação correcta, a identificação das
fontes de financiamento das acções e a definição da estrutura/equipa
responsáveis pela coordenação do Plano, para que a sua implementação
venha a ser no futuro um caso de sucesso.
A fase seguinte passa por comunicar, de forma eficaz, as linhas
mestras do Plano Estratégico de Fileira, quer para o interior da
respectiva fileira, quer junto dos poderes públicos, tendo como
objectivo fazer que a conjugação de esforços e a cooperação dos
membros da fileira sejam efectivas, assim como na obtenção dos apoios
financeiros adequados para se desenvolverem as acções que levem à
conquista dos mercados internacionais.
http://josemartino.blogspot.com/2008/02/internacionalizao-da-agricultura.html

Sem comentários:

Enviar um comentário