terça-feira, 15 de setembro de 2020

Agricultura prepara futuro com agenda ambiciosa


14.09.2020 às 18h38

Os oradores dos debates da Agroglobal destacaram a importância de fazer uma aposta forte, e de longo prazo, na modernização e sustentabilidade do sector agrícola

TIAGO OLIVEIRA
Dez anos. É o tempo que a Agenda da Inovação para a Agricultura 2030 — proposta pelo Governo e apresentada ontem (9 de setembro) na Agroglobal pela ministra Maria do Céu Antunes — define para mudar estruturalmente o sector em Portugal e deixá-lo mais capaz de enfrentar o que vai surgir ao longo do caminho. "Esta agenda surge", explica, porque "temos consciência dos desafios que temos pela frente, desde as mudanças climáticas à alteração de modelos de consumo e da digitalização".


São apenas algumas das dimensões do documento, que aparece numa fase em que o sector teve que enfrentar o teste da pandemia e foi elogiado pela resiliência que demonstrou. Mas, mais do que ser capaz de resistir, pedem-se respostas efetivas que permitam à agricultura portuguesa prosperar e tornar-se mais competitiva, sem olhar só para o curto prazo. E mesmo perante o obstáculo covid-19 há uma base de bons resultados recentes que permite preparar o futuro.


Os dados mais recentes apontam para um crescimento das exportações de 0,4% no primeiro semestre deste ano, em comparação com o período homólogo, o que, apesar de significar um abrandamento, mantém uma trajetória de subida que se conservou praticamente ininterrupta nos últimos 10 anos. "Ao longo da última década, as exportações agroalimentares cresceram a uma média de 5% e representaram 11% do total das exportações de bens no ano passado", acrescentou o primeiro-ministro, António Costa, no arranque da conferência. Com a ressalva de que a pandemia continuará a pairar sobre a economia por tempo indeterminado e a incerteza, mesmo perante bons sinais, merece algumas reservas.


Regista-se uma "evolução positiva da agricultura nas últimas décadas", mas os resultados podiam ser melhores, menciona Francisco Avillez. No que diz respeito ao "valor de produção", por exemplo, "temo-nos mantido praticamente estagnados nos últimos 10 anos", revela o coordenador científico da Agro.ges. Os "desequilíbrios territoriais advêm hoje em dia da falta de capacidade de tirar mais rendimento dos recursos endógenos", defende o presidente da Comissão Científica do Fórum Futuro Gulbenkian, Miguel Poiares Maduro, com a certeza de que só "se pode transformar o ciclo vicioso num ciclo virtuoso" se houver uma aposta séria na criação de condições que permitam "atrair massa crítica".


"Autonomia estratégica"
Por isso surge agora este plano, que começou a ser elaborado em dezembro de 2019, que, mais do que "um mero instrumento de utilização de fundos públicos", quer funcionar quase como um mapa estratégico assente em metas concretas em cinco desafios, que pode conhecer melhor na coluna ao lado. Numa fase em que as alterações climáticas põem em risco a mera existência do sector, Maria do Céu Antunes coloca a tónica na necessidade de pensar a longo prazo. "Atualmente temos um grau de autoaprovisionamento geral de 85%", com sectores como o dos cereais panificáveis a não chegar "aos 4%". Para a ministra, é essencial "garantir um nível mínimo de produtos que assegure a nossa autonomia estratégica".


A meta de aumentar o valor da produção agroalimentar em 15% foi um dos mais discutidos na conferência e é visto como essencial para cimentar esta intenção de transformação estrutural. "A única forma de fazer isto funcionar é através da inovação", garante o diretor da Nova SBE, Daniel Traça, ao passo que António Costa Silva — presidente da Comissão Executiva da Partex Oil and Gas e responsável pelo documento "Visão Estratégica para o Plano de Recuperação Económica de Portugal 2020-2030" — não tem dúvidas de que "temos que ter mais materiais orgânicos e transformá-los em riqueza". "Acho que isso é possível", atira, antes de deixar um aviso "polémico" à navegação: "Nós, o povo português, somos excecionais a responder à anormalidade e somos medíocres quando há normalidade." Algo que tem de mudar.


Trata-se de um esforço que "vai exigir uma grande concertação e atenção a tudo o que são oportunidades para colocar em prática esta agenda", com a ministra a destacar a importância de trabalhar na ótica da política comunitária. Portugal vai assumir a presidência do Conselho da União Europeia no primeiro semestre de 2021 e Maria do Céu Antunes não esconde que "concluir a reforma da PAC [Política Agrícola Comum]" é o grande objetivo para este período. Reforçando a vontade de que esta agenda sobreviva e seja um elemento agregador que traga uma nova geração para os campos, que bem precisam, com a média de idade dos agricultores a superar os 55 anos. "Temos muito trabalho e muitas coisas a fazer juntos", apontou o ministro da Agricultura de Espanha, Luis Planas, para quem é essencial "assegurar que todos consigam ter rentabilidade empresarial" e perceber que "passar de uma economia linear para uma economia circular" representa uma "oportunidade que não deve ser desperdiçada".

Essa é também a opinião de Humberto Rosa, diretor para o Capital Natural D-G Ambiente da Comissão Europeia, que fala da "segurança alimentar" como uma "prioridade absoluta" e da estratégia Biodiversidade 2030 da UE como um instrumento que "pode fazer a diferença no uso do terreno agrícola". Metas como estabelecer áreas protegidas em, pelo menos, 30% das terras na Europa ou reduzir os efeitos prejudiciais dos pesticidas em 50 % até 2030 são vistas como essenciais. A dificuldade é agora passar das intenções à prática, mas António Costa deixa um voto de confiança. "Ao contrário do que muitos dizem, a agricultura não é uma atividade do passado. Tem um grande futuro. Enquanto houver seres vivos, vão ter que se alimentar."

MELHORES FRASES
"O mundo tem enfrentado desde fevereiro deste ano 
um desafio enorme. Muitos pararam, mas outros não puderam parar e mantiveram-se em plena atividade, 
entre eles o mundo agrícola. Asseguraram que, do prado 
ao prato, nada 
nos tivesse faltado"
António Costa
Primeiro-ministro

"Não há golpes 
de magia para resolver 
o problema das alterações climáticas. Será uma soma de pequenas, médias 
e grandes vitórias 
para contribuir 
para esse objetivo"
Joaquim Pedro Torres
Responsável pela Agroglobal


"Não sou muito 
otimista quanto 
à forma que se quer 
que estas iniciativas funcionem, o que 
não quer dizer que 
não considere notável. 
É fundamental 
que esta rede de inovação seja eficaz"
Francisco Avillez
Coordenador científico da Agro.ges

A agenda de inovação 2030
SAÚDE E DIETA
O plano do Governo a dez anos 
para a agricultura — apresentado pela ministra da pasta, Maria do Céu Antunes, na Agroglobal — pretende valorizar o consumo dos produtos 
de época e das cadeias curtas 
de distribuição, com a meta 
de aumentar, em 20%, o nível 
de adesão à dieta mediterrânica.


INCLUSÃO E INTERIOR
Potenciar a atração de mais jovens para os territórios rurais e para 
a atividade agrícola, com a meta 
de instalar 80% dos novos jovens agricultores nos territórios do interior, com menor densidade.


MAIS RENDIMENTOS
Criar melhores condições 
para o aumento do rendimento 
para os produtores, de forma a tornar a atividade agrícola mais rentável, com a meta de aumentar o valor 
da produção agro-alimentar em 15%.


FUTURO SUSTENTÁVEL
Apostar num melhor aproveitamento dos produtos endógenos e 
da atividade do sector, com a meta 
de atingir mais de 50% da área agrícola em regimes de produção sustentável reconhecidos.


INOVAÇÃO E INVESTIGAÇÃO
Privilegiar a introdução de novas tecnologias no sector agrícola 
e ao mesmo tempo garantir a capacitação de todos, com o objetivo de aumentar, em 60%, o investimento em investigação e desenvolvimento.


PORTAL ÚNICO
Vai ser criado uma plataforma 
de ligação com o Governo que simplifica o acesso dos produtores 
à resolução de problemas.


REDE DE 24 ESTAÇÕES
A agenda contempla a criação 
de uma rede de 24 estações espalhadas pelo país, cada 
uma dedicada a fileiras específicas 
no território onde se insere.

domingo, 13 de setembro de 2020

Agricultura estabelece metas de dez anos na Agroglobal 2020


11.09.2020 às 17h48


Projetos Expresso. A apresentação da "Agenda de Inovação para a Agricultura 2030" por parte da ministra da Agricultura, Maria do Cêu Antunes - com a presença de António Costa na plateia - marcou o último dia de debates da maior feira profissional do sector, que conta com o apoio do Expresso

"O investimento é crítico para o futuro. Temos que produzir numa altura em que sabemos que os recursos escasseiam". Palavras de António Costa no último dia da Agroglobal 2020, em que o panorama da agricultura portuguesa e o trabalho que está a ser feito para garantir o seu futuro esteve em discussão ao longo dia. A ocasião foi marcada pela apresentação da "Agenda de Inovação para a Agricultura 2030" por parte da ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, que estabelece um plano a dez anos de transformação estrutural do sector para garantir a sua competitividade e contribuir para a sustentabilidade.

O plano (que pode conhecer em pormenor na edição impressa do Expresso, amanhã nas bancas) foi o ponto de partida para uma conversa durante a manhã que contou com a presença de Francisco Avilez, coordenador científico da Agro.ges; António Costa Silva, presidente da Comissão Executiva da Partex Oil and Gas e responsável pelo documento "Visão Estratégica para o Plano de Recuperação Económica de Portugal 2020-2030"; Miguel Poiares Maduro, presidente da Comissão Científica do Fórum Futuro Gulbenkian; e Daniel Traça, diretor da Nova SBE. A abertura ficou a cargo do presidente da Câmara Municipal do Cartaxo, Pedro Ribeiro; e do responsável pela Agroglobal, Joaquim Pedro Torres, com o ministro da Agricultura de Espanha, Luis Planas, também a fazer questão de estar no certame.

Já da parte da tarde, o foco esteve na estratégia comunitária para a promoção de uma agricultura mais eficaz e promotora da biodiversidade e teve as intervenções de Eduardo Diniz, diretor-geral do Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral; Wolfgang Burtscher, diretor-geral da European Commission's Directorate-General for Research and Innovation; Humberto Rosa, diretor para o Capital Natural D-G Ambiente da Comissão Europeia; Paula Carvalho, subdiretora geral da Direção Geral de Alimentação e Veterinária; e Fernando Miranda Sotillos, secretário geral de Agricultura e Alimentação de Espanha.

Conheça as principais conclusões do dia:

POPULAÇÃO
Urge preparar o sector para o aumento de população e necessidades alimentares que vão surgir. "Nos próximos 30 anos, temos que produzir mais 70% de alimentos, segundo a FAO", diz Joaquim Pedro Torres
Especialistas pedem que o foco seja colocado mais na qualidade do que na quantidade de produção
"Somos [Portugal] deficitários em muitos alimentos essenciais para o nosso consumo", lembra Paula Carvalho
BIODIVERSIDADE
Fazer do sector um interveniente consciente e promotor da biodiversidade ambiental é visto como essencial
Temos que "alicerçar a produtividade com a sustentabilidade na agricultura", diz Daniel Traça
Portugal é um dos países que vai sofrer mais com as alterações climáticas desde a escassez de água à erosão da costa. Isto é, se nada for feito
POLÍTICA EUROPEIA
A Política Agrícola Comum (PAC) está a ser revista para ir de encontro a todos estes objetivos
O "Green Deal", a Biodiversidade 2030 e a estratégia do Prado ao Prato foram desenvolvidas para estabelecer metas claras aos estados-membros
Europa quer ser exemplo na agricultura

Costa coloca agricultura "no centro das preocupações"


11.09.2020 13:37 por Lusa0
O chefe do executivo defendeu o papel da inovação no setor, sublinhando que o digital é "tão importante como a enxada".

O primeiro-ministro considerou hoje, em Valada (Cartaxo), que a agricultura tem de ser colocada "no centro das preocupações" e defendeu o papel da inovação no setor, sublinhando que o digital é "tão importante como a enxada".
António Costa falava hoje numa sessão realizada no âmbito da Agroglobal, que se realiza no Mouchão do Esfola Vacas, na freguesia de Valada, concelho do Cartaxo (Santarém), destinada a apresentar a visão estratégica para a agricultura, alimentação e território, aprovada quinta-feira em Conselho de Ministros.

O chefe do executivo afirmou que a visão estratégica proposta por Costa Silva para a próxima década tem como um dos eixos principais a coesão, a agricultura e a floresta, pelo que, na tradução dessa visão em instrumentos de política, foi aprovada na quinta-feira a agenda para a inovação na agricultura, hoje apresentada pela ministra Maria do Céu Antunes.

No âmbito da visão estratégica para o país na próxima década, "a primeira prioridade foi aprovar uma agenda para a inovação na agricultura", salientou.

Frisando que "a inovação vai ter um papel fundamental para continuar a assegurar que a alimentação contribui cada vez mais para uma melhor saúde, para assegurar uma maior coesão territorial e maior sustentabilidade ambiental", Costa sublinhou que o digital "não é o oposto do trabalho agrícola".

"Cada vez mais as tecnologias da informação são uma ferramenta de trabalho tão importante como a enxada para o trabalho agrícola", declarou.

Salientando o papel da agricultura, sobretudo no período de confinamento devido à pandemia da covid-19, Costa quis deixar um agradecimento aos agricultores "pela sua capacidade de se terem mantido em atividade e assegurado que nada faltasse na alimentação dos portugueses".

Costa afirmou ter feito questão de apresentar a agenda para a inovação na agricultura na Agroglobal, certame que tem dado "um grande contributo para a inovação no mundo agrícola".

Para o primeiro-ministro, foi graças à inovação que Portugal reduziu, na última década, em cerca de 400 milhões de euros por ano o seu défice alimentar e que viu crescer as exportações no setor agroalimentar, em média, 5% ao ano.

Em 2019, referiu, as exportações do setor representavam 11% da totalidade da exportação de bens no país, sendo os produtos agroalimentares portugueses colocados em 185 mercados, mais de 50 abertos nos últimos cinco anos.

Costa apontou a estratégia da União Europeia para a recuperação pós pandemia, assente no reforço da resiliência e do acelerar da dupla transição digital e climática, salientando que, nos últimos meses, ficou claro que não é possível ficar dependente de cadeias de valor globalizadas, em que a interrupção num elo leve à rutura de abastecimento de bens essenciais.

"Por isso, a Europa vai ter de saber produzir mais e melhor", declarou.

quarta-feira, 2 de setembro de 2020

Incêndios. Área ardida aumenta 35% este ano face a 2019


01.09.2020

PAULO CUNHA/LUSA

Dados provisórios do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) indicam que, entre 1 de janeiro e 31 de agosto, deflagraram 7.207 incêndios rurais, que resultaram em 38.647 hectares de área ardida

Aárea ardida aumentou este ano cerca de 35% em relação a 2019, mas 2020 apresenta-se até à data com o valor mais reduzido do número de incêndios florestais da última década, segundo dados provisórios divulgados esta terça-feira.

Dados provisórios do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), a que a agência Lusa teve acesso, indicam que, entre 1 de janeiro e 31 de agosto, deflagraram 7.207 incêndios rurais, que resultaram em 38.647 hectares (ha) de área ardida, entre povoamentos (17.176 ha), matos (15.971 ha) e agricultura (5.500 ha).

"Comparando os valores do ano de 2020 com o histórico dos 10 anos anteriores, assinala-se que se registaram menos 48% de incêndios rurais e menos 57% de área ardida", destaca o ICNF, sublinhando que o ano de 2020 apresenta, até ao dia 31 de agosto, o valor mais baixo em número de incêndios e o quarto mais reduzido de área ardida desde 2010.

Em comparação com o mesmo período do ano passado, o número de incêndios baixou ligeiramente, registando até 31 de agosto menos 592 fogos, enquanto a área ardida aumentou 35,5%.

Segundo os dados do ICNF, este ano os fogos rurais consumiram 38.647 hectares, mais 10.131 do que no mesmo período de 2019, quando as chamas atingiram 28.516 hectares.

O ICNF frisa também que em 2020 os incêndios com área ardida inferior a um hectare são os mais frequentes, representando 87% do total, tendo ainda ocorrido sete fogos com uma área ardida superior ou igual a mil hectares.

Já aqueles que atingiram uma área ardida total igual ou superior a 100 hectares, considerados "grandes incêndios", foram 45 até 31 de agosto, que resultaram em 31.678 hectares de área ardida, cerca de 82% do total.

Os dados provisórios mostram também que, até à data, o mês de julho é aquele que apresenta maior número de incêndios rurais, com um total de 3.143 incêndios, o que corresponde a 44% do número total registado, seguido de agosto, com 2.069 fogos.

No que respeita à área ardida, até à data, julho é também o mês que apresenta maior área ardida, com um total de 20.771 hectares, o que corresponde a 54% do total de área ardida registado no ano.

sábado, 22 de agosto de 2020

Alga reduz em 80% as emissões de metano pelo gado

21.08.2020 às 20h50

Uma empresa criada pela agência nacional científica australiana vai comercializar um aditivo que poderá dar uma contribuição para reduzir o aquecimento global
LUÍS M. FARIA
Um aditivo alimentar à base de uma alga que reduz substancialmente a emissão de metano pelo gado bovino vai ser comercializado por uma empresa criada especialmente para o efeito na Austrália. A empresa, FutureFeed, é uma iniciativa da agência científica nacional, a CSIRO, depois de cinco anos de testes comprovarem os efeitos da asparagopsis taxiformis, a alga em questão.

A diminuição das emissões de metano é importante para combater o aquecimento global, pois essa substância é ainda mais eficaz do que o dióxido de carbono a prender o calor na atmosfera. Nos EUA, cerca de dez por cento dos gases com efeito de estufa referem-se ao metano, com o gado responsável por entre metade e um quarto desse total.

O aditivo funciona inibindo a produção de metano por parte de microorganismos que intervêm durante o processo normal de digestão nos animais. Segundo vários estudos confirmaram (pelo menos um deles, realizado na Penn State University e citado na digitaltrends,com, utilizou alga colhida ao largo dos Açores), um suplemento de não mais do que 0,5 por cento de asparagopsis taxiformis na ração animal reduz em cerca de 80 por cento as respetivas emissões de metano.

Isto acontece sem que o rendimento dos animais seja prejudicado - e até, possivelmente, melhorando-o. A CSIRO estima que, se dez por cento das explorações pecuárias em todo o mundo utilizassem o novo aditivo, o efeito agregado seriam 120 megatoneladas a menos de metano emitidas, o que equivaleria a menos cinquenta milhões de carros na estrada todos os anos.

O aditivo deverá começar a ser comercializado na Austrália em meados do próximo ano, seguindo-se o mercado internacional. Não deverá ser fácil, contudo, atingir os efeitos de escala desejados. Primeiro, porque nem todos os animais parecem apreciar o sabor resultante. Depois, há 1,5 mil milhões de cabeças de gado no mundo, e as algas necessárias não podem simplesmente ser colhidas no oceano, por razões ambientais e não só, tendo de ser cultivadas em explorações próprias.

Por último, não é impossível que os micróbios comecem a adaptar-se ao aditivo e a anular até certo ponto os seus efeitos, como antes sucedeu noutros casos. Os estudos já realizados não bastam para ter certezas quanto a isso.

Estas reservas, expressas por um professor de nutrição aquando da apresentação dos resultados de um estudo no encontro da American Dairy Association o ano passado, não impedem um sentimento geral de otimismo em relação ao potencial do aditivo para ajudar a reduzir as emissões de metano pelo gado. A maioria das quais, contrariamente à ideia comum, têm a ver não com flatulência mas com arrotos.

sexta-feira, 21 de agosto de 2020

CNA e CAP defendem intervenção portuguesa, espanhola e da UE para travar "presunto ibérico americano"


20 ago 2020 17:58

As confederações Nacional da Agricultura (CNA) e dos Agricultores de Portugal (CAP) defenderam hoje a intervenção dos governos português, espanhol e da UE na proteção do porco e presunto ibéricos, a confirmar-se o uso abusivo destas denominações nos EUA.
CNA e CAP defendem intervenção portuguesa, espanhola e da UE para travar
Em causa está a importação, por duas empresas norte-americanas, de porcos pretos da Península Ibérica para fabricarem, nos estados do Texas e da Geórgia, aquilo que designam de "presunto ibérico americano".

Em declarações à agência Lusa, o dirigente da CNA João Dinis considerou que, "a confirmar-se esse tráfico que adultera na origem um produto de qualidade reconhecida – o porco ibérico, uma raça autóctone, e os seus derivados, particularmente o presunto – é mais uma má consequência do sistema".


"É uma situação que é necessário impedir e para a qual devem convergir imediatamente os governos português e espanhol e a União Europeia [UE], para tomarem medidas para impedir mais uma traficância que ameaça a produção nacional e a produção ibérica e uma marca tão apreciada e que deve ser certificada: o porco ibérico e o seu derivado presunto", sustentou.

Salientando que "o credenciado presunto ibérico tem a ver não só com a forma como os animais são gerados, com a sua linha genética (que, no caso de uma raça autóctone, é algo que é preciso assegurar), mas também com o seu 'habitat' e as suas condições de crescimento", João Dinis considerou ser "muito difícil convencer alguém de como se produzem porcos ibéricos nos EUA".



"Isto é uma concorrência altamente desleal. Venha lá o Trump ou deixe de vir, isto tem de ser impedido", sustentou.

E se, para o dirigente da CNA, o atual momento tem de ser "de convergência com Espanha, porque há um perigo muito grande e real" que ameaça os dois países, João Dinis alerta que, numa fase posterior, o Governo português deve pensar em como "acautelar o interesse nacional nesta matéria".

"Agora o momento é de convergência com Espanha, na União Europeia, mas conseguido que seja este desígnio, então também podemos aproveitar a embalagem e passar ao esclarecimento, normatização e defesa do interesse nacional da nossa produção desta raça de porcos perante Espanha, porque isso também está longe de ser uma coisa clara", advertiu.

Também para o secretário-geral da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), Luís Mira, não é o facto de se importarem porcos pretos ibéricos para os EUA que vai substituir a produção autóctone deste animal e dos seus derivados.

"Eles podem levar os porcos pretos para os EUA ou para onde quiserem. Mas isso era a mesma coisa que levar as castas de uva de Champagne ou de vinho do Porto e dizer que é vinho feito nos EUA. Podem fazer um enchido ou um qualquer presunto americano, mas nunca é um presunto de bolota ibérico, porque isso é uma denominação de origem que está protegida", afirmou em declarações à Lusa.

Recordando que a defesa das denominações protegidas do espaço europeu tem sido "uma preocupação da União Europeia nos acordos comerciais que tem vindo a celebrar", Luís Mira considera que, a verificar-se a utilização abusiva nos EUA da designação de origem 'ibérica', "de certeza que as autoridades espanholas, e as portuguesas igualmente, não deixarão de o contestar".

"Eles podem lá ter porcos pretos – até têm, em Las Vegas, as pirâmides do Egito – mas não é aceitável que sejam comercializados como um produto com origem na Península Ibérica, isso é que é inaceitável. Podem chamar-lhe outra coisa qualquer, agora presunto ibérico é que não", afirmou.

Para o secretário-geral da CAP, "se se provar que há comercialização com a denominação 'ibérica' ou de presunto 'de pata negra' (produto com denominação de origem e proveniente de porcos que são alimentados no montado ibérico, tanto em Portugal como em Espanha), há processos na OMC [Organização Mundial do Comércio] e toda uma questão legal que pode ser espoletada".

De acordo com o jornal britânico "The Guardian", a iniciativa de produzir presunto 'ibérico' nos EUA partiu das empresas norte-americanas Acornseekers, na Flatonia, Texas, e Iberian Pastures, no estado da Geórgia, a primeira pertencente a dois espanhóis e a segunda a um hispano-americano.

Estas duas empresas decidiram começar a importar porcos pretos ibéricos para os EUA, com o objetivo de fabricarem o seu próprio "presunto ibérico americano".

"O jogo deles passa por aceder ao mercado americano com melhores condições e preços do que os produtores espanhóis", considera o consultor da indústria de presunto Constantino Martínez, citado pelo diário britânico, antevendo que "vão, depois, começar a exportar para a América Latina e para a Ásia, onde o presunto ibérico é muito popular".

Constantino Martínez acusa o Governo espanhol de inação, ao permitir a exportação de porcos pretos autóctones para os EUA, e destaca que alterar a dieta destes animais - como reivindica que estas empresas estão a fazer, alimentando-os com produtos locais como amendoins, nozes 'pecan' e sementes de girassol - vai alterar o sabor da carne.

Marcas “Porto”, “Port” e “Douro” protegidos no Reino Unido após Brexit

Jornal Económico com Lusa 20 Agosto 2020, 19:04

O instituto público explicou, em comunicado, que na sequência da saída do Reino Unido da União Europeia ('Brexit), apresentou em março de 2019 um pedido de registo de "Douro", "Porto" e "Port" como marcas de certificação, junto do Instituto da Propriedade Intelectual do Reino Unido (UK Intellectual Property Office).

O Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP) anunciou hoje que as denominações de origem "Douro" e "Porto", incluindo a designação "Port", estão protegidas no Reino Unido, após um pedido de registo feito na sequência do 'Brexit'.


O instituto público explicou, em comunicado, que na sequência da saída do Reino Unido da União Europeia ('Brexit), apresentou em março de 2019 um pedido de registo de "Douro", "Porto" e "Port" como marcas de certificação, junto do Instituto da Propriedade Intelectual do Reino Unido (UK Intellectual Property Office).

Gilberto Igrejas, presidente do IVDP, referiu que até à ocorrência do 'Brexit' estas denominações de origem estavam protegidas no Reino Unido ao abrigo da regulamentação Europeia e do sistema de registo europeu de indicações geográficas (eAmbrosia).

Acrescentou que "a incerteza, que a esta data ainda se mantém, quanto à proteção de denominações de origem e indicações geográficas naquele país terceiro exigiu uma atuação preventiva da parte do IVDP".

"Independentemente do resultado das negociações em curso e quanto a esta matéria, Porto, Port e Douro já estão protegidos no Reino Unido", frisou o organismo que tem sede no Peso da Régua.

O registo foi concedido em 10 de agosto para as marcas de certificação "Douro" e "Port" e em 11 de agosto para a marca de certificação "Porto".

O Reino Unido é um importante mercado de exportação para os vinhos da Região Demarcada do Douro.

Segundos dados do IVDP, entre janeiro e junho foram exportados para aquele mercado cerca de 10 milhões de euros de vinho do Porto e 1,9 milhões de euros de vinhos DOP Douro.

O IVDP tem como missão certificar, controlar, proteger e promover as Denominações de Origem Porto e Douro e Indicação Geográfica Duriense em Portugal e no mundo.

sábado, 15 de agosto de 2020

Covid-19: Ministério da Agricultura antecipa 112 milhões de euros do Pagamento Único



Jornal Económico com Lusa 15 Agosto 2020, 12:28
Será igualmente feito um pagamento de 31 milhões de euros na medida de apoio à Produção Integrada e de 11 milhões de euros na medida de apoio à Agricultura Biológica, desde que reunidas as condições regulamentares relativas ao controlo prévio ao pagamento.

O Ministério da Agricultura anunciou hoje o pagamento, durante o mês de agosto, dos adiantamentos das ajudas incluídas no Pagamento Único (PU2020), no valor de 112 milhões de euros, dirigido a cerca de 137 mil beneficiários.

Em comunicado, o Ministério da Agricultura refere que, de acordo com a regulamentação comunitária, será feita uma antecipação extraordinária do pagamento aos agricultores de 70 milhões de euros na medida de apoio à Manutenção da Atividade Agrícola em Zonas Desfavorecidas.

Será igualmente feito um pagamento de 31 milhões de euros na medida de apoio à Produção Integrada e de 11 milhões de euros na medida de apoio à Agricultura Biológica, desde que reunidas as condições regulamentares relativas ao controlo prévio ao pagamento.

Os pagamentos em questão, esclarece o Ministério, são cofinanciados pelo FEADER (Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional) e obrigam a uma antecipação das dotações do Orçamento do Estado no valor de cerca de 25 milhões de euros.

De acordo com o comunicado, este ano, devido à pandemia, o período de candidaturas prolongou-se, de final de maio até 10 de julho, pelo que só a partir desta data puderam começar os trabalhos que habitualmente se desenvolvem entre maio e outubro.

"Foi assim possível, graças a uma extraordinária dedicação e a um enorme esforço do Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas (IFAP), a concretização desta antecipação extraordinária", disse a ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes.

Segundo a ministra, a antecipação pela primeira vez para agosto destas ajudas "é uma forma de reconhecimento do papel importante da Agricultura e dos agricultores portugueses que permitiram que as cadeias de produção e abastecimento em Portugal funcionassem durante todo este tempo difícil e que continuássemos, embora com constrangimentos, a crescer nas exportações".

O adiantamento das ajudas das medidas incluídas no Pedido Único das Ajudas (PU) tem sido pago aos agricultores em outubro, nunca tendo sido processado antes deste mês desde que as atuais regras comunitárias estão em vigor.

As ajudas no âmbito do PU, em 2020, foram aumentadas em 112 milhões de euros face ao ano anterior, valor que corresponde a um aumento de 85 milhões de euros nos pagamentos diretos e 27 milhões de euros na medida de Manutenção da Atividade Agrícola em Zonas Desfavorecidas.

Crise é oportunidade para agricultura portuguesa



Luís Ribeiro, administrador do Novo Banco, considera que a crise dos últimos meses é um desafio, mas também uma oportunidade para o setor da Agricultura
Arecente crise relacionada com a pandemia da Covid-19, bem como as prioridades estratégicas da Europa vertidas no plano de recuperação, é uma oportunidade para as empresas nacionais ligadas à Agricultura. É essa a visão de Luís Ribeiro, administrador do Novo Banco com o pelouro do retalho e do segmento de negócios, expressa em entrevista à EXAME, como parte da parceria relativa às PME Líder.

Temos a perceção de que a Agricultura, enquanto atividade económica, mudou muito nos últimos anos. Confirma esta mudança? A que se deve?

Sim, efetivamente registou uma evolução muito positiva. Temos vindo a assistir a um volume significativo de investimento a par de um rejuvenescimento e crescente profissionalização do setor. Os nossos empresários agrícolas investiram e as empresas ganharam dimensão, apostaram em novas culturas e adotaram técnicas inovadoras. Paralelamente, também se verificou uma melhoria nas cadeias de comercialização e a aposta em novos mercados. Tudo isto contribui para o aumento do peso do setor na nossa economia.

O Novo Banco tem mantido ao longo dos anos uma postura muito próxima do tecido empresarial. Como se posiciona particularmente o Setor Agrícola em termos de abordagem comercial do Banco?

É estratégico e está na mesma linha de prioridade que a Indústria, o Turismo ou os Serviços. Com a profissionalização do setor de que já falei, é natural que a liderança, capacidade de gestão e perspetivas de crescimento e rentabilidade das empresas agrícolas estejam ao nível das restantes. Adicionalmente e ao longo do tempo, tem tradicionalmente demonstrado uma maior resiliência. Por isso procuramos colocar à disposição dos nossos clientes do setor agrícola, todo o nosso conhecimento, através de um conjunto de Soluções que visam suprir todas as suas necessidades específicas: de tesouraria inerentes aos diferentes ciclos de produção através de crédito de curto prazo, de investimento ajustadas às diferentes culturas com crédito de médio longo prazo, bem como de apoio às exportações ou soluções para fidelizar os seus colaboradores.

A crise dos últimos meses mostrou-nos que as cadeias de abastecimento globais poderão ser difíceis de repor. Isso deve ser considerado como um desafio adicional para o setor?

É sem dúvida um desafio, mas para um país como Portugal, que ainda é deficitário em muitos produtos, é também uma oportunidade.

Não são só as cadeias de abastecimento que mudaram, o comportamento dos clientes e as suas preferências também se alteraram, e isso é uma oportunidade para o setor crescer no relacionamento com os seus clientes. O desenvolvimento da logística, que permite alavancar imenso as vendas online, encurtando prazos de chegada dos produtos diretamente do produtor ao consumidor, terá um efeito positivo no médio prazo. Esta perceção do mercado, de produtos frescos vindos do produtor e de elevada qualidade, será uma alavanca que virá do lado do mercado nacional.

Os produtos 'made in Portugal', não só os frescos, mas também os transformados, estão muito bem cotados e podemos e devemos aproveitar as necessidades dos nossos parceiros tradicionais da União Europeia para substituir alguns exportadores de fora do nosso espaço económico

Já quanto aos mercados externos, os produtos "made in Portugal", não só os frescos, mas também os transformados, estão muito bem cotados e podemos e devemos aproveitar as necessidades dos nossos parceiros tradicionais da União Europeia para substituir alguns exportadores de fora do nosso espaço económico. Para isso há desafios adicionais, que passam pela certificação internacional dos produtos e pelo ganho de escala – que se pode conseguir através do associativismo agrícola através de organizações de produtores.

Os nossos empresários são resilientes e têm uma forte capacidade de adaptação, pelo que irão certamente colher os frutos destas novas oportunidades.

O plano de recuperação europeu poderá contribuir para um reforço do investimento na agricultura portuguesa. Que tipo de projetos poderão beneficiar com a previsível estratégia da UE e de Portugal para este setor?

Não tendo ainda todos os detalhes do plano, é expectável uma forte aposta na sustentabilidade, na digitalização e na economia verde. As verbas a disponibilizar, em sede de Política de Coesão e que visam apoiar a diversificação da economia, e de Política Agrícola Comum no aproveitamento dos recursos endógenos, quando articulados e materializados em reforço de infraestruturas produtivas e que se complementam, sem dúvida que sim, que irão contribuir para o desenvolvimento da economia em geral e também do setor agrícola.

Adicionalmente acrescentarão valor todos os Investimentos ao nível da rede de transportes que venham a facilitar a logística da distribuição, a nível europeu, encurtando os prazos da entrega dos produtos, assim como seria muito relevante conseguir-se otimizar e ampliar as zonas de regadio, nunca descurando a melhoria dos padrões de racionalização e sustentabilidade dos sistemas de rega.

Por outro lado, também serão alavancas de crescimento da agricultura, os incentivos aos investimentos na indústria agroalimentar, como grande consumidora de produtos para transformação, bem como todo o investimento em termos de transição digital, que apoiará transversalmente a economia e também o setor primário.

As empresas do setor agrícola têm sido resilientes nesta fase de quebra económica. A procura por crédito tem sido mais para realizar novos investimentos ou para suprir necessidades de tesouraria?

Como já referi, as empresas agrícolas têm as mesmas necessidades que todas as outras empresas e, adicionalmente, tem a particularidade de não podermos interromper os ciclos da natureza e consequentemente das culturas. Isso faz com que, ao contrário de outros setores, a atividade das empresas agrícolas, pelo menos no que concerne à produção, não se alterou e grosso modo se mantiveram os níveis de pedidos de apoio creditício.

Como as empresas agrícolas nunca pararam, foi necessário continuar a suprir as necessidades em termos de apoio à tesouraria, com especial destaque para a aplicação dos tradicionais créditos de campanha ou antecipação de recebimentos via factoring, e também foi necessário continuar a apoiar a aquisição de fatores de produção e de equipamentos.

E como é um setor que produz bens essenciais e com mercado, os projetos de investimento que estavam em curso continuaram a ser desenvolvidos e apoiados em termos de crédito e registamos mesmo o facto de que temos continuado a ser desafiados para novos projetos, que continuamos a analisar e querer apoiar.

sexta-feira, 14 de agosto de 2020

“Agricultura de sequeiro continua a ser necessária e imprescindível”


Em entrevista concedida ao "CA", a ministra da Agricultura faz um retrato do sector na região, onde o regadio floresce e o sequeiro passa por grandes dificuldades. Ainda assim, Maria do Céu Antunes garante que o sequeiro associado à pecuária continua a ter futuro no Baixo Alentejo.
"A manutenção de actividades de agricultura de sequeiro nos concelhos indicados continua a ser não apenas necessária como imprescindível. É importante para assegurar níveis adequados de rendimento dos agricultores existentes na região e também para promover os produtos endógenos, apreciados e procurados pela gastronomia regional e pela restauração", frisa a governante.

Em que medida foi o Alqueva fundamental para abrir "novos horizontes" na agricultura alentejana?
A carência de água nesta região foi, ao longo dos anos, um dos principais condicionalismos ao desenvolvimento da agricultura alentejana, impedindo a sua modernização e fragilizando as suas possibilidades de sustentabilidade. Com o Alqueva foi criada a maior reserva estratégica de água da Europa, que tem como objectivo o desenvolvimento económico e social da região aonde se insere, através da garantia do recurso água.Com a disponibilidade de água surgiram novas oportunidades – novas culturas regadas com rendimentos muito superiores aqueles que se verificam nas culturas de sequeiro. A garantia de abastecimento deu a segurança necessária para se concretizar um processo de reconversão a uma velocidade muito superior ao que estávamos habituados a observar. Grandes e pequenos projectos de instalação foram rapidamente executados, muitos com o apoio dos fundos comunitários – através do PDR –, trazendo novos agentes económicos à região, criando emprego e riqueza.Actualmente são regados mais de 100 mil hectares com origem em Alqueva, de forma extremamente eficiente e fazendo uso das melhores técnicas e tecnologias de apoio. Até a paisagem mudou muito rapidamente, mas esta mudança foi desejada, planeada e concretizada de acordo com os critérios mais rigorosos de respeito ambiental.

O crescimento das monoculturas intensivas na região, com o olival à cabeça, não são um risco?
Em teoria, as monoculturas não são desejáveis pelos desequilíbrios ecológicos que podem provocar. Mas não podemos deixar de quantificar a realidade para ficarmos com a perspetiva correcta: o Alentejo tem 1,9 milhões de hectares de superfície agrícola utilizada e o projecto Alqueva rega 63 mil hectares de olival. Os agricultores têm uma enorme consciência ambiental e uma grande maioria deles opta por sistemas certificados concebidos para minimizar os impactos das suas culturas, como a produção integrada ou a produção biológica. Muitas práticas ecológicas, como a manutenção de enrelvamento permanente na entrelinha, são hoje as mais frequentes e têm provas das suas vantagens ambientais e económicas. Há medidas eficazes e de baixo custo que podem reduzir de forma significativa os riscos ecológicos das grandes áreas com a mesma cultura, como são exemplo o fomento das zonas de abrigo e alimentação dos auxiliares biológicos, a instalação de caixas-abrigo para morcegos ou a instalação de espécies produtoras de pólen nas bordaduras e terrenos marginais para o fomento dos insectos polinizadores, a manutenção das quercíneas isoladas permanentes ou a preservação dos charcos temporários mediterrânicos. Portugal precisa de zonas de agricultura de elevada produtividade e de zonas de agricultura de conservação. O Alqueva tem todas as condições para se consolidar como um excelente exemplo de intensificação sustentável, onde a produção intensiva anda de braço dado com o respeito do ambiente.

Qual o maior desafio que se coloca à agricultura nesta região?
O maior desafio é, sem dúvida, o efeito provocado pelas alterações climáticas, com períodos de seca prolongados, aleatoriedades climatéricas e subida de temperatura. As suas consequências começam a fazer-se sentir em territórios mais fragilizados em termos de solo, com baixos níveis de pluviosidade e forte exposição solar, como é o caso do Baixo Alentejo. A adaptação a esta situação é da maior importância numa área em que na maior parte não existem alternativas à agricultura na ocupação do solo. A expansão actual do perímetro de rega do Alqueva é estruturante neste domínio. A adopção de práticas adequadas no quadro do uso eficiente dos recursos, a utilização de recursos vegetais e animais mais resistentes às novas condições climatéricas ou a operacionalização de sistemas de gestão do risco são vias a percorrer no futuro.

Muitos agricultores e dirigentes associativos consideram que o próximo passo que a agricultura alentejana tem de dar é o de garantir a transformação dos produtos na região. O que falta para haver mais agro-indústria no Baixo Alentejo? Qual a estratégia do Governo nesse sentido?
O desenvolvimento da agro-indústria local é um elemento positivo para a agricultura. Neste ciclo de políticas comunitárias (2014-20), o PDR aprovou cerca de 40 projectos de transformação e comercialização de produtos agrícolas no Baixo Alentejo, representando um investimento total de cerca de 60 milhões de euros. No futuro, os apoios à transformação de produtos agrícolas continuarão a existir, mas a decisão de investimento é dos empresários e na sua avaliação pesarão factores como a proximidade da produção, mas também a dos locais de consumo, a disponibilidade de infra-estruturas e redes ou a existência de mão-de-obra. No quadro das políticas de valorização do interior, a influência sobre todos estes factores terá que estar presente.

Entende que a agricultura de sequeiro (como a que se pratica em zonas como os concelhos de Castro Verde, Almodôvar ou Mértola, onde não há regadio) continua a ser necessária e a ter viabilidade?
A manutenção de actividades de agricultura de sequeiro nos concelhos indicados continua a ser não apenas necessária como imprescindível. É importante para assegurar níveis adequados de rendimento dos agricultores existentes na região e também para promover os produtos endógenos, apreciados e procurados pela gastronomia regional e pela restauração. Por outro lado, a existência de sistemas de produção em regime de sequeiro assentes em rotações cereal-pousio, permitem criar condições que preservam a avifauna associada ao eco-sistemaestepário, o qual tem vindo a ser apoiado por medidas específicas de cariz agro-ambiental no PDR2020. A viabilização das actividades agrícolas deverá ser abordada de forma integrada, na medida em que se deverão promover de forma gradual não apenas as actividadesdirectamente associadas à produção de alimentos, mas também outras oportunidades de negócio que levem à diversificação de rendimentos e promovam uma maior resiliência ambiental e climática do sector, nomeadamente através da produção de bens públicos. São de destacar, por exemplo, as actividades complementares associadas à apicultura, às actividades de turismo de natureza e observação de avifauna, às actividades de conhecimento, como arqueológicas, culturais, gastronómicos e de lazer.

Que estratégia tem o Governo para a dinamização da agricultura de sequeiro e para apoiar estes agricultores?
Neste âmbito, e para além das medidas preconizadas no 1º Pilar da Política Agrícola Comum (PAC), em termos de pagamentos directos aos agricultores, e no PDR2020, em particular, através de medidas específicas para apoio agro-ambiental, são de salientar a Estratégia Nacional para a Promoção da Produção de Cereais (ENPPC) e a Estratégia Nacional para a Agricultura Biológica (ENAB). A ENPPC, aprovada em 2018, visa reduzir a dependência externa, consolidar áreas de produção, criar valor na fileira dos cereais e viabilizar a actividade agrícola em todo o território, e está assente em quatro pilares: organizações de produtores; organização ao longo da fileira; inovação e transferência de conhecimento; e, finalmente, a PAC como principal instrumento de apoio à estabilização do rendimento dos agricultores. O nossoobjectivoé aumentar o grau de auto-aprovisionamento nos cereais praganosos – como trigo mole, trigo duro, centeio, cevada, aveia e triticale – em 20%. Para tal, destacam-se medidas como a redução dos custos de energia, a dinamização da produção nacional de semente certificada e de genética nacional, o reforço de meios de luta contra agentes bióticos e a promoção da capacitação técnica e melhoria dos meios disponíveis para experimentação e prestação de serviços no âmbito da agricultura de precisão ao nível das OP.

E relativamente à ENAB?
Em Julho de 2017 foi aprovada a ENAB e o Plano de Acção (PA) para a Produção e Promoção de Produtos Agrícolas e Géneros Alimentícios Biológicos. A ENAB, definida para um horizonte temporal de 10 anos (2017-2027),procura fomentar, designadamente, a expansão das áreas de produção biológica nos sectores da agricultura e da pecuária, através da melhoria da sua viabilidade técnica e do reforço da sua atractividade económica. Com esta estratégica pretendemos aumentar a oferta de produtos agrícolas e agro-alimentares obtidos em produção biológica, promovendo a sua competitividade e a sua rentabilidade comercial nos mercados interno e a abertura de novos mercados, a promoção da sua notoriedade, da sua disponibilidade do reforço da confiança e credibilidade junto do consumidor. Ou seja, estas duas estratégias [ENPPC e ENAB] visam, nos seus domínios específicos, incentivar a produção de produtos locais, utilizando modos de produção mais sustentáveis e mais adaptados aos cenários climáticos futuros.Paralelamente às estratégias assinaladas, é, ainda de referir o papel decisivo dos apoios da PAC, que visam, para além da melhoria do rendimento dos agricultores, da promoção e da modernização do sector, limitar algumas das fragilidades associadas aos territórios rurais, cuja principal ameaça está ligada ao despovoamento e envelhecimento da população e ao consequente esvaziamento económico, com repercussões na competitividade territorial, constituindo-se como uma ameaça à manutenção dos valores naturais, paisagísticos, culturais e das condições sociais que lhe estão associados.

Entrevista publicada no destaque "Campo", editado pelo "Correio Alentejo" na sua edição de 7 de Agosto

domingo, 9 de agosto de 2020

Vinho. Medidas de crise com 6,8 milhões de euros por atribuir


Números preliminares das candidaturas mostram que os vitivinicultores nacionais se propõem destilar 12 milhões de litros, recebendo, por isso, 8,6 milhões de euros, e armazenar mais de 24 milhões de litros. Apoios totalizam 2,5 milhões de euros; Douro foi a região que mais candidaturas apresentou a ambas as medidas.


Vinho. Medidas de crise com 6,8 milhões de euros por atribuir


Osector reclamou e o Estado reforçou as verbas para as medidas de crise para o vinho com mais três milhões de euros, fazendo subir o valor total dos apoios para 18 milhões. Afinal, as candidaturas ficaram longe de esgotar sequer a dotação, ficando 6,8 milhões de euros por atribuir. A ministra da Agricultura promete que esta verba ficará disponível para outras iniciativas que possam vir a ser necessárias em função da evolução da situação do mercado.

"Continuamos a acompanhar o evoluir da situação da crise pandémica de forma a ajustar atempadamente todas as medidas que a Comissão Europeia disponibiliza e estaremos sempre atentos às necessidades do sector", avançou, em declarações ao Dinheiro Vivo, Maria do Céu Antunes.

Em causa estão as medidas de apoio à destilação e ao armazenamento de vinho, às quais o Ministério da Agricultura havia afetado, inicialmente, 10 milhões e cinco milhões, respetivamente. E que reforçou, a 18 de julho, para um total de 12 milhões para a destilação e de seis milhões para a guarda, prolongando as candidaturas até ao final de julho. E os dados preliminares do Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) mostram que, afinal, o dinheiro extra alocado não foi necessário, embora a alteração das regras, que acompanhou o reforço de dinheiro, permitindo aumentar de 40 para 60 cêntimos por litro o preço da destilação de crise dos vinhos com Denominação de Origem e de 30 para 45 cêntimos nos vinhos com Indicação Geográfica, e majorando estes valores para regiões com viticultura em zona de montanha, tenha levado a um aumento substancial das candidaturas.

O Douro, por exemplo, que poucas candidaturas havia apresentado na versão inicial dos apoios, lidera agora os pedidos, quer na destilação, quer no armazenamento. Assim, dos 12,426 milhões de litros de vinho que os produtos se propõem queimar, de modo a evitar excedentes que levem a uma desvalorização das uvas na próxima vindima, 4,355 milhões são de vinhos da região duriense, a esmagadora maioria dos quais com DOC. Correspondem a, grosso modo, 3,265 milhões de euros, de um total de 8,631 milhões de euros candidatados a nível nacional.

Em segundo na tabela surgem os produtores da Região dos Vinhos Verdes, que se propõem enviar para destilação mais de 2,923 milhões de litros pelos quais receberão 2,165 milhões de euros. E, em terceiro, surgem os vitivinicultores alentejanos, que candidataram à queima quase 1,9 milhões de litros, que darão direito a um apoio de 1,092 milhões de euros.

Embora com apoios menores, naturalmente, já que se trata apenas de comparticipar no esforço de guarda dos vinhos à espera de melhores condições para os introduzir no mercado, a medida de crise de apoio ao armazenamento foi a preferida pelos vitivinicultores. Deram entrada nos serviços do IVV 286 candidaturas para apoios ao armazenamento de 24,271 milhões de litros de vinho (quase o dobro do que vai ser destilado), a que correspondem apoios de 2,540 milhões de euros.

O apoio médio por candidatura é de 8.881 euros para uma média de 85 dias de armazenamento. Mais uma vez o Douro lidera, com 87 candidaturas, referentes a quase 719 milhões de litros e a um apoio potencial de 719 mil euros. Segue-se o Alentejo, com 50 candidaturas correspondentes à intenção de guardar 505 milhões de litros de vinho, a que corresponde um apoio estimado de 552 mil euros. Em terceiro lugar, surge a região de Lisboa, que não apresentou qualquer candidatura para destilação de vinhos com denominação de origem (só para vinhos com Indicação Geográfica e, mesmo assim, apenas para 576 mil litros), mas cujos vitivinicultores pretendem apoio para armazenar, à espera de melhores condições de mercado, quase 205 milhões de litros, o que lhes dará um apoio potencial de 226 mil euros.

Para o presidente do IVV, os dados das candidaturas aos apoios de crise são "um sinal de que o sector está, apesar de tudo, saudável", sendo de destacar que, à porta das vindimas, "o nível de stocks excedentários não é tão alto como alguns temiam". Bernardo Gouvea mostra-se "satisfeito" por a medida de destilação ter chegado para todos, e ainda sobrado, não obrigando ao rateio das verbas.

No caso do Douro, além destas medidas, o Governo aprovou ainda o desbloqueio de cinco milhões de euros do saldo de gerência do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP) para a criação de uma reserva qualitativa específica para o vinho do Porto que permitirá produzir 10 mil pipas adicionais, elevando a produção autorizada (vulgo benefício) para 102 mil pipas na próxima vindima, sendo que a reserva qualitativa ficará guardada nos primeiros três anos e será, depois, introduzida gradualmente no mercado nos sete anos seguintes, em função das necessidades.

Exportações voltam a terreno positivo em junho e crescem 16%
As exportações de vinho cresceram 16% no mês de junho para um total de 65,2 milhões de euros, mais nove milhões de euros do que em igual período de 2019. Apesar desta recuperação, o sector não conseguiu ainda anular as quebras de 4% em abril e de 18% em maio, pelo que, no acumulado do primeiro semestre, as empresas portuguesas de vinho exportaram menos 0,9%, no valor total de 365 milhões de euros. O presidente do Instituto da Vinha e do Vinho admite que a quebra no semestre "é preocupante", mas mostra-se convicto que a situação se poderá alterar rapidamente.

"Ainda estamos a analisar os números, mas é muito preocupante fecharmos o semestre negativos", admite Bernardo Gouvea, em declarações ao Dinheiro Vivo, sublinhando que o comportamento das exportações foi "totalmente díspar" entre os destinos europeus e extracomunitários. Na verdade, as exportações para a União Europeia caíram 14% no acumulado do semestre (embora, só no mês de junho, já tenham crescido 9,5%) para 173,8 milhões de euros, quanto as vendas para países terceiros cresceram 15,5% para 191,2 milhões.

"É sempre mais difícil recuperar nos países terceiros, ou seja, se conseguirmos manter esta dinâmica de crescimento, assim que a Europa começar a recuperar, as nossas exportações recuperarão mais rapidamente", acredita Bernardo Gouvea. E os dados de junho parecem ajudar: as vendas de vinhos para fora da União Europeia dispararam 23,9% para 31,7 milhões de euros, um aumento de seis milhões face a igual mês do ano passado.

Em termos dos principais mercados, a França está a cair 9,9%, para 50 milhões de euros, embora no mês de junho já tenha crescido 20,8%, e a Alemanha perde 4,75% para 24,3 milhões (em junho cresceu mais de 20%). Mas a Holanda já cresce no acumulado do semestre 5,3% para 19,149 milhões e o Reino Unido também: 14,5% para 29,4 milhões de euros. Em terreno positivo estão, também, os Estados Unidos e o Canadá, a crescer, respetivamente, 9,9% e 11,32% para 23,5 milhões e 44,8 milhões de euros. O Brasil desliza 0,9% para 22,3 milhões de euros.

sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Vão destruir o Ministério da Agricultura

Rodrigo Alves Taxa


Os ambientalistas por excelência são os agricultores. Seja no desenvolvimento agrícola, agroalimentar, no desenvolvimento rural, no bem-estar animal, no equilíbrio dos ecossistemas, mas também no que diz respeito ao ordenamento do território, clima e conservação da natureza...

Nos últimos anos venho acompanhando com especial preocupação e perplexidade a pouca importância que os Executivos de Costa têm dispensado ao Ministério da Agricultura, que deveria apenas e tão-só ser uma das áreas tutelares de maior excelência.

Mas não sejamos ingénuos. Esta é uma matéria cuja análise deve ser bem mais profunda que aquela que lhe tem sido dispensada pela maior parte dos opinadores políticos nacionais, sobretudo porque o que está em causa não é um mero abandono ou desleixo setorial governativo, mas antes um constante e negligente desinteresse político-programático assente, quanto a mim, em três vetores essenciais.

O primeiro assenta na reduzida importância política que os distritos eminentemente agrícolas têm face aos distritos urbanos, naquilo que concretamente tem que ver com o número de deputados que elegem. Quando temos distritos da dimensão do de Portalegre a eleger dois deputados, Évora e Beja, três deputados, e mesmo o de Santarém apenas nove deputados, essa é a primeira circunstância que leva o Estado central a negligenciá-los face a todos os outros.
Traduzido por miúdos, como dão menos deputados que as grandes malhas urbanas, tudo quanto diga respeito ao campo e à agricultura fica irremediavelmente remetido para segundo ou terceiro plano, sobretudo em Executivos socialistas.

Como os deputados eleitos por estes círculos são poucos e, muitas vezes, além de poucos são visivelmente incompetentes na matéria, dado que só lá foram parar porque não cabiam nos lugares elegíveis das listas dos círculos com mais mandatos para distribuir, os distritos agrícolas e a agricultura são mal representados, têm pouca influência no Parlamento e ainda menor importância nos Executivos.

Já sei que alguns me vão responder que é assim pela forma como o sistema eleitoral está montado, porque está ligado a esta ou aquela variável, etc. Eu compreendo e sei isso tudo. Mas não é desculpa. Está errado e há que passar a estar certo, sendo certo também que vou deixar essa matéria para outro artigo.

Continuando no que neste interessa, o segundo vetor de análise assenta numa cada vez mais pronunciada confusão entre o que deve ser um Ministério da Agricultura e um Ministério do Ambiente. E digo que a confusão é esta para não ir mais longe, porque considero que havendo um Ministério da Agricultura devidamente capaz e dotado dos meios técnicos e humanos, bem como de verbas bastantes para tutelar a área como deve ser, não há necessidade absolutamente nenhuma de haver um Ministério do Ambiente.

Os ambientalistas por excelência são os agricultores. Seja no desenvolvimento agrícola, agroalimentar, no desenvolvimento rural, no bem-estar animal, no equilíbrio dos ecossistemas, mas também no que diz respeito ao ordenamento do território, clima e conservação da natureza – e, atualmente, as três últimas dinâmicas que elenquei estão afetas ao Ministério do Ambiente, e não ao da Agricultura, o que, a meu ver, é um disparate absoluto.
O terceiro e último vetor, que no fundo resulta da confluência dos dois anteriores, é a pressão política e social exercida nos Executivos por derivas puramente ideológicas e radicais que assentam a sua visão do mundo em entendimentos contranatura, isto para não os classificar como integrantes do foro patológico.

Estas visões, aproveitando-se das fraquezas políticas do setor anteriormente explanadas, pretendem enfraquecer cada vez mais o Ministério da Agricultura.

Fazem-no esvaziando as competências que sempre sobre a sua tutela se encontraram, dando antes força à tal pseudodenominada visão ambientalista do mundo que tem como interesses, apenas e só, menorizar o agricultor e o seu papel na sociedade, complicar/impedir o cultivo e produção agrícola de determinadas culturas, destruir o tecido agrícola, destruir a indústria da carne, da caça, da indústria taurina e de tudo quanto envolva animais desde que a sua existência não seja encarada, como deve, para servir o homem.

Tanto é que o episódio a que recentemente assistimos em Santo Tirso, e que teve como expoente máximo o anúncio, feito pela ministra da Agricultura, de que a tutela dos animais de companhia passaria para o Ministério do Ambiente e da Ação Climática (nome socialista pomposo mas que ninguém sabe o que significa na prática), é a mais clara demonstração de um aproveitamento político que serve todos os objetivos antes expressos.

Se tal vier realmente a verificar-se, estamos perante um claro atentado contra o Ministério da Agricultura e, muito em particular, contra a Direção-Geral de Alimentação e Veterinária, lamentando eu, desde já, a demissão do diretor-geral de Veterinária, Fernando Bernardo, dado que quem devia demitir-se não era ele, mas a cambada de incompetentes que nos governam.

O que se passou em Santo Tirso foi aflitivo? Foi. Foi triste? Foi muito triste. Mas foi sobretudo o pretexto ideal para que os tais ambientalistas e animalistas raivosos e doentios (de que o PS está também refém) retirassem do Ministério da Agricultura a tutela dos animais de companhia. Se não fosse esta tragédia, não teriam forma de o fazer.

No entanto, esquecem-se de que os animais não morreram por alguma falha ou negligência do Ministério da Agricultura ou da DGAV. Morreram por culpa de um Estado central podre e bafiento, preso a derivas ideológicas absurdas, que insiste em atribuir competências às suas instituições sem lhes garantir a forma de as executar.
Havendo problemas, a sua resolução é à socialista – das duas, uma: manda-se dinheiro à fartazana para cima da mesa para calar o pessoal ou cortam-se umas cabeças menores, baralham-se as cartas e volta-se a dá-las a jogadores distintos mas com menos conhecimento sobre o jogo que os que antes as tinham.

Como o dinheiro está escasso, nesta circunstância optou-se pela segunda solução, mas que ninguém se deixe enganar porque o objetivo é claro: destruir a ruralidade, o campo, os ideais do campo, o universo do campo, a multidisciplinaridade do campo, a importância dos agricultores e dos trabalhadores rurais independentemente de terem maior ou menor dimensão, dar mais importância ao animal e cada vez menos ao homem – e aqui, muito concretamente, iniciar, ainda que de forma encapotada, a destruição do Ministério da Agricultura e a inversão total dos princípios da vida.

 

Escreve à sexta-feira

quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Nove homens detidos por furto de 1.500 quilos de cortiça em Santarém, Évora e Setúbal



RAFAEL MARCHANTE


Foi ainda constituída arguida uma mulher no âmbito desta investigação, segundo a GNR.
Nove homens, com idades entre os 30 e os 51 anos, foram esta quinta-feira detidos pelo furto de 1.500 quilos de cortiça, no âmbito de uma operação que decorreu nos distritos de Santarém, Setúbal e Évora, anunciou a GNR.

De acordo com a GNR, foi ainda constituída arguida uma mulher no âmbito desta investigação, por vários crimes de furto de cortiça e máquinas agrícolas.

"Os suspeitos usavam os furtos de cortiça e de máquinas agrícolas como modo de vida, causando grandes danos para os produtores agrícolas", destacou a GNR.

A operação decorreu nos distritos de Santarém, Setúbal e Évora, nomeadamente nos concelhos de Coruche, Salvaterra de Magos, Benavente, Montijo, Mora e Alcochete, dando cumprimento a 24 mandados, dos quais nove mandados de detenção, 12 de buscas em residências e armazéns e três em veículos.

As autoridades apreenderam 1.500 quilos de cortiça, oito automóveis, um trator agrícola, 550 euros, nove telemóveis e diverso material informático, bem como várias ferramentas manuais e utensílios, nomeadamente 18 machados para extração de cortiça, seis tesouras para corte de ferro e uma balança para pesagem de cortiça.

Foram ainda apreendidas aos suspeitos quatro armas de fogo, três pistolas de alarme (uma delas transformada) e 589 cartuchos e munições de vários calibres.

Segundo a GNR, os nove detidos já tinham antecedentes criminais relacionados com furtos e serão hoje presentes ao Tribunal Judicial de Santarém.

Esta operação envolveu 78 militares da GNR dos Comandos Territoriais de Santarém, Setúbal e da Unidade de Intervenção (UI).

quarta-feira, 5 de agosto de 2020

A “bazuca europeia” como oportunidade para o projecto Tejo

Duarte Marques

04.08.2020 às 10h39

Num momento em que começa a ficar claro que o Plano do Partido Socialista para aplicar a "Bazuca" da União Europeia é regressar às megalomanias do costume, em centrar o investimento nas grandes áreas urbanas, ou seja, onde estão a maioria dos votantes, disfarçando aqui ou ali com medidas do Plano Costa e Silva, importa apontar alternativas que verdadeiramente aumentem a competitividade da nossa economia, quer através de infraestruturas necessárias quer de apoios ao investimento das empresas. O projecto Tejo tem aqui uma oportunidade para dar o seu pontapé de saída e para se tornar realidade.

Como já aqui escrevi há uma semana, os fundos da União Europeia servem para criar riqueza, para fazer aqueles investimentos que de outra forma não seriam possíveis e que possam trazer mais valias no futuro. Não podem servir para financiar despesa corrente, substituir o Orçamento de Estado ou para fazer o jeito eleitoral a Fernando Medina e a mais uns quantos da Área Metropolitana de Lisboa. Como vimos na edição do Expresso deste fim de semana, e em mais algumas notícias, o Governo prepara-se para voltar a desviar o dinheiro para novas linhas de metro ou elétricos, para a construção de habitação que algumas autarquias quer do PS quer do PCP não conseguiram fazer e provavelmente para mais uns números de circo que em vez de relançar e fortalecer a economia apenas engordam os interesses eleitorais do costume e clientelas políticas. Mas há alternativas.

O projecto Tejo

Um dos projetos mais marcantes para o sector da agroindústria e em particular para o grande ribatejo, é o denominado Projecto Tejo que visa assegurar uma melhor gestão do caudal do rio, armazenando mais água durante o inverno em vez de deixar correr tudo para o mar, aproveitar melhor a sua água para o regadio e fazer face à subida do sal das águas do mar que tanto tem prejudicado as culturas agrícolas. Este plano pode ter impacto nas regiões de Setúbal, Lisboa, Oeste, Portalegre, Santarém e até Castelo Branco. Este projeto, no formato já apresentado ou noutro equivalente que se considere mais adequado, tendo sempre em conta também as preocupações ambientais, a biodiversidade e assegurando a subida do peixe, é um daqueles investimentos que devem ser feitos a médio prazo, que afetam várias gerações e que só fazem sentido se garantidos por vários ciclos de governo. Há hoje milhões de hectolitros de água que passam à nossa porta e que não são utilizados. Concretizando este plano podemos aumentar o regadio e dessa forma a exploração agrícola. Sem isso, os agricultores reduzem as suas explorações ou vêem-se obrigados a utilizar águas cada vez mais profundas, com os custos que isso acarreta para a sua competitividade (água essa que se não fosse utilizada poderia perfeitamente permanecer como reserva estratégica), quando mesmo ao lado passa água diretamente para o mar sem qualquer utilização ou aproveitamento económico.

Veja-se o exemplo do Alqueva que, apesar dos sucessivos atrasos, transformou por completo a economia de uma região como é o Alentejo. Portugal, e o ribatejo em particular, teriam muito a beneficiar com um investimento que pode ser um verdadeiro "game changer". Umas das principais ameaças ao sector agrícola nesta região é precisamente a falta de água, o aumento do custo por via da sua extração a profundidades cada vez maiores e a progressiva salinização dos aquíferos existentes. Importa por isso salvar o sector agrícola, desenvolver um conjunto de regiões do centro/sul do país e garantir maior competitividade para um sector determinante da nossa economia. As externalidades positivas de um projeto desta dimensão são evidentes também ao nível do turismo, do lazer e do ambiente, da pesca (hoje nem para isso o rio Tejo serve), da fixação de pessoas no interior, da nossa independência ao nível da água e obviamente da coesão regional. Para saber mais sobre as diferentes dimensões e características técnicas deste projeto recomendo vivamente o webminar organizado pela Vida Rural disponível em https://www.youtube.com/watch?t=413s&v=Hq3n1Ir6jhA&app=desktop

Muitos não se terão apercebido, mas um dos principais e mais decisivos investimentos no Alqueva foi a criação da "rede secundária", que garante as ligações de águas às explorações agrícolas, e cujo investimento seria incomportável para os agricultores. Isso foi conseguido através do PT2020 numa negociação do Governo Passos Coelho que passou despercebida nas notícias. Se tivesse sido num governo socialista teríamos tido o Ministro da Agricultura a fazer a inauguração de cada torneira, mangueira ou pivot de rega. Sem isso o Alqueva teria perdido todo o seu significado e muitas das suas mais valias. Os fundos europeus servem precisamente para isto. O Alqueva tornou numa zona de regadio uma região que era de sequeiro. Os impactos do Projeto Tejo são mais imediatos porque visam salvar uma zona de regadio que se tem reduzido, e aumentar a escala de produção agrícola. Este projeto tem o benefício de ser modelar e poder ser implementado em diferentes fases.

Espero que a senhora Ministra da Agricultura, que a cada mês que passa permite que o seu Ministério perca mais uma competência para outras áreas governamentais, saiba tornar este investimento numa das prioridades governativas para o sector que tutela. Este objetivo não se pode esgotar nas verbas da agricultura mas ter a ambição e arte de procurar também suporte nos envelopes de incentivo à economia e ao desenvolvimento. O Plano que acima referi surge da sociedade civil, é proposto por um conjunto de homens e mulheres que investem na agricultura, que criam emprego e que têm sido responsáveis pela evolução que o sector tem conhecido. Este é daqueles projetos que não são propriedade de ninguém, de nenhum partido ou ideologia política. É sim o interesse nacional que está em causa e um sector e várias regiões que assumem a produção agrícola como vetor central da sua razão de existir. Ignorar esta sua preocupação é esquecer uma parte significativa do país e perder uma tremenda oportunidade.

Obviamente que a proposta em cima da mesa não pode ser definitiva, mas o problema existe e a solução terá de ser algo semelhante ao que aqui é proposto. Desperdiçar esta oportunidade é ignorar o futuro de um sector e de várias regiões fortemente ameaçadas. É obrigação do poder político olhar seriamente para este plano, que recordo nasce da sociedade civil, e perceber que a "bazuca europeia" permite criar a oportunidade para tornar verosímil a concretização de uma alavanca de crescimento séria, responsável e sustentável, usando melhor os recursos naturais e públicos que temos à nossa disposição.

terça-feira, 4 de agosto de 2020

Susana Pombo é a nova diretora-geral de Alimentação e Veterinária

O ex-diretor-geral da Alimentação e Veterinária, Fernando Bernardo, demitiu-se do cargo no passado dia 28 de julho.
Susana Pombo é a nova diretora-geral de Alimentação e Veterinária

04/08/20 19:59 ‧ HÁ 3 HORAS POR NOTÍCIAS AO MINUTO


Susana Pombo é a nova diretora-geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), avança o Ministério da Agricultura em comunicado enviado, ao final da tarde desta terça-feira, às redações.

"A Ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, designou, hoje, em regime de substituição, a mestre Susana Isabel Ferreira Guedes Pombo, para exercer as funções de Diretora-Geral de Alimentação e Veterinária", pode ler-se na nota.

De recordar que o ex-diretor-geral da Alimentação e Veterinária, Fernando Bernardo, demitiu-se do cargo no passado dia 28 de julho.

"Confirma-se que a pedido do prof. Doutor Fernando Manuel d'Almeida Bernardo, a senhora Ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, determinou a sua cessação da comissão de serviço no cargo de Diretor-Geral de Alimentação e Veterinária", pode ler-se numa resposta ao Notícias ao Minuto enviada na altura.

As razões da demissão não foram formalmente confirmadas pelo Ministério da Agricultura, contudo, esta surgiu após o primeiro-ministro António Costa ter criticado a DGAV, no Parlamento, na sequência do incêndio em Santo Tirso que tirou a vida a 73 animais.

No Parlamento, o primeiro-ministro classificou como "absolutamente intolerável" o incidente e admitiu repensar o quadro legal e a "orgânica do Estado" nesta matéria.

[Notícia atualizada às 20h16]

Direção Geral da Agricultura passa a controlar cultivo do cânhamo em Portugal



Nuno Miguel Silva 04 Agosto 2020, 16:33

Segundo a ministra da Agricultura, esta medida é um "claro reconhecimento do interesse e potencial económico desta cultura".

A DGAV – Direção Geral da Agricultura e da Veterinária, dependente do Ministério da Agricultura, irá passar a controlar o cultivo do cânhamo em Portugal.


"Atentos à crescente procura de produtos à base de cânhamo, destinados ao uso industrial, e considerando também a elevada potencialidade agrícola desta cultura no nosso país, o Governo aprovou uma alteração ao Decreto Regulamentar n.º 61/94, de 12 de outubro, que estabelece as regras relativas ao controlo do mercado lícito de estupefacientes e substâncias psicotrópicas, no sentido de definir as responsabilidades das autoridades oficiais que devem interferir nos processos de autorização e de controlo do cultivo do cânhamo para o seu uso industrial, nomeadamente produção de fibra, sementes e outros produtos destinados à agroindústria", anuncia um comunicado do Ministério da Agricultura.

De acordo com a ministra Maria do Céu Antunes, "passa a intervir, no processo de autorização e controlo do cultivo de cânhamo para uso industrial, a Direção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), num claro reconhecimento do interesse e potencial económico desta cultura".

Segundo o referido comunicado, "esta legislação, agora aprovada, salvaguarda o legítimo interesse do seu cultivo, permite diferenciar esse cultivo do destinado a fins medicinais, ao mesmo tempo que visa evitar atividades ilícitas, nomeadamente o tráfico de substâncias psicotrópicas".

"O Governo, reconhecendo o potencial económico e agrícola desta espécie, entendeu assim clarificar e regular a forma de autorização e controlo, à semelhança do que ocorre em vários outros países da União Europeia onde o
cultivo desta espécie já é realizado em larga escala, criando a base legal habilitante para a instrução dos processos e os procedimentos a seguir para o cultivo desta espécie", realça a ministra da Agricultura.

«O consumidor está longe do agricultor e quem está longe da vista fica longe do coração»


OPERATION POLLINATOR
04.08.2020

Carlos Neves, produtor de leite, dirigente associativo e blogger, quer aproximar a Sociedade da Agricultura. Usa a palavra nos mais diversos fóruns para mostrar como cultiva a terra e cuida dos animais e divulgar boas práticas agrícolas, como as margens multifuncionais Operation Pollinator, que instalou numa parcela de milho para combater a erosão do solo.

Instalou uma margem multifuncional Operation Pollinator numa parcela de milho. O que o motivou? Que benefícios espera obter para a cultura e o ecossistema?

No ano passado, por causa de sucessivas cheias, no Outono, após a sementeira, tive um problema de erosão numa estreita faixa de terreno junto a um ribeiro e pensei instalar um prado permanente. Depois tomei conhecimento do Operation Pollinator e senti curiosidade em experimentar e ajudar a divulgar esta técnica. Parece-me interessante para cantos ou zonas de terreno com menor potencial produtivo. No meu caso, espero evitar a erosão. Vejo que os insetos, nomeadamente abelhas, estão a gostar. Não tenho expetativas em relação a aumento de produção do milho, porque não é fácil de avaliar, atendendo a outras variáveis, como o clima de cada ano.

Que impactos têm as alterações climáticas hoje na sua atividade como agricultor e produtor de leite? E que impactos podem ocorrer nos próximos 5 anos?

As culturas que fazemos aqui na região (milho na Primavera /Verão e erva; azevém, aveia, triticale, ervilhaca, trevos, etc, no Outono / Inverno) são menos sensíveis às alterações climáticas que outras produções agrícolas, mas períodos de temperaturas muito altas (que temos cada vez mais vezes) dificultam a cultura do milho em terrenos mais secos e com  menos água de rega disponível. As vacas sofrem com o calor. Todos os produtores de leite estão a investir em sistemas de ventilação e arrefecimento dos animais. Basicamente significa mais despesa e menos produção.



«Espero evitar a erosão do solo com a margem Operation Pollinator. Os insetos, nomeadamente abelhas, estão a gostar», Carlos Neves, numa parcela de milho em Vila do Conde.

A Syngenta renovou o seu plano de compromissos para a sustentabilidade agrícola - "Good Growth Plan"-, focando a atenção em ajudar a reduzir a pegada de carbono da agricultura e em ajudar os agricultores a lidar com as alterações climáticas. De que forma poderá a Syngenta ajudar a sua exploração nestas temáticas?

A Syngenta poderá ajudar-nos divulgando informações e fornecendo produtos e tecnologias que sejam fruto da investigação, que sejam baseadas na evidência, para praticarmos agricultura de precisão, sendo mais eficientes e produzindo com menos recursos e com menos impacto no meio ambiente.

A Ministra da Agricultura, Maria do Céu Albuquerque, reconheceu em declarações recentes que "As vacas não deixaram de existir (durante o Estado de Emergência) e a poluição baixou". Como produtor de leite, qual é a sua posição sobre o tema das emissões de metano dos bovinos?

No caso do carbono, cuja libertação causa efeito de estufa, nós agricultores temos de fazer a nossa parte, para reduzir emissões e aumentar o sequestro de carbono, mas não podemos deixar que os animalistas e vegans "sequestrem o debate" como desculpa para terminar com a criação de animais, nomeadamente das vacas. Em Portugal a agricultura representa cerca de 10% das emissões de gases com feito de estufa, os bovinos cerca de 5% (as vacas leiteiras talvez 2% e esse número tem vindo a baixar), mas o carbono libertado sob a forma de metano nos arrotos dos ruminantes não surge de geração espontânea, foi captado pelas plantas que cultivámos para alimentar as vacas. O metano tem um efeito de estufa muito superior ao CO2, mas degrada-se ao fim de 10 ou 12 anos. Aqui há um ciclo do carbono, ao contrário daquele que é libertado pelos setores dos transportes ou da energia e que são os setores responsáveis pela grande fatia das emissões. Enquanto a sociedade portuguesa debate se deve trocar o bife por couves ( e comida é um assunto que dá muitos clikes e likes, porque interessa a todos), os setores económicos com emissões dezenas de vezes superiores às vacas passam pela chuva sem se molhar…

A pandemia do coronavírus está a ter um impacto substancial na economia portuguesa e mundial. Quais os efeitos no setor do leite?

O primeiro impacto e que não podemos esquecer foi a corrida dos portugueses aos hipermercados para esgotaram as prateleiras de produtos lácteos. Isto prova que, para além das polémicas escritas ao telemóvel no sofá, na hora H, as pessoas sabem que comida é essencial e quais são os alimentos essenciais. Sinal que devemos ter uma produção estratégica de alimentos próximos do consumidor. O leite é um alimento completo, saudável e económico. Infelizmente, o encerramento de hotéis e restaurantes reduziu de forma abrupta o consumo de produtos de valor acrescentado, nomeadamente queijos. Para os pequenos ruminantes, cabras e ovelhas, foi brutal e algum leite foi deitado à terra sem hipótese de escoamento e transformação. Também o queijo de vaca sofreu e houve redução de preço em alguns compradores. Como isso aconteceu em toda a Europa, sobrou mais leite, o que pressiona os preços em baixa, mas nós em Portugal já temos o preço mais baixo da Europa há 10 anos e não temos almofada para sobreviver, se não houver um esforço da indústria e distribuição para valorizar melhor o leite ao produtor.



«Da PAC pós-2020 espero uma combinação de políticas de mercado e de apoios ao rendimento que não deixem desaparecer a produção de leite», Carlos Neves, agricultor e dirigente da APROLEP- Associação dos Produtores de Leite de Portugal

Perante os desafios – Covid, alterações climáticas, reduzir a pegada de carbono, preservar a biodiversidade, manter a rentabilidade da agricultura – que respostas espera da PAC pós-2020 e do futuro PDR?

Espero uma orientação positiva para uma agricultura mais eficiente, uma intensificação sustentável. Uma agricultura ecológica, com menos impacto ambiental e climático, mas fundamentada em investigação e evidência científica. Se isso tiver custos acrescidos na produção, que sejam repartidos por toda a cadeia de valor, que não sejam os do costume, os produtores, a assumir a despesa. Espero apoios para a instalação de jovens agricultores e para pequenos investimentos nas empresas agrícolas. Espero uma combinação de políticas de mercado e de apoios ao rendimento que não deixem desaparecer a produção de leite.

O Carlos é agricultor e blogger. Sente que com os seus artigos contribuem para mudar a imagem da agricultura junto da opinião pública?  

Tornei-me blogger por sentir que os agricultores e os profissionais que os apoiam (veterinários, zootécnicos, agrónomos…) estão demasiado ocupados a produzir, comunicam pouco e enquanto isso outras pessoas, com imenso tempo livre e excelente capacidade de comunicar, que não conhecem a realidade e se baseiam em coisas que viram nas redes sociais, se ocupam ativamente a construir narrativas alternativas sobre a agricultura, umas vezes para venderem produtos alternativos, outras vezes para pedir donativos, muitas vezes com a melhor das intenções, mas com total desconhecimento da realidade. Há quem prefira ignorar, mas depois as mensagens negativas vão passando e quando abrimos os olhos ficamos pasmados com o que está escrito nos livros escolares sobre a agricultura e com as decisões do reitor da universidade de Coimbra. Entretanto os decisores políticos vão sendo pressionados e a maioria vai na onda conduzida por uma minoria barulhenta. Por isso é importante comunicar, que é pôr em "comum", mostrar, na primeira mão, como cultivamos a terra e cuidamos dos animais e explicar as escolhas que fazemos. Antigamente toda a gente era agricultor, ou vizinho do agricultor, ou simplesmente tinha outras preocupações. Hoje o consumidor está longe do agricultor e quem está longe da vista fica longe do coração. O meu objetivo é encurtar essa distância, mas tenho consciência dos limites das minhas publicações ou de outros "agvogados" (advogados da agricultura). Por um lado, temos de trabalhar e não podemos ser ativistas a tempo inteiro, por outro lado, é sempre mais fácil deitar abaixo e criticar do que explicar e falar pela positiva. Mas, como tudo na vida, o caminho faz-se caminhando…

Estará à vista o fim do Ministério da Agricultura?

Eduardo de Oliveira e Sousa

O passo que o Governo anuncia é bem mais perigoso do que à primeira vista possa parecer. Está em marcha um plano. Um plano para terminar com o Ministério da Agricultura. A concretizar-se, este será o primeiro passo.

4 de Agosto de 2020, 0:10

A propósito do anunciado desmembramento do Ministério da Agricultura, pela retirada da competência sobre os animais de companhia da esfera da DGAV (Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária) e respectiva passagem para o ICNF (Instituto de Conservação da Natureza e Florestas) sob tutela do Ministério do Ambiente e Transição Climática, terá o senhor primeiro-ministro consciência da gravidade da decisão que se prepara para tomar?

Saberão os portugueses qual a razão porque é são e fresco o peixe que compram na peixaria? Porque foi inspeccionado pelos veterinários da DGAV.

Saberão os portugueses porque é seguro consumir a carne comprada no talho? Porque foi vistoriada pelos veterinários da DGAV.


Saberão os portugueses porque exporta Portugal carne de porco e outros produtos para a China e outros destinos? Porque a DGAV abriu esses mercados aos produtores nacionais e assegura os padrões de qualidade exigidos internacionalmente.


Saberão os portugueses porque razão exportamos Pêra Rocha para o Brasil, Canadá e outros? Porque a DGAV se empenhou e fiscaliza a qualidade dos mesmos.

Sabem os portugueses porque é seguro consumir a fruta e os legumes produzidos em território nacional? Porque a DGAV é a entidade que aprova os produtos fitofarmacêuticos que os agricultores podem utilizar e em que condições.

Sabem os portugueses porque tem qualidade o trigo que faz parte do pão que consumimos todos os dias? Porque os agrónomos da DGAV e do INIAV testaram e aprovaram as sementes antes de os agricultores as lançarem à terra.

Sabem os portugueses porque razão os seus animais de companhia, gatos, cães, mas não só, são dos animais mais sãos do mundo e sanitariamente seguros para os humanos, registados e sob apertado controlo de vacinação? Porque os veterinários da DGAV assim o pensaram e controlam, em colaboração com todo o corpo veterinário municipal e privado disperso pelo país.

Poderá todo este conhecimento acumulado, todo este saber exercido, ser posto em causa pelo "capricho" de um punhado de idealistas que não mais pretendem que inverter o valor das coisas, de imporem uma ideologia ignorante e sem substrato, em prol de um mundo que não existe?

Sabem os portugueses que a DGAV é um organismo fundamental do Ministério da Agricultura desde há mais de 100 anos? Cem anos não são cem dias. São muitas experiências, muita ponderação, muitas decisões, muitas análises, muitas horas no campo tratando e inspeccionando animais, nos matadouros, nas lotas, nos supermercados, nos laboratórios, a desenvolverem todo um edifício de normas, regulamentos e legislação em torno da nossa segurança alimentar, da sanidade dos animais que consumimos ou que nos acompanham, tendo na sua base o conhecimento científico e académico de uma Escola Superior de Medicina Veterinária também centenária, Estações Científicas e um Laboratório Nacional de Medicina Veterinária.

Poderá todo este conhecimento acumulado, todo este saber exercido, ser posto em causa pelo "capricho" de um punhado de idealistas que não mais pretendem que inverter o valor das coisas, de imporem uma ideologia ignorante e sem substrato, em prol de um mundo que não existe? Não existe porque não é natural. Não existe porque é virtual. Não existe porque é contra o normal progresso e evolução da presença do Homem na terra e das responsabilidades que tem na correcta gestão dos seres vivos sob a sua tutela.

Os trágicos acontecimentos e o triste fim dos animais que morreram queimados há dias em Santo Tirso era algo que estava escrito na história dos dias ainda não vividos. Aconteceu agora e irá repetir-se. Quiçá o próximo episódio possa ser bem pior e mais grave. Como já hoje acontece com os frequentes ataques a ovelhas, bezerros e até vacas, um dia chegará em que uma criança ou um idoso serão violentamente atacados por esses cães e gatos abandonados e errantes.


Não, não é a DGAV a entidade responsável pelo sucedido em Santo Tirso. Pelo contrário, já tinha mandado encerrar aquele espaço. DGAV e veterinários municipais são médicos, não são milagreiros. Fazer o impossível não está ao seu alcance.

Os políticos voltaram as costas ao assunto depois de aprovada a lei que obrigou a chegar onde chegámos. É mais que inconsciência, é desconhecimento, é ilusão, é criminoso!

Está tudo bem na DGAV? Seguramente não. Mas está tudo bem nalgum sítio? O mundo perfeito não existe.

Muito pode e deve ser melhorado, mas o passo que o Governo anuncia é bem mais perigoso do que à primeira vista possa parecer. Está em marcha um plano. Um plano para terminar com o Ministério da Agricultura. A concretizar-se, este será o primeiro passo.

Os que pensaram neste passo pensam já no seguinte, até que o modelo produtivo nacional seja desfeito e arruinado o Mundo Rural.


Sim, os políticos que defendem o fim do nosso modelo de produção e de vida não conhecem o Mundo Rural. Não entendem os que conseguem viver em harmonia com a Natureza, com ela convivem e com os animais, em paz e com conhecimento. Animais de quem cuidam, criam e exploram, como desde quando há dezenas de milhar de anos o Homem percebeu que a única coisa que o distingue dos demais é a inteligência e começou a gerir a natureza.

Um governo que não reconhece na Agricultura um pilar estratégico de desenvolvimento da sociedade e da economia é um governo que não respeita o seu Povo e desvaloriza a Soberania Nacional.

O Ministério da Agricultura tem de se afirmar, de exigir a responsabilidade que lhe é devida, ao invés de se posicionar numa atitude submissa a uma evolução ilusória que nunca se verificará. É o princípio do fim. Pior que não ver… é não querer ver.

Engenheiro Agrónomo; presidente da CAP (Confederação dos Agricultores de Portugal)

segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Desmembramento da Direção Geral de Alimentação e Veterinária gera forte contestação



Nuno Miguel Silva 31 Julho 2020, 17:40

Diversos partidos com assento parlamentar, Ordem dos Engenheiros, Ordem dos Médicos Veterinários, 14 entidades representativas da cadeia agroalimentar e as Uniões de Organizações de Produtores Pecuários de todo país estão contra a medida ontem anunciada pela ministra da Agricultura.

A medida do Governo de  transferir as competências sobre os animais de companhia do Ministério da Agricultura para o Ministério do Ambiente, assumida esta quinta-feira pela ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, no Parlamento, está a gerar uma forte contestação de vários quadrantes.


Maria do Céu Antunes disse ontem que pretende ver reforçado o papel da Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) quer em matérias de alimentação, saúde e da produção animal, quer na produção de alimentos saudáveis e seguros.

"Em audição parlamentar, a titular da pasta da Agricultura referiu ainda que está a ser trabalhada uma proposta para que os animais de companhia passem a estar sob a alçada do ministério do Ambiente e Ação Climática. No entanto, o papel desta instituição sairá reforçado nas suas competências relacionadas com a saúde e proteção animal e vegetal, bem como relativas à segurança alimentar, garantindo alimentos seguros, tanto nas mesas dos portugueses, como nas exportações", assegura um comunicado do Ministério da Agricultura.

Segundo a titular da pasta da Agricultura, "importa que as competências que são acometidas à DGAV sejam por esta exercidas com a maior eficiência e que, portanto, se concentre nestas matérias, que são da maior relevância".

"Salienta-se que, e tendo em conta a sua ligação estratégica ao âmbito de intervenção desta área governativa e da Direção-Geral que tutela, as matérias da alimentação, saúde e da produção animal ficam sob tutela da Agricultura, dando assim resposta à estratégia 'do Prado ao Prato', assegurando todo o sistema alimentar", assinalou a ministra da Agricultura.

Maria do Céu Antunes referiu que está já a trabalhar com a área governativa do Ambiente e Ação Climática na construção de uma nova solução, que espelhe uma reorganização de competências, na Administração Pública, capaz de responder eficazmente ao quadro legal e às prioridades assumidas no que diz respeito aos animais
de companhia.

"A DGAV tem por missão a definição, execução e avaliação das políticas de segurança da cadeia agroalimentar, de proteção animal e de sanidade animal, proteção vegetal e fitossanidade, sendo investida nas funções de autoridade sanitária veterinária e fitossanitária nacional, de autoridade nacional para os medicamentos veterinários e de autoridade responsável pela gestão do sistema de segurança da cadeia agroalimentar. Neste contexto, assume esta área governativa a importância que o correto e adequado exercício destas funções representa para a preservação da saúde e da confiança dos consumidores, que resulta da capaz preservação da saúde e bem-estar dos animais, pelo que o novo desenho que se pretende construir para dar forma a esta realidade reforçará o seu papel nesta matéria", garantiu a governante.

De acordo com a ministra da Agricultura, "esta reorganização deve assentar no reforço de capital humano, devidamente qualificado, bem como de adequados instrumentos financeiros e orçamentais, capacitando assim esta estrutura para o cabal e eficaz cumprimento da sua missão e competências".

"Deste modo, entendemos estar a contribuir para sustentar um sistema alimentar que garanta às pessoas um abastecimento suficiente e variado de alimentos, seguros, nutritivos, a preços acessíveis e sustentáveis, em qualquer momento e especialmente nos tempos que agora atravessamos. Esta decisão de reestruturação não esquecerá o garante da proteção e bem-estar dos animais de produção, no que respeita não só ao cumprimento das normas internacionais, mas também da evolução dos conhecimentos científicos que melhor se aplicam a estes sistemas de produção", adiantou Maria do Céu Antunes.

Ordem dos Engenheiros e Ordem dos Médicos Veterinários contra
No entanto, a decisão está a gerar forte contestação. Uma das primeiras instituições a insurgir-se contra esta medida foi a Ordem dos Engenheiros.

"O bem-estar animal é uma competência de várias formações superiores, nomeadamente de engenheiros agrónomos e engenheiros zootécnicos, técnicos com formação superior, integrados na Ordem dos Engenheiros, tal como consagrado no Regulamento 420/2015, publicado em Diário da República de 20/07/2015, onde se encontram definidos os atos de engenharia passíveis de serem exercidos por membros da Ordem dos Engenheiros", explica esta instituição.

De acordo com este documento, a DGAV, "bem como as entidades suas antecessoras, Direção-Geral dos Serviços Pecuários e Direção-Geral de Veterinária, tem vindo, com o contributo dos inúmeros profissionais que têm competências na área do bem-estar animal, entre os quais zootécnicos e agrónomos, a atualizar as normas regulamentares, contribuindo, assim, para uma melhoria significativa no controlo e fiscalização do cumprimento das mesmas nas espécies domésticas".

"A Ordem dos Engenheiros, enquanto associação profissional representante dos engenheiros agrónomos e dos
engenheiros zootécnicos, considera desajustada a intenção de retirar da tutela da DGAV a proteção e o bem-estar
animal. No entender desta Ordem profissional, seria danosa a perda do conhecimento e experiência dos
profissionais desta entidade, nomeadamente dos inúmeros engenheiros agrónomos e zootécnicos funcionários
desta instituição, bem como para a zootecnia e para a ciência animal. A separação de competências em nada abonará para o garante do bem-estar animal nas espécies domésticas", alerta esta instituição.

Associações da fileira agroalimentar também contestam

Também diversas organizações da cadeia agroalimentar já repudiaram a possibilidade de desmembramento da DGAV. "Catorze entidades representativas de todos os elos da fileira da produção pecuária nacional rejeitam a proposta de desagregação da DGAV – Direção Geral de Alimentação e Veterinária e eventual repartição das suas áreas de intervenção por outros departamentos da Administração pública ou Ministério que não o da Agricultura", assume um comunicado conjunto.

Segundo o documento em questão, "esta é uma entidade de importância vital para o setor pecuário, para a produção agrícola, para a saúde pública e para a economia nacional. Não pode ser posta em causa e muito menos desmantelada para aproveitamento político e oportunismo partidário, fundado em ideologias demagógicas contra o mundo rural, contra o setor agropecuário e, consequentemente, contra a economia nacional".

"Pela importância que a DGAV tem no país e neste setor, estas entidades exigem que seja rapidamente clarificado o futuro papel deste organismo, a fim de fazer face aos desafios crescentes com que a agropecuária se depara, quer a nível da sustentabilidade, da saúde pública, da estabilidade e desenvolvimento dos territórios rurais", defende o referido comunicado, salientando que "a importância deste setor é inquestionável, pois assegura a não desertificação do interior do país e contribui para o desenvolvimento das atividades económicas e para a manutenção dos serviços necessários às populações aí residentes, atenuando as assimetrias e valorizando todo o território nacional".

Os responsáveis destas 14 associações setoriais sublinham que "têm sido os agricultores e os produtores de gado que, em resposta aos desafios deste Governo, têm colocado todo o seu esforço e investimento no terreno, rejuvenescendo e modernizando o setor agropecuário, contribuindo para uma menor dependência externa do nosso país e fazendo com que o produto nacional seja cada vez mais reconhecido em Portugal e no exterior".

"A pecuária nacional precisa de estabilidade para poder continuar a alimentar o país", alerta o comunicado subscrito pela AATM- Associação dos Agricultores de Trás-os-Montes, ACCLO- Associação dos Comerciantes de Carnes do Concelho de Lisboa e Outros; AMECAP- Associação de Matadouros e Empresas de Carnes de Portugal; ANEB – Associação Nacional dos Engordadores de Bovinos; APED – Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição; APIC – Associação Portuguesa dos Industriais de Carnes; APIFVET –  Associação da Indústria Farmacêutica de Medicamentos Veterinários;  FENAPECUÁRIA – Federação Nacional das Cooperativas Agrícolas de Produtores Pecuários; FEPABO -Federação Portuguesa de Associações de Bovinicultores; FEPASA – Federação Portuguesa das Associações Avícolas; FERA – Federação Nacional das Associações de Raças Autóctones, FPAS- Federação Portuguesa das Associações de Suinicultores; IACA -Associação Portuguesa dos Industriais de Alimentos Compostos para Animais e TECMEAT – Centro de Competências do Setor Agroalimentar para o Setor das Carnes

Por seu turno, as Uniões de Organizações de Produtores Pecuários (OPP) de todo o País, responsáveis pela execução no terreno do Plano Nacional de Saúde Animal, emanado da Regulamentação Europeia, receiam a destruição do conhecimento e da experiência acumulada ao longo dos anos pela Autoridade Veterinária Nacional, DGAV.

"Face ao anúncio pelo Ministério da Agricultura de retirar competências à Direção Geral de Alimentação e Veterinária, estas organizações consideram perigosa e extemporânea, e sem ter sido sujeita a qualquer debate prévio, qualquer decisão que vá no sentido de desconcentrar ações relacionadas com a área animal", acusam estas organizações do setor pecuário nacional.

Segundo este comunicado, "a experiência que as Uniões de OPP têm de trabalho conjunto com a DGAV, há várias décadas, leva-as a recear consequências negativas na operacionalidade e eficiência do serviço, penalizando todo o setor animal, quer do ponto de vista sanitário, quer do de bem-estar, quer mesmo do económico".

"Da análise que as Uniões fazem das mudanças organizacionais em discussão parece-nos que o reforço de meios humanos, materiais e financeiros da Autoridade Veterinária Nacional seriam a principal medida a adoptar para a resolução de muitos dos problemas que agora estão a ser mediatizados, mas que há muito foram já identificados", defendem estes responsáveis, assumindo que "todos sabemos das dificuldades com que se confrontam diariamente as OPP e os serviços centrais e regionais da DGAV de modo a responder às exigências de um setor cada vez mais dinâmico e fundamental para o País".

"Em suma, as Uniões de OPP estão seriamente preocupadas com as transferências de serviços e de competências da DGAV anunciadas, realizadas de forma pouco refletida e fundamentada e que poderão afetar o normal funcionamento das ações de saúde e bem-estar animal, apenas para dar resposta a uma mediatização crescente de um problema que tem como causa principal a perda progressiva e ao longo de muitos anos de meios humanos e materiais daquela estrutura do Estado e que agora poderá conduzir à delapidação de um património centenário de conhecimento e em prol do bem comum do setor animal em Portugal", conclui este comunicado, assinado pela Uniões de OPP de Entre Douro e Minho, Beira Litoral, Beira Interior, Ribatejo e Alentejo.

Por fim, a ANEB – Associação Nacional de Engordadores de Bovinos mostra-se "estupefacta" com posição da ministra da Agricultura sobre esta matéria.

"A ANEB, Associação Nacional de Engordadores de Bovinos, vem manifestar a sua estupefação pelos desenvolvimentos que hoje ocorreram no parlamento, com a ministra da Agricultura a dar conhecimento que os animais de companhia deixariam de estar sob tutela do seu ministério para passarem para o Ministério do Ambiente em estrutura a criar", critica esta associação.

Segundo os responsáveis da ANEB, "esta posição surge como corolário de um processo que teve origem no incêndio que atingiu o canil de Santo Tirso, que vitimou 73 animais de companhia, e depois de uma acérrima campanha, oportunista e perniciosa, que o PAN encabeçou e que começou, desde logo, a pôr em causa a competência da DGAV e a dos seus profissionais, bem como a sua tutela, o Ministério da Agricultura".

"Considera a ANEB que a posição da ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, deveria ser a de defender a estrutura orgânica existente e, objetivamente, o seu organismo mais visado – a DGAV – lutando para que à mesma fossem disponibilizados meios humanos e materiais que lhe permitisse responder melhor às enormes necessidades do país nestas áreas. A própria ministra reconheceu, na sua intervenção de hoje [ontem] na Comissão de Agricultura e Mar, que o corpo de veterinários da DGAV era insuficiente e que deveria ser reforçado. Sendo do conhecimento geral o esforço e dedicação destes profissionais, apesar da evidente escassez de meios", advoga a ANEB.

De acordo com esta associação, "a questão é que esta alteração orgânica que agora se perspetiva, a qual vai,
necessariamente, enfraquecer o Ministério da Agricultura e desmembrar a DGAV, não faz tecnicamente qualquer sentido e contraria todo o histórico de trabalho e afetação de competências que o nosso país, como muitos outros, têm definido para estas áreas".

"A ANEB associa-se e acompanha a posição assumida pela Ordem dos Médicos Veterinários, que considera esta opção 'um erro crasso', defendendo ainda o seu bastonário, Jorge Cid, que as competências sobre os animais 'têm de estar dentro de uma estrutura médico-veterinária', como é o caso da DGAV. Será que se pretende que o bem-estar animal, que é uma questão de saúde pública, seja tutelado por outros profissionais que não os médicos veterinários? Quais?", questiona-se a associação.

A direção da ANEB considera que "não pode ser um caso isolado, e o trágico acidente que todos lamentamos, a pôr em causa a estrutura do Estado, nem será a criação de um novo organismo a resolver, como que por magia, os problemas que o nosso país tem nestas matérias".

"Também os engenheiros agrónomos e zootécnicos consideram que a criação de uma nova estrutura não resolve as questões em apreço. Tal, defende a ANEB, só será conseguido com a dotação de meios às entidades competentes e com um Ministério da Agricultura forte e não sujeito a pressões e a modas políticas. Considera a ANEB que esta posição incompreensível do Ministério da Agricultura é tecnicamente indefensável e resultará numa cedência à agenda animalista e radical do PAN que, de forma demagógica, aproveitou o trágico acidente de Santo Tirso para enfraquecer o Ministério da Agricultura e os seus organismos e mais facilmente atentar contra o mundo rural e contra o setor agropecuário", denuncia o referido comunicado.

No entender da ANEB, "o PAN, que após o acidente de Santo Tirso, acusou a DGAV de ter uma visão 'produtivista e de defesa dos interesses dos agentes económicos' e defendeu a criação de um novo organismo que deveria regular, para além, de todas as matérias relativas à saúde e bem-estar animal, 'as condições de produção, transporte e abate de animais de pecuária', revelou, desde logo, o seu real objetivo com esta pretensão".

"Já hoje [ontem], depois da posição assumida pela Ministra da Agricultura, que foi criticada pela generalidade dos partidos, o PAN veio lamentar o facto desta decisão 'ser apenas destinada aos animais de companhia e não a todos os animais, nomeadamente, os de pecuária', não escondendo a agenda radical e o combate que há muito estabeleceu
contra o setor agropecuário e o mundo rural", insiste a ANEB.

Para os responsáveis desta associação, "o setor agropecuário garante a não desertificação do interior e a valorização do território nacional em toda a sua extensão, exigindo igualmente o desenvolvimento de todas as atividades económicas e a manutenção dos serviços necessários às populações aí residentes, contribuindo para atenuar as assimetrias".

"Não pode uma atividade estratégica, que envolve tantos milhares de portugueses e que se afirma fundamental para o nosso país, ser colocada em causa pelo oportunismo de quem vê num lamentável acidente uma oportunidade para pôr em causa instituições e o interesse nacional, para daí retirar dividendos políticos. A ANEB tem representatividade em todo o território continental e Açores, assumindo maior expressão nas regiões da Estremadura, Ribatejo e Alentejo, e encontra-se disponível para contribuir para medidas sustentadas e equilibradas que defendam o mundo rural, o bem-estar animal e o interesse nacional", conclui o comunicado em questão.