sábado, 22 de agosto de 2020

Alga reduz em 80% as emissões de metano pelo gado

21.08.2020 às 20h50

Uma empresa criada pela agência nacional científica australiana vai comercializar um aditivo que poderá dar uma contribuição para reduzir o aquecimento global
LUÍS M. FARIA
Um aditivo alimentar à base de uma alga que reduz substancialmente a emissão de metano pelo gado bovino vai ser comercializado por uma empresa criada especialmente para o efeito na Austrália. A empresa, FutureFeed, é uma iniciativa da agência científica nacional, a CSIRO, depois de cinco anos de testes comprovarem os efeitos da asparagopsis taxiformis, a alga em questão.

A diminuição das emissões de metano é importante para combater o aquecimento global, pois essa substância é ainda mais eficaz do que o dióxido de carbono a prender o calor na atmosfera. Nos EUA, cerca de dez por cento dos gases com efeito de estufa referem-se ao metano, com o gado responsável por entre metade e um quarto desse total.

O aditivo funciona inibindo a produção de metano por parte de microorganismos que intervêm durante o processo normal de digestão nos animais. Segundo vários estudos confirmaram (pelo menos um deles, realizado na Penn State University e citado na digitaltrends,com, utilizou alga colhida ao largo dos Açores), um suplemento de não mais do que 0,5 por cento de asparagopsis taxiformis na ração animal reduz em cerca de 80 por cento as respetivas emissões de metano.

Isto acontece sem que o rendimento dos animais seja prejudicado - e até, possivelmente, melhorando-o. A CSIRO estima que, se dez por cento das explorações pecuárias em todo o mundo utilizassem o novo aditivo, o efeito agregado seriam 120 megatoneladas a menos de metano emitidas, o que equivaleria a menos cinquenta milhões de carros na estrada todos os anos.

O aditivo deverá começar a ser comercializado na Austrália em meados do próximo ano, seguindo-se o mercado internacional. Não deverá ser fácil, contudo, atingir os efeitos de escala desejados. Primeiro, porque nem todos os animais parecem apreciar o sabor resultante. Depois, há 1,5 mil milhões de cabeças de gado no mundo, e as algas necessárias não podem simplesmente ser colhidas no oceano, por razões ambientais e não só, tendo de ser cultivadas em explorações próprias.

Por último, não é impossível que os micróbios comecem a adaptar-se ao aditivo e a anular até certo ponto os seus efeitos, como antes sucedeu noutros casos. Os estudos já realizados não bastam para ter certezas quanto a isso.

Estas reservas, expressas por um professor de nutrição aquando da apresentação dos resultados de um estudo no encontro da American Dairy Association o ano passado, não impedem um sentimento geral de otimismo em relação ao potencial do aditivo para ajudar a reduzir as emissões de metano pelo gado. A maioria das quais, contrariamente à ideia comum, têm a ver não com flatulência mas com arrotos.

sexta-feira, 21 de agosto de 2020

CNA e CAP defendem intervenção portuguesa, espanhola e da UE para travar "presunto ibérico americano"


20 ago 2020 17:58

As confederações Nacional da Agricultura (CNA) e dos Agricultores de Portugal (CAP) defenderam hoje a intervenção dos governos português, espanhol e da UE na proteção do porco e presunto ibéricos, a confirmar-se o uso abusivo destas denominações nos EUA.
CNA e CAP defendem intervenção portuguesa, espanhola e da UE para travar
Em causa está a importação, por duas empresas norte-americanas, de porcos pretos da Península Ibérica para fabricarem, nos estados do Texas e da Geórgia, aquilo que designam de "presunto ibérico americano".

Em declarações à agência Lusa, o dirigente da CNA João Dinis considerou que, "a confirmar-se esse tráfico que adultera na origem um produto de qualidade reconhecida – o porco ibérico, uma raça autóctone, e os seus derivados, particularmente o presunto – é mais uma má consequência do sistema".


"É uma situação que é necessário impedir e para a qual devem convergir imediatamente os governos português e espanhol e a União Europeia [UE], para tomarem medidas para impedir mais uma traficância que ameaça a produção nacional e a produção ibérica e uma marca tão apreciada e que deve ser certificada: o porco ibérico e o seu derivado presunto", sustentou.

Salientando que "o credenciado presunto ibérico tem a ver não só com a forma como os animais são gerados, com a sua linha genética (que, no caso de uma raça autóctone, é algo que é preciso assegurar), mas também com o seu 'habitat' e as suas condições de crescimento", João Dinis considerou ser "muito difícil convencer alguém de como se produzem porcos ibéricos nos EUA".



"Isto é uma concorrência altamente desleal. Venha lá o Trump ou deixe de vir, isto tem de ser impedido", sustentou.

E se, para o dirigente da CNA, o atual momento tem de ser "de convergência com Espanha, porque há um perigo muito grande e real" que ameaça os dois países, João Dinis alerta que, numa fase posterior, o Governo português deve pensar em como "acautelar o interesse nacional nesta matéria".

"Agora o momento é de convergência com Espanha, na União Europeia, mas conseguido que seja este desígnio, então também podemos aproveitar a embalagem e passar ao esclarecimento, normatização e defesa do interesse nacional da nossa produção desta raça de porcos perante Espanha, porque isso também está longe de ser uma coisa clara", advertiu.

Também para o secretário-geral da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), Luís Mira, não é o facto de se importarem porcos pretos ibéricos para os EUA que vai substituir a produção autóctone deste animal e dos seus derivados.

"Eles podem levar os porcos pretos para os EUA ou para onde quiserem. Mas isso era a mesma coisa que levar as castas de uva de Champagne ou de vinho do Porto e dizer que é vinho feito nos EUA. Podem fazer um enchido ou um qualquer presunto americano, mas nunca é um presunto de bolota ibérico, porque isso é uma denominação de origem que está protegida", afirmou em declarações à Lusa.

Recordando que a defesa das denominações protegidas do espaço europeu tem sido "uma preocupação da União Europeia nos acordos comerciais que tem vindo a celebrar", Luís Mira considera que, a verificar-se a utilização abusiva nos EUA da designação de origem 'ibérica', "de certeza que as autoridades espanholas, e as portuguesas igualmente, não deixarão de o contestar".

"Eles podem lá ter porcos pretos – até têm, em Las Vegas, as pirâmides do Egito – mas não é aceitável que sejam comercializados como um produto com origem na Península Ibérica, isso é que é inaceitável. Podem chamar-lhe outra coisa qualquer, agora presunto ibérico é que não", afirmou.

Para o secretário-geral da CAP, "se se provar que há comercialização com a denominação 'ibérica' ou de presunto 'de pata negra' (produto com denominação de origem e proveniente de porcos que são alimentados no montado ibérico, tanto em Portugal como em Espanha), há processos na OMC [Organização Mundial do Comércio] e toda uma questão legal que pode ser espoletada".

De acordo com o jornal britânico "The Guardian", a iniciativa de produzir presunto 'ibérico' nos EUA partiu das empresas norte-americanas Acornseekers, na Flatonia, Texas, e Iberian Pastures, no estado da Geórgia, a primeira pertencente a dois espanhóis e a segunda a um hispano-americano.

Estas duas empresas decidiram começar a importar porcos pretos ibéricos para os EUA, com o objetivo de fabricarem o seu próprio "presunto ibérico americano".

"O jogo deles passa por aceder ao mercado americano com melhores condições e preços do que os produtores espanhóis", considera o consultor da indústria de presunto Constantino Martínez, citado pelo diário britânico, antevendo que "vão, depois, começar a exportar para a América Latina e para a Ásia, onde o presunto ibérico é muito popular".

Constantino Martínez acusa o Governo espanhol de inação, ao permitir a exportação de porcos pretos autóctones para os EUA, e destaca que alterar a dieta destes animais - como reivindica que estas empresas estão a fazer, alimentando-os com produtos locais como amendoins, nozes 'pecan' e sementes de girassol - vai alterar o sabor da carne.

Marcas “Porto”, “Port” e “Douro” protegidos no Reino Unido após Brexit

Jornal Económico com Lusa 20 Agosto 2020, 19:04

O instituto público explicou, em comunicado, que na sequência da saída do Reino Unido da União Europeia ('Brexit), apresentou em março de 2019 um pedido de registo de "Douro", "Porto" e "Port" como marcas de certificação, junto do Instituto da Propriedade Intelectual do Reino Unido (UK Intellectual Property Office).

O Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP) anunciou hoje que as denominações de origem "Douro" e "Porto", incluindo a designação "Port", estão protegidas no Reino Unido, após um pedido de registo feito na sequência do 'Brexit'.


O instituto público explicou, em comunicado, que na sequência da saída do Reino Unido da União Europeia ('Brexit), apresentou em março de 2019 um pedido de registo de "Douro", "Porto" e "Port" como marcas de certificação, junto do Instituto da Propriedade Intelectual do Reino Unido (UK Intellectual Property Office).

Gilberto Igrejas, presidente do IVDP, referiu que até à ocorrência do 'Brexit' estas denominações de origem estavam protegidas no Reino Unido ao abrigo da regulamentação Europeia e do sistema de registo europeu de indicações geográficas (eAmbrosia).

Acrescentou que "a incerteza, que a esta data ainda se mantém, quanto à proteção de denominações de origem e indicações geográficas naquele país terceiro exigiu uma atuação preventiva da parte do IVDP".

"Independentemente do resultado das negociações em curso e quanto a esta matéria, Porto, Port e Douro já estão protegidos no Reino Unido", frisou o organismo que tem sede no Peso da Régua.

O registo foi concedido em 10 de agosto para as marcas de certificação "Douro" e "Port" e em 11 de agosto para a marca de certificação "Porto".

O Reino Unido é um importante mercado de exportação para os vinhos da Região Demarcada do Douro.

Segundos dados do IVDP, entre janeiro e junho foram exportados para aquele mercado cerca de 10 milhões de euros de vinho do Porto e 1,9 milhões de euros de vinhos DOP Douro.

O IVDP tem como missão certificar, controlar, proteger e promover as Denominações de Origem Porto e Douro e Indicação Geográfica Duriense em Portugal e no mundo.