quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Escândalo com matadouro polaco. Carne de vacas doentes pode ter chegado a Portugal


Um matadouro na Polónia foi apanhado por câmaras de televisão a preparar carne de vacas com feridas e tumores. Europa está em alerta.

Imagens captadas com câmara oculta, emitidas pelo canal TVN24 mostram animais doentes a serem mortos num matadouro situado na região de Mazóvia TVN24
A União Europeia está em alerta. Carne de um matadouro polaco apanhado a abater animais doentes pode ter chegado a nove Estados-membros. O Ministério da Agricultura português garante que foi reforçada a fiscalização e que até agora não foi detectado nenhum problema.

O escândalo estourou no último sábado. Imagens captadas com câmara oculta e emitidas pelo canal TVN24 mostram animais doentes a serem mortos num matadouro situado na região de Mazóvia, a pouco mais de cem quilómetros de Varsóvia. O controlo veterinário era pouco ou nenhum. Havia vacas que nem conseguiam manter-se de pé. Ao preparar a carne para vender, os trabalhadores retiravam feridas, tumores e outros sinais de que a carne estava imprópria.

O alarme propagou-se. A Polónia é um dos principais produtores de carne da União Europeia. Produz cerca de 560 mil toneladas de carne bovina por ano e vende 85% para o exterior. 

Quem estava a consumir aquela carne? Dentro do espaço comunitário não há operações e importação e exportação, há livre circulação de pessoas e bens. As autoridades puseram-se a investigar. E a Euronews avançou esta manhã que entre os países de destino da carne que saía daquele pequeno matadouro estão Portugal, Estónia, Finlândia, França, Hungria, Lituânia, Roménia, Suécia e Espanha.

Agora, a prioridade "é rastrear e retirar do mercado todos os produtos oriundos deste matadouro". "Eu peço aos Estados-membros afectados que tomem medidas rápidas", declarou, em comunicado, o comissário europeu responsável pela segurança alimentar, Vytenis Andriukaitis, 

Em Portugal, segundo adiantou o Ministério da Agricultura, a Direcção-Geral de Alimentação Veterinária reforçou a fiscalização dos matadouros, uma vez que alguns funcionam como interpostos de carne. Outras entidades, como a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE), reforçaram o controlo de outros pontos de distribuição de carne. Para já, não foi detectada carne contaminada.

O caso levanta dúvidas sobre os mecanismos de controlo instituídos dentro do espaço comunitário. "Exorto as autoridades polacas a concluírem urgentemente as suas investigações, tomando todas as medidas necessárias para garantir o respeito da legislação da UE, incluindo sanções eficazes, rápidas e dissuasivas contra os autores de um comportamento criminoso que representa um risco para a saúde pública e retrata um tratamento inaceitável dos animais", escreveu Vytenis Andriukaitis.

Seca agravou-se e isso reflete-se sobretudo na agricultura


A falta de precipitação em janeiro tem agravado a seca meteorológica, principalmente no Sul do país, mas a situação não é tão preocupante como a ocorrida no ano passado

2019-01-28 13:14 / SS

A falta de precipitação em janeiro tem agravado a seca meteorológica, principalmente no Sul do país, embora a situação não seja tão preocupante como a que ocorreu em 2017 e que se prolongou até ao início do ano passado, revelou o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).

Em relação ao ano passado, obviamente, que não estamos tão mal, porque também não tivemos uma sequência de meses anteriores com ausência de precipitação. Agora, em dezembro e em janeiro é que houve valores de precipitação abaixo do que é normal. Dezembro já foi bastante abaixo, sobretudo nas regiões do Sul, onde houve muito pouca precipitação, e agora em janeiro agravou-se essa situação", disse a meteorologista do IPMA Vânia Lopes.

Vânia Lopes explicou que atualmente Portugal enfrenta um valor que é apenas de 20% em relação ao que é normal para janeiro, mês em que se verificaram só "quatro dias com valores de precipitação e apenas nas regiões do Norte e Centro, o que também está muito abaixo do que é normal" para esta altura.

Temos uma situação de fraca precipitação neste mês que poderá levar a um agravamento da situação de seca que se fazia sentir. A 'seca fraca' do final de dezembro poderá ter um agravamento. O final deste mês poderá ficar com uma situação entre a 'seca fraca' e a 'seca moderada'", disse, salientando que a situação poderá alterar-se com a precipitação prevista para o final do mês, sobretudo para terça e quarta-feira.

A meteorologista realçou que esta é uma "seca meteorológica", associada à ausência de precipitação, que se distingue da "seca hídrica", originada pela falta de água nas barragens e sistemas de retenção.

Estamos em meses em que é preciso que ocorra mesmo essa precipitação. Quando temos meses de dezembro e janeiro em que não ocorre precipitação - e com as temperaturas em dezembro a terem valores elevados para a época - tudo isso tem contribuído numa secagem maior do solo, e isso reflete-se logo sobretudo na agricultura, que é o setor logo com o primeiro impacto", acrescentou.

A Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) mostrou-se este mês "apreensiva" devido à falta de chuva, defendendo a criação, por parte do Governo, de um grupo de trabalho permanente que estude os fenómenos das alterações climáticas.


Também a Associação dos Agricultores do Distrito de Portalegre se mostrou "apreensiva" devido à falta de chuva na região, considerando que a situação poderá comprometer o desenvolvimento das pastagens e das culturas instaladas de outono/inverno.

O ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, garantiu que estão a ser tomadas as "medidas necessárias para combater a seca" que possa vir a assolar o país.

De acordo com o ministro do Ambiente e da Transição Energética, está a ser feito "um vastíssimo investimento", partilhado pela Empresas de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva e a Águas de Portugal, no sentido de, "no sul do país, se construir um conjunto de ligações entre albufeiras".

De acordo com índice meteorológico de seca (PDSI) disponível no 'site' do IPMA, 53,3% do território estava na classe de seca fraca em 31 de dezembro, 13,7% na classe normal e 33% na classe de chuva fraca.

O IPMA classifica em nove classes o índice meteorológico de seca, que varia entre "chuva extrema" e "seca extrema".

Segundo o Boletim Climatológico do IPMA, o mês de dezembro em Portugal Continental classificou-se como quente em relação à temperatura do ar, com a temperatura máxima a alcançar o terceiro valor mais alto em 87 anos, e muito seco em relação à precipitação.

O próximo PDSI, relativo a janeiro, deve ser conhecido na primeira semana de fevereiro.

Ministro da Agricultura admite "alguma preocupação" com seca a sul


28 DE JANEIRO DE 2019 - 16:39
Capoulas Santos está em Bruxelas e admitiu que o sul do país está confrontado com uma "seca fraca", mas acredita que os próximos tempos podem ajudar a melhorar a situação que se vive no país.

O ministro da Agricultura, Capoulas Santos, manifestou, esta segunda-feira, em Bruxelas preocupação com a situação de "seca fraca" no sul de Portugal, ressalvando que as previsões apontam para o regresso da chuva em fevereiro.

"Não escondo alguma preocupação", disse aos jornalistas Luís Capoulas Santos, à margem do Conselho de ministros da Agricultura da União Europeia (UE), acrescentando: o sul do país está confrontado "com aquilo que poderemos convencionar como seca fraca".

"As pastagens, os cereais, para além da recarga das águas subterrâneas ou mesmo das albufeiras, podem começar a sofrer efeitos negativos", reconheceu Capoulas Santos, adiantando que as estimativas apontam que fevereiro seja um mês com chuva.

No ano passado, lembrou, março foi um mês muito chuvoso, o que permitiu repor o nível das barragens.

No início de janeiro, a Associação dos Agricultores do Distrito de Portalegre mostrou-se "apreensiva" com a falta de chuva na região, considerando que a situação poderá comprometer o desenvolvimento das pastagens e das culturas instaladas de outono/inverno.

"Estamos em pleno inverno e o mês de dezembro não foi normal. Começa a preocupar-nos um bocadinho esta situação", afirmou então a presidente da associação de agricultores, Fermelinda Carvalho, em declarações à agência Lusa.

Segundo relatou a responsável associativa, as pastagens naturais, "já nascidas", e as culturas de outono/inverno podem ficar "comprometidas" caso não chova nas próximas semanas.

"A situação não é dramática, mas estamos apreensivos, porque não se perspetivam nos próximos dias tempos chuvosos, o que era bom", disse.

A presidente da associação de agricultores mostrou-se ainda preocupada com o futuro das reservas de água nas albufeiras, uma vez que esta altura do ano seria a época de armazenamento para garantir, depois, o abeberamento dos animais.

Portugal continental estava no final de dezembro em seca meteorológica fraca a sul do Tejo devido aos baixos valores de precipitação registados naquele mês, classificado como quente e muito seco, segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).

De acordo com índice meteorológico de seca (PDSI) disponível no 'site' do IPMA, a 31 de dezembro, 53,3% do território estava na classe de seca fraca, 13,7% na classe normal e 33% na classe de chuva fraca.

Segundo o Boletim Climatológico do IPMA, o mês de dezembro em Portugal Continental classificou-se como quente em relação à temperatura do ar e muito seco em relação à precipitação.

Rio defende reforço da "dotação para apoiar" jovens agricultores


O presidente do PSD defendeu hoje o reforço da dotação "para apoio e instalação" de jovens agricultores e a criação de uma linha de crédito que "complemente as subvenções a fundo perdido" para combater a desertificação no interior.
 Rio defende reforço da "dotação para apoiar" jovens agricultores
© Tony Dias/Global Imagens

Notícias ao Minuto
15:56 - 28/01/19 POR LUSA

POLÍTICA PSD

   
"A idade média dos agricultores em Portugal é 65 anos. E só 4% dos agricultores tem menos de 40 anos. Se ligarmos isto à desertificação do interior, parte da explicação está dada. Se queremos mudar estes números dramáticos da ausência de jovens na agricultura, temos de reforçar a dotação para apoio e criação de jovens agricultores, desburocratizar a apreciação e aprovação de projetos e criar uma linha de crédito que complemente subvenções a fundo perdido", afirmou Rui Rio.

O presidente do PSD, que falava aos jornalistas após uma reunião com a Associação de Jovens Agricultores de Portugal, no Porto, alertou para as perspetivas de "corte de 15% nas verbas destinadas ao investimento na agricultura no novo Quadro Comunitário de Apoio [QCA]".

"Se olharmos ao que são as perspetivas novo QCA, verificamos que no segundo pilar, das verbas destinadas ao investimento na agricultura, existe um corte de 15% em preços correntes. Se colocarmos a inflação, a quebra é de 20%. São quebras muito grandes", observou.

Para Rui Rio, "uma das medidas importantes para termos mais jovens agricultores é compreendermos as especificidades do início da carreira e perceber que, quando um agricultor quer comprar terreno para agricultura, tem dificuldade em conseguir crédito".

"O terreno não tem a mesma liquidez que tem uma casa num grande centro urbanos", alertou.

Para o social-democrata, é "necessário que o Estado perceba que a ausência de histórico bancário e investimento necessário tem de ter essa componente em vista, sob pena de os apoios não surtirem o efeito que se pretende".

Rui Rio, que já ouviu várias associações do setor, admitiu que "todas disseram que o PSD, desde há uns anos, foi abandonando o setor, não lhe dando a devida atenção".

"É algo que me preocupa. Espero conseguir que, daqui por um ano ou dois anos, não possam fazer o mesmo reparo", observou.

Rui Rio esclareceu que o que está em causa é "dar mais atenção ao setor agrícola", tendo, por exemplo, algo que não existe atualmente, que é um "deputado com formação no quadro agrícola" no Parlamento Europeu.

Governo regula regime de apoio a projetos no âmbito do programa de regadios


O Governo regulou hoje o regime de apoio a conceder aos projetos no âmbito do Programa Nacional de Regadios (PNRegadios), definindo que as operações podem ser apoiadas até 100% do valor de investimento elegível, foi hoje anunciado.


Lusa
29 Janeiro 2019 — 13:56

"O apoio previsto [...] tem como objetivo promover o uso eficiente da água e da energia e o desenvolvimento do regadio eficiente", lê-se numa portaria publicada hoje em Diário da República.

De acordo com o diploma, pretende-se que estes objetivos sejam alcançados através da disponibilização de água aos prédios rústicos abrangidos por áreas a beneficiar com regadio, da promoção de melhores acessibilidades nas áreas beneficiadas, da dotação de energia elétrica às infraestruturas coletivas nas áreas de regadio, bem como do incentivo à utilização de novas tecnologias e promoção da adaptação dos sistemas de produção ao ambiente.

As operações previstas podem ser apoiadas até 100% do valor de investimento elegível.

Consideram-se como beneficiários do apoio presente na portaria a Empresa de Desenvolvimento e Infraestrutura do Alqueva (EDIA), a Direção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural (DGADR) e as Direções Regionais de Agricultura e Pescas (DRAP).

Os candidatos a este apoio devem "ter a situação regularizada em matéria de reposições" no âmbito do financiamento do Fundo Europeu Agrícola de Desenvolvimento Rural (FEADER) e do Fundo Europeu de Garantia Agrícola (FEAGA) ou terem constituído garantia a favor do Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas (IFAP).

Adicionalmente, têm que apresentar, quando seja o caso, um contrato de parceria "onde estejam expressas as obrigações, os deveres e as responsabilidades de todos os intervenientes, bem como a designação da entidade gestora da parceria".

Por sua vez, os beneficiários são obrigados, entre outros pontos, a executar a operação nos termos e condições aprovados, ter a situação tributária e contributiva regularizada, não locar ou alienar os equipamentos e as instalações cofinanciadas, durante o período de cinco anos a contar da data do pagamento final ao beneficiário e a garantir que todos os pagamentos são efetuados através de uma única conta.

Os beneficiários têm ainda que assegurar a conservação das infraestruturas após a conclusão da obra, a existência de seguros relativos às atividades a realizar no âmbito da operação e a informar, perante qualquer tribunal ou autoridade, sempre que seja instaurado ou iniciado qualquer processo judicial, arbitral ou administrativo contra o beneficiário ou os membros dos seus órgãos de gestão.

Já no que se refere ao desenvolvimento do regadio eficiente, podem beneficiar deste apoio as operações que apresentem um plano de investimento, que cumpram as disposições legais aplicáveis aos investimentos propostos, que tenham um plano de gestão da região hidrográfica e e equipamento de mediação de consumo da água.

As despesas elegíveis para este apoio incluem a "elaboração ou revisão de estudos e projetos e de ações de consultoria, designadamente jurídica, económica, arqueológica e ambiental, desde 01 de janeiro de 2014, bem como o acompanhamento, assistência técnica e fiscalização das obras, até ao limite de 5% da despesa elegível total da operação".

Para efeitos de seleção de candidaturas são considerados os projetos que substituam a utilização de recursos hídricos subterrâneos por águas superficiais, que substituam recursos hídricos superficiais por outros mais sustentáveis, que recorram a fontes de energia renováveis, projetos de regadio de interesse regional ou local, bem como os que têm "viabilidade comprovada" através de estudos.

A apresentação de candidaturas efetua-se através de um formulário eletrónico disponível na página da internet do IFAP.

Cabe igualmente ao IFAP a validação e decisão dos pedidos de pagamento.

O Programa Nacional de Regadios, apresentado pelo Governo em março de 2018, tem como objetivos aumentar, reabilitar e modernizar os regadios existentes e criar novas áreas, com uma dotação de 560 milhões de euros até 2023.

A portaria, assinada pelo ministro das Finanças, Mário Centeno, e pelo ministro da Agricultura, Capoulas Santos, entra em vigor esta quarta-feira.

Agricultores menos dados a investir em 2018

Ajudas pagas pelo IFAP caíram pelo segundo ano consecutivo. Pagamentos por via do PDR2020 Investimento tiveram uma queda de 20% face a 2017

Teresa Costa
27 Janeiro 2019 — 09:43

Os agricultores que se candidataram a programas de financiamento obtiveram no ano passado um total de 1,229 mil milhões de euros em apoios, um valor aquém do que foi alcançado nos dois anos anteriores, segundo o Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas (IFAP).

As verbas pagas em 2018 ficaram 57,8 milhões abaixo das de 2017, e ainda mais longe dos 1,413 mil milhões atribuídos em 2016, no âmbito do conjunto dos programas PDR2020 Investimento, Medidas de Pagamento Único, Vitis, Medidas de Mercado e Seguros e Outros Pagamentos.

O regime do Pagamento Único representa a maior fatia dos apoios agrícolas (891,6 milhões de euros em 2018), e até cresceu 6,5% face a 2017, com mais 140 beneficiários (foram 175 764 no total, no ano passado), embora tenha tido um tombo de 19,5% em relação a 2016.

Já o Programa de Desenvolvimento Rural (PDR 2020) terá sido um dos grandes responsáveis pelo arrefecimento nas ajudas no ano passado. O IFAP pagou 213,6 milhões a quem viu os seus projetos aprovados no PDR2020, menos 20,4% em relação a 2017. Foi uma regressão acompanhada pela perda de 991 beneficiários do programa, que apenas contemplou 5959 candidatos.

Não havendo uma relação direta, a redução nos pagamentos do PDR, associado ao investimento, até é consistente com uma queda de 15,7% na criação de empresas agrícolas em 2018, quando apenas surgiram 1362 unidades, segundo o Observatório Infotrust.

Fonte oficial do Ministério da Agricultura considera ter havido uma "oscilação normal" na evolução dos pagamentos ao longo dos últimos três anos, assinalando que "em 2016 houve um recorde na atribuição de ajudas agrícolas". Por outro lado, admite que, nesse ano, também houve adiantamento de apoios. Entende, assim, que foram "circunstâncias conjunturais" a ditar essa regressão nos pagamentos.

José Martino, consultor agrícola, acredita que, no caso do PDR2020 Investimento, a diminuição de 2017 para 2018 possa ter a ver com "dificuldades de decisão ao nível das estruturas regionais do Ministério da Agricultura", provocando com isso "um congestionamento na autoridade de gestão do programa, que fica sem capacidade de resposta para avaliar e aprovar as candidaturas". A "incorporação de novos técnicos ainda inexperientes" também dificultará as decisões, completa o consultor, não querendo acreditar "que possa haver um arrastamento dos pagamentos para o período eleitoral".

Alentejo sempre em grande
Numa análise por distrito, em 2018, Beja manteve a liderança no volume pago no âmbito das Medidas de Pagamento Único: um total de 8368 beneficiários receberam, no ano passado, 126,2 milhões de euros, mais 8,1% face 2017.

O pódio é partilhado com os distritos de Évora e Portalegre, o que se compreende, tendo em conta que este tipo de ajuda é pago por hectare e cabeça de animal. A presença do empreendimento do Alqueva e as produções que viabiliza nesses distritos terá sido um fator determinante para os resultados alcançados.

Já Bragança, apesar de liderar no número de beneficiários, com 24 038 agricultores, apenas recebeu 74,9 milhões de euros neste tipo de medidas, o que se explica pela proliferação do minifúndio.

Quanto ao PDR2020, é de novo Bragança a tomar a dianteira no número de beneficiários (543, com 13,5 milhões de euros), mas Lisboa recebeu o maior volume de ajudas (46,3 milhões de euros, para 413 beneficiários), o que lhe garantiu a repetição no lugar cimeiro desde, pelo menos, 2016.

Ou seja, terão vindo de Lisboa as melhores e maiores candidaturas ao programa, realidade compreensível se tivermos em conta que o distrito abarca alguns dos mais fortes concelhos agrícolas da região do Oeste, ricos na produção de hortícolas e fruta, por exemplo.

Menos para o vinho
O programa Vitis, de apoio à restruturação da vinha, também registou no ano passado um recuo expressivo, na ordem dos 11%, para 70,2 milhões de euros pagos.

No Vitis, Vila Real, onde estão concelhos importantes da região vinhateira do Douro, reuniu o maior número de beneficiários (663) e também o mais elevado montante de ajudas, com 11,1 milhões de euros, em 2018, embora o distrito tenha caído para o segundo lugar, em 2017, dando nesse ano a posição de topo a Lisboa.

Portugal supera Alemanha e Bélgica na agricultura biológica


Inês Pinto Miguel 30 Janeiro 2019, 10:53

Áustria, Estónia e Suécia superam a média europeia. Portugal tem o mesmo valor da média, mas as lojas biológicas estão a aumentar, o que supõe um aumento de produção.

Os consumidores procuram cada vez mais produtos alimentares de origem biológica, o que tem provocado um crescimento da agricultura biológica na Europa.

A área orgânica na União Europeia correspondia a 12,6 milhões de hectares em 2017, o que implica um uso de apenas 7% na área total de agricultura. Apesar de ser um valor consideravelmente baixo, este número cresceu 25% entre 2012 e 2017, segundo dados divulgados pelo Eurostat esta quarta-feira.

Ainda que a média europeia se situe em 7%, há países que superam largamente esta média. A Áustria é o país que mais utiliza esta agricultura biológica, totalizando um uso de 23,4%, seguido pela Estónia e pela Suécia na casa dos 19%. Itália e a República Checa contabilizam 14,9% e 14,1%, respetivamente. A Finlândia é o último país que se encontra ligeiramente acima dos 10% com um total de 11,4%.

As proporções mais baixas são encontradas em Malta, que apenas utiliza 0,4%, a Irlanda com 1,7, Roménia depende de 1,9%. A Bulgária e o Reino Unido utilizam 2,7% e 2,9% de área orgânica, respetivamente.

Portugal tem exatamente o mesmo número que a média europeia, 7%. Encontra-se abaixo de Espanha e Dinamarca, mas supera países como a Alemanha e a Bélgica.

Apesar de o número ter crescido de 2012 até 2017, uma área classificada como "orgânica" tem de ser certificada pelo regulamento 2092/91, disposto nas normas da União Europeia. Embora um produtor se queira tornar biológico, o processo de conversão pode demorar dois a três anos, dependendo sempre do solo, que é submetido a análises constantes para verificar se é ou continua apto para esta prática.

Em Portugal, existiam 2.641 produtores agrícolas em 2011, que se dividiam por diversas áreas como a vinha, o olival ou mesmo por plantas aromáticas, segundo a Quercus. A agricultura orgânica implica que quem trate da produção, para venda futura, não use fertilizantes sintéticos, agrotóxicos não-orgânicos e produtos reguladores de crescimento. Este sistema de produção deve usar fertilizantes naturais, rotação de culturas, aumento da biodiversidade, compostagem e o controlo de insetos e doenças com recurso a produtos naturais.

Sindicato da Agricultura assina revisão do Contrato Coletivo de Trabalho com a CAP

Maria Teixeira Alves 30 Janeiro 2019, 22:15

O SETAAB – Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Agricultura, Floresta, Pesca, Turismo, Indústria Alimentar, Bebidas e Afinse a CAP (Confederação dos Agricultores de Portugal) assinaram hoje a revisão do Contrato Coletivo de Trabalho (CCT) que regula as relações laborais no setor agrícola.

Em comunicado o sindicato diz que as partes estiveram representadas por Joaquim Venâncio presidente do Sindicato e por Eduardo de Sousa e Luís Mira, respectivamente, Presidente e Secretário Geral da Confederação Empresarial.

Este Contrato Coletivo de Trabalho "constitui um passo importante no fortalecimento das relações e do diálogo bilaterais, com o SETAAB a manter um papel pioneiro na promoção da contratação colectiva e na regulação e reforço das condições de trabalho da generalidade dos trabalhadores que fazem parte deste importante setor da nossa atividade económica", diz o sindicato.

Na cerimónia de assinatura esteve presente a UGT que se fez representar pelo seu Secretário-geral Adjunto, Sérgio Monte, e o Secretário Executivo, Luís Costa.

​Queimadas só com GNR, bombeiros ou sapadores “de alerta”


24 jan, 2019 - 00:04 • Eunice Lourenço (Renascença) e Ana Sá Lopes (Público)

Em entrevista ao programa Hora da Verdade da Renascença e do "Público", o secretário de Estado das Florestas, Miguel Freitas, detalha o grande programa com os municípios para reduzir as queimadas.

Queimadas só com GNR, bombeiros ou sapadores "de alerta"
Está previsto algum tipo de ajuda para os proprietários que tenham dificuldades em proceder à limpeza dos terrenos? 
Há linhas de crédito abertas pelo Governo para apoiar quer proprietários quer municípios. Há outra questão, que é o que queremos fazer relativamente às causas das ocorrências. Temos muitas ocorrências em Portugal e a maior parte delas (52%) são provocadas ainda por queimas e queimadas. Este ano vamos lançar um grande programa com os municípios para reduzir aquilo que são as queimas e queimadas.

Que programa é esse? 
Em primeiro lugar, para as queimas. O que é que são as queimas? São os sobrantes daquilo que são as podas feitas, quer agrícolas quer florestais que se amontoam e se pega fogo. Isso são queimas. Para essas, o que vamos fazer é encontrar parques de recolha dessa matéria, dessa massa combustível, para fazer queimas num único local.
E como é que isso se processa? Os agricultores vão ao parque entregar as matérias... 
Ou assim ou o município vai recolher esse material. Nós vamos apoiar esse trabalho.

Serão parques municipais?
Serão parques municipais. Esse trabalho vai ser feito em articulação com as centrais de biomassa. Se for material que possa ser usado pelas centrais de biomassa, as centrais virão buscá-lo.

E com as queimadas vai ser o mesmo processo? 
As queimadas são diferentes. É queimar no terreno, não juntar. Nas queimadas há duas ações que podemos apoiar. Em primeiro lugar, o pagamento dos alertas. O que é que isto significa? Vamos trabalhar com os municípios no sentido em que eles definam um dia no seu município para queimar. As queimadas são feitas naquele dia. E nós estaremos disponíveis para com os municípios encontrar um mecanismo de alerta para que as forças de segurança, quer a GNR, quer os bombeiros, quer os sapadores florestais, possam fazer o acompanhamento dessas queimadas.

Por exemplo, escolhe-se o dia 15 de junho para fazer queimadas no município de Sernancelhe...

Certo. Basicamente é isso. A nossa ideia é escolher aqueles que são os 40 municípios que têm mais queimas e queimadas no país e fazer um programa integrado. São dois milhões de euros para investir nesta questão e o objetivo é fazer o programa integrado por forma a reduzir, por um lado, aquilo que é o material queimado, sempre que possível, e sempre que se tenha que queimar que exista um acompanhamento.

Mas ainda antes disso está em curso um programa que permite às pessoas avisarem ou informarem se podem ou não.
A grande questão é essa. Com a legislação que saiu, todas as queimas e queimadas a partir de agora têm que ser comunicadas aos municípios. No passado não eram. E para fazer queimadas é sempre preciso autorização do município. Para as queimas é preciso autorização do município durante o período crítico.

Portanto, comunicação e autorização são dois instrumentos que o município passa a dispor para organizar no seu território aquilo que são as queimas e queimadas. Por parte do Estado existe a disponibilidade de trabalhar com as câmaras também na sensibilização. A alteração de comportamentos é muito importante no sentido de reduzir as causas dos incêndios em Portugal. Portanto, trabalhar nos comportamentos e trabalhar nas principais causas que são precisamente as queimas e queimadas.

CNA: São muito altas e com efeitos perversos as áreas – por Unidades de Cultura – fixadas pelo Ministério da Agricultura para manter indivisas, nas heranças, as parcelas florestais.

COMUNICADO


São muito altas e com efeitos perversos as áreas – por Unidades de Cultura – 
fixadas pelo Ministério da Agricultura para manter indivisas, 
nas heranças, as parcelas florestais.

Os graves problemas da Floresta Nacional não se resolvem com medidas administrativistas impostas pelo Ministério da Agricultura e que ignorem os direitos dos proprietários e produtores florestais como mais uma vez acontece, no caso com as áreas mínimas fixadas – por "Unidades de Cultura" - para manter as parcelas florestais "indivisas", nas heranças. 

De facto, através da Portaria nº 19/2019 (e anexos) de 15 de Janeiro, o Ministério da Agricultura e o Governo acabam de fixar a níveis demasiado altos– embora regionalizados -  as áreas mínimas abaixo das quais não será possível dividir (fraccionar), formalmente, os "prédios rústicos" florestais das heranças pelos herdeiros ou seja, essas parcelas vão ficar "indivisas".  Assim, vão permanecer "indivisas" parcelas florestais cuja área não atinja, designadamente,  4 hectares(ha) no Norte, no Alto Minho, Porto, Ave, Cávado, Douro e Tâmega e Sousa e regiões de Aveiro, Coimbra, Leiria, Viseu…  Ou 8 ha, no Alto Tâmega, na Beira Baixa e Serra da Estrela, nas Terras de Trás-os-Montes, no médio Tejo e no Oeste, em parte do Baixo Alentejo e no Algarve… E chegam a atingir os 48 ha mínimos no Alentejo Litoral, na Lezíria do Tejo e nos concelhos de Alcochete, Montijo e Palmela.
Numa primeira apreciação a este assunto, a CNA declara:

A CNA não foi previamente ouvida sobre esta matéria e devia tê-lo sido. Aliás, nem o Conselho Nacional Florestal foi  ouvido sobre a "tabela" em causa, enquanto órgão dito "de consulta" do Ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural. 

A pretexto da criação da "Unidade de Cultura" também para as áreas florestais, basicamente foi transposta, para esse efeito, a "tabela" já antes definida – nos anexos da Portaria nº 152 de 9 de Agosto de 2016 – a qual vigora para as áreas máximas e, ao que agora mais interessa, para as "Unidades de Cultura" (áreas "indivisas") das terras para cultivo, em sequeiro. 

E ao transpor de forma administrativista uma tal "tabela", de igual forma se vão transpor os principais problemas daí resultantes e já detetados nas terras de cultivo em sequeiro (e também em regadio).

Pois, colocar as fasquias tão altas para definir as áreas mínimas – "Unidade de Cultura" para a Floresta - nos valores agora adoptados pelo Ministério da Agricultura e pelo Governo para as heranças permanecerem indivisas, isso NÃO  vem ajudar em nada que, para ser de facto útil, teria, primeiro, que ser justo e prático e não nos parece que o seja.
Em primeiro lugar, estas áreas mínimas, embora regionalizadas, vão logo impedir o fracionamento - as partilhas formais - da larga maioria das heranças, agora também das parcelas florestadas, sobretudo a Norte do Rio Tejo e no Algarve. 

A "rentabilidade económica e financeira" em prejuízo do social e do ambiental.
 É  a teoria da "rentabilidade económico-financeira" que também preside a esta nova tabela de áreas mínimas para os "indivisos" – a partir da "Unidades de Cultura" na Floresta - e já sabemos que essa teoria da "rentabilidade" tem pretendido justificar medidas e opções injustas com muitos "erros de cálculo" e muitos atropelos oficiais a recaírem – negativamente - sobre a Agricultura Familiar e o Mundo Rural.

E, a seguir, qual dos herdeiros assume o direito sucessório com a titularidade dessas parcelas "indivisas" e como "indemniza" ele os outros legítimos herdeiros ?  Quem, de entre os herdeiros, fica a pagar os impostos dessas mesmas parcelas, sendo que, muitas vezes, o "cabeça de casal" não se dispõe a isso ? ... A seguir, por falta de pagamento dos impostos, as Finanças vêm e penhoram o quê, a que valor, para quê e para quem ?

Estímulo virado para a concentração forçada da propriedade rústica, 
no caso florestal

Estas novas, e altas, áreas mínimas surgem, aliás, no momento em que múltiplas  dinâmicas governamentais atiram para a concentração da propriedade, não raras vezes a obter por autêntica espoliação prática dos "prédios rústicos", florestados ou não, dos pequenos e médios Agricultores.  Assim, esta "tabela" das áreas mínimas de "indivisos", também na Floresta, é um grande obstáculo a mudanças de titularidade pelo que "só" vêm servir para travar, entre herdeiros,  a exploração e usufruto das parcelas.

Ou seja, estas áreas mínimas vão contribuir para, nalguns casos, promover a concentração da propriedade rústica e, por outro, vão contribuir para o aumento dos terrenos ditos "sem dono conhecido" os quais vão ficar sujeitos aos "apetites" – económicos e financeiros - dos maiores proprietários ou produtores florestais.  
                        
É ainda provável que vão baixar, ainda mais, os preços de compra e venda do metro quadrado dessas áreas/parcelas, agora "indivisas", sobretudo nos casos de herdeiros sem apetência para lá irem investir, eles próprios...   No previsível contexto, muitos dos herdeiros de "indivisos" vão aceitar vender essas parcelas por tuta e meia e, mesmo assim, se houver quem lhas queira comprar...

Assinale-se também que, depois de tanta conversa e, até, depois de investimentos públicos em torno do "associativismo para ganhar escala" – por exemplo, com as ZIF, Zonas de Intervenção Florestal -  parece que esta dinâmica  pela via associativa já deixou de ser prioritária para o Ministério da Agricultura e o Governo pois, agora, colocam de novo a tónica no domínio do "económico e financeiro".  

Esta posição oficial é altamente preocupante pois tem sido esse um dos principais efeitos estratégicos imposto, há décadas, pela grande indústria das fileiras da Madeira que determinou a Floresta que temos e que tanto nos tem preocupado e prejudicado como  Floresta industrial, (super) intensiva e monocultural.
Estratégico e estruturante é fazer aumentar os Preços da Madeira na Produção.

Entretanto, Governo e Governantes fogem a enfrentar o aspecto, verdadeiramente estratégico, da necessidade em fazer aumentar os Preços da Madeira na Produção – enquanto factor económico mais estruturante. E sem fazer aumentar os Preços da Madeira na Produção, não há "gestão activa da Floresta" pelo menos no respeito pelos direitos dos pequenos e médios proprietários e produtores florestais, incluindo o respeito pelo direito de propriedade.

Outro vector administrativo que deveria ser prioritariamente definido e aplicado, é o de reduzir burocracias, reduzir emolumentos e outros encargos asfixiantes agora exigidos para legalização dos prédios rústicos de pequena e média dimensões, florestados ou não.

Neste nível, as isenções e reduções fiscais para a Floresta terão efeitos mínimos no minifúndio em que os rendimentos são já tão pequenos que não atingem os escalões fiscais contributivos que há até agora.  Ou seja, quem mais sairá beneficiado com novas isenções ou reduções fiscais vão ser os maiores entre os grandes proprietários ou produtores Florestais , afinal, como este "sistema" manda que aconteça !...



Coimbra, 29 de Janeiro de 2019     //     A Direcção da CNA

terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Grão quinoa com três mil anos descoberto no Canadá. "Foi quase um choque", diz cientista


Alguém na região de Ontário torrou sementes de quinoa há cerca de três mil anos. O achado deste cereal da antiga dieta dos incas, na América do Norte, foi uma enorme surpresa para os cientistas - e levanta muitas questões

Para os cientistas foi uma enorme surpresa, "quase um choque", como confessa o arqueólogo Gary Crawford, da Universidade de Toronto. "Foi a primeira vez em 45 anos de trabalho que estive tão próximo de sentir um choque", disse o investigador, citado pelo Smithonian.com. "Fiquei mais maravilhado e surpreendido do que chocado, mas foi um daqueles momentos OMG [Oh My God!], que se tem por vezes quando se faz investigação", contou.

Não é caso para menos. A descoberta, relatada pela sua equipa na revista científica American Antiquity, não é menos do que extraordinária, já que esta foi a primeira vez que se encontrou tão a norte, no continente americano, a presença de sementes deste cereal associado à antiga dieta dos incas com cerca de três mil anos.

A equipa identificou dezenas de milhares de sementes num sítio arqueológico de Brantford, no Ontário, mas foi só ao analisar os sedimentos recolhidos no local que se apercebeu da verdadeira natureza dos pequeníssimos grãos.

As sementes estão queimadas e os cientistas supõem que aquele terá sido o resultado de uma torragem que correu mal. Mas como explicar, em primeiro lugar, a sua presença tão a norte no continente americano?

A verdade é que não há uma resposta definitiva, pelo menos ainda. De acordo com a equipa, só no século VI este cereal começou a ser cultivado mais a norte, na América, por isso, esta descoberta pode indicar uma de duas coisas: ou chegaram ali apenas como fruto de uma troca entre tribos, ao longo de uma rota de intercâmbio de produtos ou, o que é menos plausível, indicam que haveria ali algum cultivo local deste cereal.

Os cientistas inclinam-se pouco para esta última hipóteses, uma vez que não há - nem nunca houve até agora - quaisquer indícios do seu cultivo ali há três mil anos, mas na verdade, não há certezas.

Por isso, a equipa tenciona agora recolher amostras de diferentes coleções de cereais na região e analisar também as espécies selvagens em busca de novas pistas.

Portugal começa a exportar porcos para China esta quarta feira. Negócio gera 100 milhões de euros

29.01.2019 

Negócio deverá movimentar 100 milhões de euros, com cerca de dez mil animais abatidos por semana, em 2019, e pode duplicar em 2020

Os produtores portugueses começam esta quarta-feira a exportar carne de porco para a China, através de três matadouros, um negócio que deverá movimentar 100 milhões de euros, com cerca de dez mil animais abatidos por semana.

"Esta primeira encomenda é de dez contentores. Em termos anuais, estamos a falar de um volume de negócios de 100 milhões de euros e cerca de dez mil animais, por semana, abatidos e transformados", disse à Lusa um dos membros da direção da Federação Portuguesa de Associações de Suinicultores (FPAS), Nuno Correia.

No total, através do Porto de Sines, distrito de Setúbal, os dez contentores vão transportar 270 toneladas de carne, no valor de um milhão de euros, para província chinesa de Hunan.

Porém, "é muito provável que haja uma atualização destes valores, a partir de setembro, já que a China está a dar indicações de querer antecipar os números em vista para 2020", antecipando-se assim uma movimentação de 200 milhões de euros.

Inicialmente, o arranque das exportações estava previsto para dezembro. No entanto, o tráfego de contentores provocado pela greve dos estivadores eventuais de Setúbal acabou por atrasar o processo.

"Foi um caminho difícil, mas, finalmente, vamos dar início à exportação de carne de porco portuguesa para a China. Portugal tem que exportar para crescer e para chegar à autossuficiência e a China vai [contribuir] para esta estratégia de internacionalização do país", vincou.

O acordo em causa foi celebrado com o ACME Group, ficando o ICM, a Agmeat e a Montalva responsáveis pela exportação.

"Para já, queremos também que estes matadouros possam exportar outras partes do porco, nomeadamente, as unhas, as orelhas e as miudezas", acrescentou.

Adicionalmente, até setembro, vai ocorrer uma nova vistoria para tentar homologar mais três matadouros em Alcanede, Montijo e Lisboa.

O início das exportações de suínos portugueses para a China vai ser assinalado numa cerimónia oficial que vai contar com a presença do ministro da Agricultura, Capoulas Santos, e do embaixador da China em Portugal, Cai Run.

Nuno Correia adiantou ainda à Lusa que, na sequência do recente encontro entre a FPAS e o Governo de Hunan, ficou acordado que Portugal vai também ter um centro de demonstração e degustação dos produtos portugueses, como o vinho, a fruta e também a carne de porco.

"Tenho a certeza de que este é um passo de gigante. Dá alternativa aos produtores portugueses para venderem os seus produtos num mercado bastante apetecível, com volume e com preços muito interessantes de venda", afirmou.

A conclusão deste centro está prevista até ao final de 2019, a partir daí, "a própria província dará todo o apoio ao desenvolvimento e promoção da entrada dos produtos portugueses".

Fundada em 1981, a FPAS é uma associação sem fins lucrativos que visa o estudo e acompanhamento dos problemas relativos à suinicultura.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Filmagens com câmara oculta num matadouro da Polónia mostram vacas doentes a serem abatidas para consumo




As imagens divulgadas pela polaca TVN24, captadas num matadouro na região de Mazóvia, centro da Polónia, mostram vacas incapazes de andar a serem arrastadas para fora de camiões, com cordas amarradas aos chifres ou às pernas. Sem que seja possível detetar a presença de qualquer responsável sanitário, os trabalhadores do matadouro preparam as carcaças dos animais, retirando, segundo o britânico The Guardian, feridas e tumores que indicam que, não só as vacas tinham estado doentes, como também tinham passado vários dias deitadas sobre um dos lados.

Especialistas que tiveram acesso às imagens já se manifestaram preocupados com os possíveis riscos sérios para a saúde humana, apelando ao governo polaco para que se apresse a notificar todos os países europeus.

O The Guardian cita Chris Elliot, especialista em segurança alimentar e fundador do Instituto para a Segurança Alimental Global: "Se há qualquer prova de que alguma desta carne saiu da Polónia, então há o potencial para um alerta de segurança europeu, com o envolvimento das agências reguladoras e, potencialmente, das forças policiais em toda a Europa."

As imagens agora divulgadas foram captadas por jornalistas de um programa de investigação que se infiltraram no matadouro em questão, no final do ano passado. Um dos repórteres, Patryk Szczepaniak, trabalhou no local durante quase três semanas e o seu relato é tão pouco tranquilizador como o vídeo: "Recebi ordens dos meus supervisores para marcar a carne como saudável e, basicamente, torná-la bonita. Foi horrível, acreditem. O cheiro de carne a apodrecer só dá vontade de vomitar. Tinha de a deixar mais bonita, raspando-a com a minha faca."


O veterinário só apareceria no dia seguinte e também ele, segundo o repórter, tinha como tarefa assinar, sem qualquer inspeção, os certificados em como a carne era segura para consumo. "É suposto os veterinários estarem lá antes, durante e depois da matança, mas em quase três semanas a trabalhar no matadouro, só o vi de manhã, a tratar de papelada e a examinar rapidamente as cabeças das vacas", assegura Szczepaniak, que resume: "No papel tudo está bem, mas na realidade é um desastre." É que uma vez com o certificado assinado, a carne já não passa por mais nenhuma inspeção até chegar aos consumidores.

Os dados mais recentes da UN Comtrade, a base de dados das Nações Unidas relativos às trocas comerciais, a Polónia exportou, em 2017, mais de 415 milhões de quilos de carne de vaca, o que corresponde a cerca de 80% da sua produção total.

Na Polónia, é usual publicitar abertamente, online, a venda de vacas "traumatizadas" ou "danificadas", signifcando, normalmente, que os animais nem conseguem levantar-se. Uma vaca nestas condições custa cinco a seis vezes menos que uma saudável.

O responsável pelas inspeções veterinárias da Mazóvia, Paweł Jakubcza, anunciou, em resposta ao programa, emitido sábado à noite, que o veterinário envolvido e o seu supervisor foram dispensados e que a polícia já está a investigar o caso.

Cigarrinhas são chave do combate à bactéria que ameaça agricultura

Um inseto conhecido como cigarrinha é o responsável pela propagação da bactéria Xylella fastidiosa, mas é também a solução para esta ameaça à agricultura, em estudo num projeto internacional que tem como parceiro português o Politécnico de Bragança.

 Cigarrinhas são chave do combate à bactéria que ameaça agricultura
© iStock

Desde a década de 1980 que a bactéria está identificada e tem provocado quebras avultadas nas videiras dos Estados Unidos da América, nos pomares de laranja da Baía do Brasil e nos olivais de Itália. Chegou à Europa em 2013 e, desde então, já foi detetada também em França, Holanda, Alemanha, Espanha e, no início de janeiro, em Portugal, em plantas de lavanda num jardim de um 'zoo' de Vila Nova de Gaia.

Em 2016, surgiu um projeto europeu com 39 parceiros, entre os quais o Instituto Politécnico de Bragança (IPB), que representa Portugal e que está a estudar os vetores, aqueles que propagam a bactéria que causa destruição em mais de 350 variedades de plantas agrícolas e ornamentais, como disse à Lusa José Alberto Pereira, o coordenador nacional.

No laboratório de bioagrotecnologia do IPB há uma equipa de três bolseiros e outros investigadores a estudarem a espécie de cigarrinha que mais preocupa nesta problemática e que é a cigarrinha das espumas.

Os sinais da presença deste inseto, como explicou o coordenador, são visíveis na primavera, sobretudo nas plantas rasteiras, nas quais se observa com frequência a presença de uma espuma entre as folhas.

Trata-se de um produto segregado pelas cigarrinhas, que se alimentam de vegetais.

Nem a espuma, nem as cigarrinhas são uma ameaça, a não ser que a planta de que o inseto se alimenta esteja infetada com a bactéria Xylella fastidiosa. Nesse caso, depois de ingerir a planta, se o inseto for alimentar-se de outra vai contaminá-la, num processo de contágio idêntico à transmissão de doenças humanas como a malária, propagada pela picada de um mosquito.

José Alberto Pereira explicou à Lusa que a bactéria passa para a planta e aloja-se no xilema (os vasos condutores da seiva), provocando a obstrução dos mesmos e matando a planta.

O ramo afetado seca e destruir a planta contaminada é atualmente a única solução.

"É impossível destruirmos as plantas todas, pelo que os investigadores procuram arranjar forma de atacar o mal por aquele que o propaga: o vetor", indicou.

Destruir o inseto, a cigarrinha, ou diminuir a população, provocando uma quebra no ciclo de reprodução, são algumas das possibilidades em estudo e que podem passar pela colocação de armadilhas idênticas às utilizadas para as moscas.

A luta biológica é a linha orientadora da investigação que ainda não aponta prazos para chegar à solução.

Os diferentes parceiros continuam a estudar os vetores no terreno, que no caso de Portugal abrange olival, vinha e amendoal de Trás-os-Montes até à região de Setúbal e irá avançar, este ano, para o estudo nas zonas de citrinos.

Até existir uma proposta de combate por parte da comunidade científica, a contenção da ameaça passa por procedimentos de cautela por parte de agricultores e comércio na aquisição de plantas e atenção à suspeita de possível contaminação, que deve ser comunicada às autoridades.

Além da importação de plantas contaminadas, a bactéria pode ser transportada por outras vias de mais difícil controlo, como explicou, nomeadamente nos contentores que chegam aos portos marítimos.

Na luta contra esta bactéria, o politécnico de Bragança está também a trabalhar com o INIAVE, o Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária.

Faz também parte de uma rede Ibero-americana criada recentemente para estudar esta ameaça internacional que pode colocar em risco extensas manchas de culturas com elevado valor económico.

Governo limita divisão de terras em heranças


O secretário de Estado das Florestas explica a solução que o Governo encontrou para contornar o chumbo do banco de terras.

Ana Sá Lopes e Eunice Lourenço (Renascença) 24 de Janeiro de 2019,
 

Acabar com as terras sem dono, que passam a ser geridas por uma empresa pública, e acabar com as propriedades mínimas, em nome do combate aos fogos. A entrevista a Miguel Freitas, secretário de Estado das Florestas, pode ser ouvida na Rádio Renascença esta quinta-feira, às 12 horas

Que balanço é, para já, possível fazer daquilo que o Governo apresentou como a grande reforma da floresta? 

Temos vindo a concretizar aquilo que são as linhas de orientação dessa reforma quer do ponto de vista do ordenamento do território, quer do ponto de vista da gestão e muito particularmente no que diz respeito à defesa da floresta contra incêndios, que é a questão absolutamente essencial nesta altura. Temos a ideia-chave de agir no curto prazo, olhando sempre para o médio e longo prazo. Queremos obter resultados rápidos, mas a ideia do médio e longo prazo é essencial porque nos permite olhar para isto de uma forma estruturada e é isso que temos procurado fazer. O país urbano, de facto, afastou-se da floresta e o medo é o sentimento do país rural face à floresta. Temos que chamar de novo o país urbano à floresta e fazer frente a esse medo que existe no mundo rural. 


E como é que isso se faz?
Trabalhando no domínio da prevenção e protecção das pessoas e bens. É essa a grande prioridade do Governo. Nós estamos muito marcados por aquilo que aconteceu em 2017 e não queremos que se volte a repetir uma situação como aquela. Temos que dar segurança às pessoas. Há este programa de limpeza das florestas, por um lado, e por outro o Estado deve fazer aquilo que é necessário do ponto de vista da infra-estruturação do território para proteger a floresta, proteger bens e pessoas, o trabalho que tem que ser feito no redor das casas, dos aglomerados populacionais, à volta das áreas industriais e dos parques de campismo, que é onde existe grande aglomerado de pessoas, e, naturalmente, fazer também a protecção da floresta através daquilo que são as grandes auto-estradas que queremos abrir para proteger a floresta.

O período de limpeza das florestas já começou e vai até 31 de Março. Não é demasiado cedo? 
Não. Aquilo que a legislação diz é que de facto os proprietários, para limpar à volta das casas e dos aglomerados têm até 31 de Março. Depois temos até 31 de Maio para fazer a limpeza das grandes infra-estruturas, rodoviárias e ferroviárias, e de manter a limpeza dentro da floresta. Os proprietários devem fazer a limpeza o mais rapidamente possível isto porque, se não o concretizarem, os municípios ficam com a tarefa supletiva de fazer esse trabalho até 31 de Maio. É preciso dar um tempo aos proprietários e dar um tempo aos municípios para o fazer. A mensagem passou. No ano passado, os municípios limparam 55 mil hectares. É notável, é um esforço notável. Considero, aliás, os municípios os novos grandes actores da floresta. Isto é, tínhamos muitos actores da floresta e municípios pouco participativos do ponto de vista daquilo que era a sua responsabilidade nas florestas. Aquilo que sentimos hoje, volvido ano e meio após aquele momento marcante de 2017, o que temos são municípios despertos para esta questão, empenhados em encontrar as boas soluções. 


Temos que encontrar aqui um denominador comum para fazer um grande compromisso em matéria florestal. Mas esse compromisso não pode ser apenas com os partidos políticos, tem que ser também com a sociedade.

Estamos a falar essencialmente dos municípios que foram atingidos pelos fogos... 
Sim, essencialmente. Na área da defesa da floresta contra incêndios temos três dimensões: a dimensão das limpezas, a questão das infra-estruturas - temos planeados cerca de 11 mil quilómetros de auto-estradas de protecção da floresta. 

E desses 11 mil quilómetros quantos é que estão preparados? 
Em 10 anos fizeram-se 1200 quilómetros. O ano passado fizemos 1500 quilómetros. Este ano temos programados 3000 quilómetros.

Mas ainda ficamos longe dos 11 mil... 
Mas temos uma coisa mais importante que isso. Pela primeira vez, com a resolução de Conselho de Ministros de 13 de Janeiro, temos possibilidade de planear a quatro anos. Temos 16 milhões de euros para investir nos próximos quatro anos para concretizar oito mil quilómetros dessa rede primária. A nossa intenção é que no final destes quatros anos esteja toda ela concluída. É esse o grande objectivo do Governo e para isso já tem o financiamento e o planeamento feito. 

Nós entendemos que não deve haver terra de ninguém. Não deve haver espaços vazios no território não geridos.
Voltando à questão das limpezas da matas. No ano passado houve várias críticas, multas por falta de limpeza um bocadinho a contra-relógio mas depois afinal ainda não eram bem multas... O que foi corrigido em relação ao processo do ano passado? Este ano as multas vão ser mais a sério? 
Em primeiro lugar, estamos a fazer cumprir a lei. É a primeira vez que esta lei é cumprida. No passado, a lei existia e não era cumprida. Pela primeira vez há um objectivo claro do Governo de fazer cumprir a lei. Em segundo lugar, no ano passado tivemos 6000 infracções com multa. Aquilo que nós pretendemos não é que haja multas. Acima de tudo, o que pretendemos é fazer um trabalho de sensibilização das pessoas e dos municípios para que concretizem o grande objectivo de fazer a limpeza. Por isso mesmo fizemos a publicação da carta de freguesias prioritárias. Isso também não acontecia. Pela primeira vez sabemos exactamente quais são os pontos negros onde devemos intervir do ponto de vista da limpeza da floresta. É nessas freguesias que devemos reforçar a fiscalização. 

Vamos passar para a questão da propriedade. Fazia parte da reforma tal como inicialmente apresentada pelo Governo a criação de um banco de terras que não foi possível aprovar no Parlamento devido à oposição do PCP que argumentou com o direito à propriedade. Como é que foi contornada esta limitação? 

Esta é a questão mais importante que temos hoje para debater em Portugal. O país tem que debater a questão da propriedade e essencialmente o valor social da terra. Devo dizer que o Governo, a esse respeito, já iniciou esse debate. Em primeiro lugar, decidiu conhecer a propriedade, através do cadastro. Isto é, pela primeira vez no país nós estamos a cadastrar e a conhecer quem são os proprietários em Portugal. 400 mil proprietários. Nós queremos conhecer esses proprietários. Em segundo lugar, definimos na legislação saída na semana passada a unidade mínima de cultura. O que é a unidade mínima de cultura? Qualquer partilha de terras não pode ser inferior a essa unidade mínima. Portanto, estamos a condicionar com isso aquilo que é o regime sucessório.


E qual é essa unidade mínima? 
A unidade mínima varia de território para território. 11 hectares no Alentejo, onde existe grande propriedade, quatro hectares no Norte... É feito a partir das comunidades intermunicipais mas o referencial é este. Entre 4 e 11 hectares como unidade mínima de cultura. Nós temos que evitar a todo o custo o fraccionamento da terra. O fraccionamento da terra traz uma maior dificuldade...

Mas como é que se consegue fazer isso com as partilhas, por exemplo? 
A partir de agora, sempre que haja uma partilha, a unidade mínima tem que ser preservada. A unidade mínima passa a ser o referencial daquela região em termos de propriedade. Para além disso, estamos a apoiar a anexação de propriedade. Também na mesma legislação vamos dar benefícios fiscais àqueles que querem agregar propriedade.

Encontrámos um mecanismo de identificação daquilo que é a terra sem dono. Há 180 dias, depois de publicitado pelo Instituto de Registo Notarial, para se saber se aquela terra tem ou não tem dono, no quadro do grande esforço de cadastro que se está a fazer a nível nacional.
Mas ao criar essa unidade mínima não corre o risco de implosão no mundo rural? 
Pelo contrário. Temos isso já na agricultura e na agricultura foi um instrumento essencial para que ganhássemos dimensão na propriedade agrícola. É o mesmo que queremos fazer na floresta. A legislação serve muito para que as pessoas tenham a noção do que é importante fazer. E é importante dar dimensão à propriedade florestal.

A terceira questão em que estamos a trabalhar é a ideia de separar a gestão da posse da terra. O que é que isto quer dizer? Nós temos muitos proprietários que hoje já não gerem a sua propriedade e já não querem fazer essa gestão. Podem agora entregar a responsabilidade dessa gestão a uma empresa que se constitua para fazer essa gestão. Estamos a promover a criação de empresas que façam a gestão separando-a da propriedade. As unidades de gestão florestal vão nesse sentido. Existem as primeiras 28 unidades de gestão em aprovação e, portanto, é um primeiro movimento.

Queimadas só com bombeiros, GNR ou sapadores "de alerta"
E as terras sem dono identificado? 
Nós entendemos que não deve haver terra de ninguém. Não deve haver espaços vazios no território não geridos. Encontrámos um mecanismo de identificação daquilo que é a terra sem dono. Há 180 dias, depois de publicitado pelo Instituto de Registo Notarial, para se saber se aquela terra tem ou não tem dono, no quadro do grande esforço de cadastro que se está a fazer a nível nacional. E a partir daí passa para a posse da nova empresa pública florestal. O Estado vai assumir a gestão das terras sem dono.

Vai nacionalizar as terras sem dono? 
É preciso dizer que o dono pode surgir sempre. Tem 15 anos, segundo o Código Civil, para poder aparecer. Não tendo sido aprovado o banco de terras, foi preciso encontrar na margem de manobra que o Código Civil já dava uma solução. Foi isso que o Governo fez. 

E esta solução resolve o problema? Não vão tentar de novo aprovar o banco de terras? 
Esta solução, nesta fase, resolve uma parte do problema. O banco de terras não era exclusivamente para as terras sem dono. Uma parte importante do banco de terras era colocar as terras do Estado sob gestão desse banco e disponibilizá-la para entidades privadas que quisessem fazer essa gestão. Esta componente não está aqui. Tivemos que encontrar uma solução que resolve parcialmente o problema. 

Aquilo que entendemos é que as espécies devem estar onde existe vocação para que estejam. Há muitos territórios que hoje têm eucalipto e não têm vocação para ter eucalipto.
Tem esperança que um próximo governo tenha condições para resolver a outra parte... 
Tenho acima de tudo esperança que toda esta reforma tenha continuidade. Tudo isto só fará caminho se formos persistentes, capazes de dar continuidade, não criar rupturas nos processos. É preciso que haja um grande compromisso nacional relativamente à questão florestal, que tem hoje uma centralidade no país... Hoje, todo o Governo está envolvido na questão florestal mas também todos os partidos políticos estão envolvidos. Temos que encontrar aqui um denominador comum para fazer um grande compromisso em matéria florestal. Mas esse compromisso não pode ser apenas com os partidos políticos, tem que ser também com a sociedade. Temos vindo a trabalhar com todos os agentes do sector. Nós vamos este ano, pela primeira vez, ter uma semana da Floresta, na altura do 21 de Março, em que todo o sector se juntará numa grande manifestação junto das escolas para mostrar o valor que a floresta tem. 

Ainda em relação às terras que passam para a empresa de gestão florestal. O Estado tem de facto capacidade e condições para tratar de todas estas terras? É que durante muito tempo ouvimos dizer que o Estado também tinha as suas terras em muito mau estado e ao abandono...
Nós hoje temos, de facto, uma visão nova. Foi preciso aquele momento marcante para percebermos que temos que virar a página. E virar a página aqui significa acima de tudo olhar para isto de forma diferente. A forma que temos vindo a encontrar para pôr em marcha a nossa estratégia passa primeiro por valorizar o regime florestal, a área pública, as matas públicas e os baldios, aquilo que é área comunitária. E aí também temos novidades. Essa resolução do Conselho de Ministros coloca nas matas públicas 18 milhões de euros para nos próximos quatro anos, de forma planeada, podermos gerir bem as matas públicas. Já não há desculpa de não haver financiamento para uma boa gestão.


Em segundo lugar, vamos assinar no início de Fevereiro os contratos-programa sobre os baldios. Vamos capacitar as áreas comunitárias que existem e para além disso vamos incutir a ideia da criação de agrupamentos de baldios. Sempre a ideia de que é preciso juntar, dar escala, para fazer uma melhor gestão. Vamos colocar técnicos nos baldios para apoiar a gestão e vamos dar condições para se fazerem acordos tripartidos. Está no protocolo do contrato programa que vamos assinar no dia 1 de Fevereiro. O que é o acordo tripartido? É o compromisso por parte dos baldios que para além do ICNF [Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas] vai ter que se encontrar uma terceira parte que ajude a gerir o território. Essa terceira parte podem ser os municípios, uma empresa industrial... A indústria tem um papel fundamental. 

Incluindo a indústria dos eucaliptos? Para si o eucalipto não é o inimigo número 1 da floresta?
Aquilo que entendemos é que as espécies devem estar onde existe vocação para que estejam. Há muitos territórios que hoje têm eucalipto e não têm vocação para ter eucalipto. Não faz sentido continuar com essas manchas. Cerca de 100 mil hectares dessa área está na terceira rotação, o que significa que vai entrar em abandono, portanto vai ser pasto para incêndios.