quarta-feira, 6 de junho de 2018

“O agricultor do futuro vai ter que saber de tecnologia”


04.06.2018 às 16h52
 
Carlos Moedas e Paulo Macedo manifestaram confiança no destino da agricultura no Alentejo

"Alqueva é toda a minha vida, era o projeto que nunca ia acontecer mas que nós sabíamos que ia mudar as nossas vidas." E mudou. Ou pelo menos é como o comissário europeu para a Investigação, Ciência e Inovação, Carlos Moedas, recordou o longo processo de implementação e construção da barragem que está a provocar uma verdadeira revolução no Alentejo, a acreditar nos sentimentos ecoados ao longo de uma conferência onde o processo de modernização da agricultura esteve em discussão em pleno centro da região.

Foi Beja que recebeu o novo Encontro Fora da Caixa, com a XVI edição do projeto da Caixa Geral de Depósitos (a que o Expresso se associa) a ser dedicada ao tema "O sucesso de Alqueva na inovação e desenvolvimento regional", com espaço para um "encontro com mais de 400 empresários" e mesmo para "fechar alguns negócios", confessou o presidente-executivo da CGD, Paulo Macedo. E para que nenhum dos convidados se furtasse a palavras fortes: "Todo o futuro deste sector no Alentejo está neste momento a começar. Será enorme, acho que muitos de nós não conseguem sequer imaginar", garantiu, por exemplo, o gerente da Olinorte em Portugal, Luís Rosado.

Novas mentalidades 
Até à sua inauguração, em 2004, a barragem passou por inúmeros avanços, recuos e dúvidas que não se imaginava que tanta espera viesse a dar resultados. Mas os mais de €12 mil milhões em valor bruto de produção que poderão ser atingidos até 2025, de acordo com dados da Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (EDIA), superam todas as expectativas, com a certeza de que vamos "continuar a assistir a muitos recordes", seja "no olival, na fruta ou no amendoal", acredita o CEO da EDIA, José Pedro Salema.

O administrador-executivo da CGD, José João Guilherme, lembrou que, numa altura em que "o país estava em crise", o projeto de Alqueva foi importante, "como forma de atração ao investimento", sobretudo do país vizinho. Só que, ao contrário do que aconteceu noutras fases, as linhas de financiamento privilegiam agora projetos de valor acrescentado, até porque "as mentalidades são muito diferentes." É uma nova geração que quer deixar a sua marca e levou Carlos Moedas a confessar "uma emoção muito especial" perante o trabalho que tem vindo a testemunhar nas suas visitas à região que o viu nascer.

É o caso de Carolina Silvestre Ferreira, administradora-executiva do Grupo Vale da Rosa e a representar a terceira geração da família. Como uma das responsáveis por um "dos principais empregadores do Baixo Alentejo", defendeu que um dos segredos para o sucesso da empresa é estar constantemente à procura "das melhores uvas" e dos melhores métodos para as criar, num processo onde a inovação e a tecnologia têm um peso muito importante. "Não pode ser só a combinação do solo, da terra e da água, é também das pessoas e das tecnologias", realçou Luís Folque. O administrador-executivo da Sovena — segundo maior grupo do sector do azeite a nível mundial — revelou que a zona de regadio de Alqueva "representa 50% da área de azeite produzido" pela empresa, pelo que é "uma pedra basilar" para a sua estratégia e um dos responsáveis pelo "boom tecnológico que se tem vivido".

Atualmente a regar 120 mil hectares, a barragem de Alqueva já tem "50 mil hectares com projetos assegurados para expansão", contou José Pedro Salema. Crescimento que o Governo espera ver concluído até 2022 e que vai permitir um aumento de área de 40%. O CEO quer "dar condições aos verdadeiros heróis de Alqueva, os empreendedores" e olha para o plano em curso como prova de que este projeto tem todas as condições para "poder ser replicado noutras zonas do país." Com renovação cíclica porque o "que se fez nos primeiros regadios vai-se reconverter " com os novos processos, na opinião de Luís Rosado.

Inteligência artificial 
Carlos Moedas não tem dúvidas que "a profissão está a mudar e o agricultor do futuro vai ter que saber de tecnologia". A separação já se está a diluir para que a inovação ajude a combater os dois grandes desafios que o comissário europeu identifica como aqueles que mais podem afetar no futuro: o "crescimento populacional e o combate às alterações climáticas".

No programa Ciência e Inovação para 2021 estão reservados €10 mil milhões para desenvolvimento tecnológico na agricultura e o antigo secretário de Estado fez questão de manifestar a sua crença na capacidade de o Alentejo se converter num "segundo Food Valley", a região holandesa de produção agrícola intensiva que faz do país o segundo maior exportador mundial do sector. Algumas apostas cirúrgicas em tecnologia de ponta podem ser decisivas, a começar pelo big data, "uma das chaves do futuro para Alqueva", com a utilização de dados para tornar a produção mais eficaz. Por outro lado, surge uma pergunta: como rastreamos rapidamente os produtos que comemos? "Com recurso à tecnologia blockchain para estabelecer uma relação de confiança." É outra das ferramentas que pode ser aplicada na região, a que Carlos Moedas junta a inteligência artificial, mas essa, "vai-nos levar a caminhos que ainda nem conhecemos."

ALENTEJO NO CENTRO DO DESENVOLVIMENTO
A região que durante tantas gerações esperou por Alqueva para cumprir o seu potencial agrícola já sente os efeitos da mudança. Mas "mais do que uma barragem ou um sistema de irrigação, é preciso saber gerir estes instrumentos." Palavras de José Félix Ribeiro que já é um habitué destas sessões dos Encontros Fora da Caixa e que, em Beja, dedicou a sua intervenção ao "Alentejo, Terra de Modernidade." Para o economista, é inegável que a estrutura hídrica está a provocar "uma gigante transformação", que ganha ainda mais destaque quando o "projeto antigo" foi concluído numa "altura de grandes alterações climáticas." Mesmo assim, a velha máxima das diferenças entre qualidade e quantidade deve ser observada na região, onde é preciso entender que "sem inovação para diferenciar não é possível competir." O professor pediu por isso uma maior sinergia entre as instituições de ensino e as empresas "para alavancar o conhecimento", e alertou: "O Alentejo foi grande quando esteve no centro das decisões que tornaram Portugal grande."

DISCURSO DIRETO
"O que este projeto fez para mudar as mentalidades do Baixo Alentejo é extraordinário. Esta nova geração é tão diferente da minha, para melhor"
Carlos Moedas
Comissário europeu para a Investigação, Ciência e Inovação

"A barragem de Alqueva avançou muito rápido. Está a acontecer muito depressa, mas não nos assustamos com isso. Antecipámos dez anos o calendário inicial"
José Pedro Salema
CEO da EDIA

"Fazemos tudo para estar à altura. Urge agora cuidar da parte da infraestrutura para dar o salto e tornar o interior mais atrativo"
Carolina Silvestre Ferreira
Administradora-executiva do Grupo Vale da Rosa

"Foi este projeto que gerou esta transformação. Vale a pena materializar o crescimento da agricultura com a componente tecnológica"
Paulo Macedo
Presidente da comissão-executiva da Caixa Geral de Depósitos

Textos originalmente publicados no Expresso de 2 de junho de 2018

 Chineses já se reuniram com Bruxelas para impedir travão à OPA à EDP. Debate quinzenal: O mecanismo gripado. Faturas vão passar a ter QR Code que evita cedência do número de contribuinte
Chineses já se reuniram com Bruxelas para impedir travão à OPA à EDP. Debate quinzenal: O mecanismo gripado. Faturas vão passar a ter QR Code que evita cedência do número de contribuinte

Presidente realça "grande colaboração nacional" para melhorar fundos para a agricultura


Marcelo Rebelo de Sousa falava durante uma visita à Feira Nacional da Agricultura

2018-06-02 17:01 / ALM com Lusa
O Presidente da República disse hoje, em Santarém, que há "uma grande colaboração nacional" para conseguir melhorar o quadro financeiro comunitário para o período 2021/2027, sobretudo no que respeita aos apoios para o desenvolvimento rural.

Marcelo Rebelo de Sousa falava durante uma visita à Feira Nacional da Agricultura (FNA), que hoje inaugurou, realçando o "crescimento, a qualidade e a imaginação" patentes num certame que este ano celebra "aquilo que é um grande feito nacional e que é o papel do azeite".

O chefe de Estado afirmou que a sua visita ao que é considerado o maior certame dedicado à agricultura nacional acontece num momento em que o país está "a fazer muita força para garantir ainda a possibilidade de melhorar as condições em termos do quadro financeiro entre 2021 e 2027".

Marcelo Rebelo de Sousa sublinhou a "grande colaboração nacional, entre parceiros económicos e sociais, como é o caso da CAP (Confederação dos Agricultores de Portugal), o Governo, a oposição, tudo irmanado".

O Presidente destacou o facto de, "à partida", se saber já "uma coisa impressionante", que é a de que os agricultores vão receber, ao longo do pacote comunitário, até 2027, "mais de três vezes" o que receberam no atual, embora isso "signifique uma entrada por parte do Estado".

"É evidente que ainda estamos a lutar para conseguir melhores condições de apoio ao desenvolvimento rural em Bruxelas. Por isso, digo e repito, a luta continua, nesse bom sentido", declarou, realçando o "dinamismo na agricultura portuguesa" presente na Feira de Santarém e que "enche o coração".

Segundo a proposta apresentada sexta-feira em Bruxelas pela Comissão Europeia, Portugal vai receber menos dinheiro no âmbito da Política Agrícola Comum (PAC) no próximo quadro financeiro plurianual (QFP), estando prevista uma ligeira subida nos pagamentos diretos aos agricultores.


A Comissão Europeia propôs uma verba de cerca de 7,6 mil milhões de euros no QFP 2021-2027, a preços correntes, abaixo dos 8,1 mil milhões do orçamento anterior, com uma ligeira subida nos pagamentos diretos e cortes no desenvolvimento rural.

A preços correntes, para o QFP 2021-2027, está prevista uma verba de 4,2 mil milhões de euros no primeiro pilar e de 3,4 no segundo.

No arranque da PAC 2014-2020, Portugal recebeu 4,1 mil milhões de euros no âmbito do primeiro pilar, dos pagamentos diretos aos agricultores, e 4,082 mil milhões no segundo pilar (desenvolvimento rural).

O Governo considerou esta proposta inicial da Comissão boa para os agricultores portugueses, sublinhando que ela contempla um reforço global de verbas da ordem dos 280 milhões de euros para o setor nacional no próximo Quadro Comunitário, mas frisou que é "má" para o Orçamento do Estado.

O Ministério da Agricultura vai bater-se por consolidar e, se possível, ampliar os ganhos no I Pilar (ajudas diretas) e tudo fará no sentido de reduzir o esforço financeiro nacional, mantendo o nível de apoio aos agricultores alcançado na proposta inicial", afirma um comunicado emitido sexta-feira.

O Presidente da República fez questão de prestar "homenagem" ao comissário europeu para a Ciência, Investigação e Inovação, Carlos Moedas – que participará na sexta-feira, no âmbito da FNA, numa conferência internacional sobre o futuro da Agricultura -, pelos "muitos milhões" de euros que vão chegar à agricultura portuguesa e europeia "pela via da investigação".

Para Marcelo Rebelo de Sousa, a sua presença no evento que vai decorrer na sexta-feira, no qual participará igualmente o comissário europeu para a Agricultura, Phil Hogan, é "muito justa", porque "está a pensar no futuro".


Questionado sobre o encontro que manteve esta semana com a chanceler alemã, o chefe de Estado apenas reforçou o facto de, no mesmo dia, Ângela Merkel ter ouvido o Presidente da República, o Primeiro-Ministro e o líder da oposição a terem "a mesma mensagem".

Isso é muito importante, porque quem ouve a mensagem percebe que há uma coesão nacional. Não é um discurso Governo contra oposição, oposição contra o Governo, Presidente da República diferente do Governo. Não. Estamos unidos", frisou.

"No mesmo barco". Marcelo exige combate a desigualdades territoriais

Carlos Santos Neves - RTP02 Jun, 2018, 16:56 

No mesmo barco. Marcelo exige combate a desigualdades territoriaisDurante a manhã, no Encontro Nacional de Associações Juvenis, a decorrer no Estoril, Marcelo Rebelo de Sousa havia apelado à preservação da meta de "mais igualdade e mais justiça" | José Sena Goulão - Lusa

O Presidente da República traçou este sábado como prioridade para a próxima legislatura o combate às desigualdades territoriais no país. Durante uma visita à Feira Nacional da Agricultura, em Santarém, Marcelo Rebelo de Sousa rejeitou a "ilusão" de "pensar que uma parte do país podia avançar e o resto ficava para trás".

"Não pode haver vários portugais a várias velocidades dentro de Portugal. Não é possível. Não é possível porque, se isso continuasse para o futuro, que não vai continuar, atrasava o país todo", afirmou o Chefe de Estado.

"É uma ilusão pensar que havia uma parte do país que podia avançar e o resto ficava para trás. Isso não existe. Estamos no mesmo barco", reforçou Marcelo.

A "aposta" no combate às desigualdades territoriais, continuou o Presidente, recai no próximo quadro comunitário, a vigorar de 2021 a 2021. "Mas começa já".

"Eu até digo mais: a legislatura que começa para o ano e vai até 2023 é essencial para se perceber se conseguimos ou não reduzir as desigualdades que existem em termos territoriais no nosso continente. Temos de reduzir. E já não falo, obviamente, também nas regiões autónomas", frisou.

Durante a manhã, no Encontro Nacional de Associações Juvenis, a decorrer no Estoril, Marcelo Rebelo de Sousa havia apelado à preservação da meta de "mais igualdade e mais justiça", referindo-se já então a "vários portugais que são esquecidos".

"Nós não precisamos de esperar por tragédias para nos lembrarmos desses portugais. Devemos antecipar, prevenir, para não ter de remediar", sustentou.
Corte na PAC "não faz sentido"

Nas declarações que fez aos jornalistas, o Presidente da República condenou ainda o corte aplicado por Bruxelas aos fundos para agricultura portuguesa entre 2021 e 2027.

"Estamos a lutar contra esse corte cego. Não pode ser, não faz sentido. Estamos unidos, vários países europeus. No próprio Parlamento Europeu já passou uma recomendação contra esse corte cego, que, como tudo o que é cego, não é inteligente", vincou Marcelo.
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"Há, digamos assim, uma espécie de compensação: o Governo ter dito - só se pode comprometer até às eleições – que até 2019, enquanto for Governo, compensa com um fundo do Orçamento do Estado. Mas não chega", sublinhou o Presidente. 

"Como se diria noutros tempos e noutras circunstâncias, a luta continua para conseguirmos na União Europeia muito mais do que aquilo que foi dado", rematou.

No próximo Quadro Financeiro Plurianual, Portugal terá menos verbas disponíveis ao abrigo da Política Agrícola Comum (PAC).

A proposta da Comissão Europeia estabelece uma verba de aproximadamente 7,6 mil milhões de euros, a preços correntes. Ou seja, aquém dos 8,1 mil milhões inscritos no anterior orçamento. Verifica-se um ligeiro aumento nos pagamentos diretos, a par de cortes no desenvolvimento rural.

c/ Lusa

Bloco e PCP juntam-se contra a aprovação dos fundos para a PAC


Catarina Martins apela ao "veto" e Jerónimo de Sousa quer mais do que uma "voz grossa"


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O corte nos fundos comunitários para a Política Agrícola Comum (PAC) da União Europeia não deixam os parceiros do governo tranquilos. Catarina Martins e Jerónimo de Sousa aproveitaram as visitas ao Centro Nacional de Exposições e Mercados Agrícolas (CNEMA) para manifestar as suas preocupações.

Para Jerónimo, este orçamento "revela uma contradição" e por isso o PCP considera "que é inaceitável". "Todos os esforços vão ser poucos para alterar o que é o objetivo das instituições europeias", frisou o secretário-geral dos comunistas acrescentando que "é preciso muito mais do que voz grossa", numa referência às declarações de Nuno Melo, eurodeputado do CDS, que disse esta semana ao SOL que, a Portugal, "falta a tal voz grossa que António Costa disse que teria se fosse primeiro-ministro e, manifestamente, não tem".

Para Catarina Martins, a solução passa pelo veto de Portugal à aprovação do Quadro Financeiro Plurianual (QFP). "Ou este orçamento é melhorado, faz algum sentido, ou, se não for, o Governo português pode vetá-lo em Conselho Europeu como qualquer outro Governo. Portugal não é mais nem menos que qualquer outro país, mas o que não podemos aceitar é que sejam constantemente feitas regras da União Europeia que beneficiam os grandes países e que prejudicam países como Portugal", disse a coordenadora do Bloco de Esquerda.

"É preciso argumentos, fundamentos e posicionamentos políticos que visem uma outra negociação e outras verbas que ajudem Portugal a desenvolver a sua produação nacional", reforçou Jerónimo que considera que a distribuição dos fundos europeus tem colocado Portugal no lado "dos países mais prejudicados",  lembrando o PAC que provocou a "liquidação de cerca de 400 mil unidades produtivas na agriculturas".


O descontentamento com o valor atribuído à agricultura portuguesa não é só dos parceiros. O próprio governo tem esperança que a proposta inicial do QFP seja alterada "para melhor". Quem o disse foi o ministro da Agricultura, Capoulas Santos, na inauguração da 55.ª Feira Nacional da Agricultura. "Estamos perante uma proposta inicial que, quando chegar a conclusão da negociação, terá algumas diferenças e espero que, no caso português, sejam para melhor", afirmou o ministro.

Apesar de considerar a primeira proposta "curiosamente", "muito boa para os agricultores", Capoulas Santos destaca os prejuízos que traz para o Orçamento do Estado. Se por uma lado a dotação para os agriculturas aumenta em 279 milhões de euros, por outro aumenta também a parte de cofinanciamento dos Estados para o dobro – dos atuais 15% para 30% que eu euros significa uma passagem de 700 milhões para 1400 milhões de euros.
"No futuro queremos consolidar o que já ganhámos", acrescentou o ministro lembrando que Portugal é "um dos cinco Estados-membros em 27 que, nos pagamentos diretos, aumenta os apoios em cerca de 160 milhões de euros".

terça-feira, 5 de junho de 2018

Regras sagradas da agricultura biológica em risco




UE está a discutir as regras da agricultura biológica e há pressões para que passe a aceitar níveis mínimos de pesticidas

Daqui a dois anos e meio, muita coisa pode mudar nas regras a cumprir para obter a certificação biológica, tal como as conhecemos, e a Agrobio - Associação Portuguesa de Agricultura Biológica está preocupada com a possibilidade de as instituições europeias banalizarem o rigor que até aqui caracterizou este tipo de produção, num gesto de cedência à pressão do mercado.

As mudanças decorrem da Nova Legislação da Agricultura Biológica agora aprovada na União Europeia. Até janeiro de 2021, as instituições comunitárias vão definir as regras para a implementação do novo quadro legislativo, mas, em Portugal, a Agrobio já analisou o que está em perspetiva e, apesar de reconhecer mérito a algumas inovações, teme por algum facilitismo que possa desacreditar este modo de produção aos olhos do consumidor.

Uma das alterações previstas estabelece que a União Europeia pode vir a aceitar níveis mínimos de contaminação por pesticidas, a partir de 2024. No entanto, continuará a não permitir a utilização de fertilizantes e pesticidas de síntese. Antes dessa data será feito um relatório para se saber se é de avançar ou não com a mudança, salvaguarda Jaime Ferreira, presidente da Agrobio.

"A nova legislação prevê a autorização do uso de um conjunto de substâncias coadjuvantes que são usadas, por exemplo, em pesticidas da agricultura convencional. Nós não concordamos com isso", comenta o dirigente associativo.

Outra preocupação apontada por Jaime Ferreira tem que ver com a possibilidade de cada Estado membro poder definir limites para a detenção de resíduos químicos, ou níveis de contaminação, nos produtos biológicos. "Teriam de ser limites iguais para todos os países, desde logo, porque, no caso da exportação, se um país como a Alemanha definir um nível baixo, outro país mais tolerante já não vai poder exportar para lá", observa.

Há ainda outra alteração que deixa a Agrobio desapontada e contra a qual vai lutar: a redução dos controlos obrigatórios. Atualmente, produtores, lojas ou indústrias são alvo das ações de controlo uma vez por ano. As novas regras admitem que esse procedimento seja feito apenas nos casos de entidades que tiverem risco associado. Caso contrário, será só de dois em dois anos.

Até janeiro de 2021, as instituições comunitárias vão definir as regras para a implementação de todo o novo quadro legislativo, mas a Agrobio espera que a federação do setor, a IFOAM, da qual faz parte, consiga atuar e travar as três grandes preocupações mencionadas.

O lado bom

Por outro lado, Jaime Ferreira reconhece que as novas disposições legais também têm aspetos positivos, como é o caso do reforço do conceito de "solo vivo", isto é, rejeita-se que as produções em substratos ou soluções aquosas, como a hidroponia, tenham direito à certificação biológica, porque "no solo existem muitas interações e características de alto valor, que se repercutem nos produtos, e que não existem numa produção artificial. Nos EUA, por exemplo, essas técnicas são aprovadas, mas não na Europa".

Há outra vantagem apontada: as espécies que se vão poder cultivar em agricultura biológica deixam de ser aquelas que estão apenas definidas por catálogo, a favor de uma maior diversidade. Passa também a ser reconhecida a importância deste tipo de produção na defesa do meio ambiente, com a autorização do uso de expressões nesse sentido, associadas ao produto.

No caso do uso dos fatores de produção, como sejam fertilizantes e pesticidas naturais, deverá haver uma maior exigência na sua homologação e terem uma rotulagem apropriada, para que o produtor possa escolher. Na mesma linha, será mais restrito o uso de aromas nos alimentos transformados, depois de se ter concluído que nem todos são benéficos.

A pensar nas crianças, vai haver uma maior clarificação quanto à suplementação dos alimentos infantis. Por outro lado, serão completamente banidos na agricultura bio os produtos com origem na nanotecnologia.

Em termos de produção, Jaime Ferreira destaca também como positiva a possibilidade de ser atri-buída a certificação de grupo, por exemplo, até a uma pequena aldeia, pela redução de custos inerente.

Já os pequenos vendedores de produtos biológicos, mas não produtores (com faturação até 20 mil euros/ano), como é o caso de alguns comerciantes em mercados biológicos, ficam dispensados da certificação como operador.

Apesar das mudanças identificadas pela Agrobio como favoráveis, Jaime Ferreira espera "um forte empenho das instituições europeias e dos Estados membros para travar o que de mais negativo se perspetiva na nova legislação, sob pena de prejudicarem o futuro da agricultura biológica na Europa".

Bayer prevê concluir a aquisição da Monsanto a 7 de junho

Em 2017, as duas empresas juntas empregavam aproximadamente 115 mil pessoas.


A Bayer prevê concluir a aquisição da Monsanto a 7 de junho, após receber todas as aprovações exigidas pelas autoridades reguladoras. "A aquisição da Monsanto é um marco estratégico para o fortalecimento do nosso portfólio de negócios líderes em saúde e nutrição. Duplicaremos o tamanho da área de negócio agrícola e criaremos um líder de inovação na agricultura, posicionando-nos para servirmos melhor os nossos clientes e aproveitar o potencial de crescimento a longo prazo no setor", disse Werner Baumann, presidente do Conselho de Administração da Bayer AG, em comunicado.

Recorde-se que,a Bayer anunciou em maio de 2016 a intenção de adquirir a Monsanto e assinou um contrato com a empresa norte-americana em setembro de 2016 no valor de 128 dólares por ação. Atualmente, tendo em conta as dividas pendentes da Monsanto em vigor a 28 de fevereiro de 2018, isso corresponde a um custo total de aproximadamente 63 mil milhões de dólares.

Em ligação com o abrangente processo de aprovação regulatória, a Bayer concordou com a alienação de negócios que geraram 2,2 mil milhões de euros em vendas em 2017 por um preço-base de compra consolidado de 7,6 mil milhões de euros. Incluindo a Monsanto, e tendo em consideração as vendas, os negócios de saúde e agricultura teriam sido praticamente iguais em tamanho em 2017, com vendas totais pro forma de cerca de 45 mil milhões de euros, incluindo as vendas combinadas da Crop Science, de cerca de 20 mil milhões de euros.

Em 2017, as duas empresas juntas empregavam aproximadamente 115 mil pessoas, incluindo as alienações.

O que é que os jovens preferem quando optam pela agricultura?


03.06.2018 às 15h45

Investem sobretudo nos produtos hortícolas e nos pequenos frutos, com destaque para as framboesas, mirtilos, amora e groselha. Os jovens investem principalmente na região Centro, mas também no Alentejo

A crise dos últimos anos empurrou muitos jovens para fora do país mas, muitos dos que não saíram, acabaram por optar pela agricultura.

Dados oficiais apurados pelo Ministério da Agricultura indicam que, entre os jovens que optaram pela lavoura, há uma opção clara pelos investimentos em hortícolas. Dos 2.914 projetos de financiamento aprovados até ao final do primeiro trimestre deste ano, ao abrigo do Programa de Desenvolvimento Rural (PDR 2020), 522 recaíram precisamente sobre a área da horticultura.

Logo a seguir vêm os projetos de investimento nos pequenos frutos (494), onde se incluem muitos dos frutos silvestres, onde agora Portugal começa a dar cartas, mesmo ao nível das exportações – com largo destaque para a framboesa, o mirtilo, a amora e a groselha. Basta referir que no ano passado 90% da produção de mirtilos e framboesas da região Centro seguiu para o estrangeiro.

767 MILHÕES DE EUROS JÁ APROVADOS
Curiosamente, quase tão procurada como a área dos pequenos frutos está a ser a da pecuária, para onde foram encaminhados 493 projetos de investimento. Recorde-se que, apesar das 'guerras' de preços – entre a produção e a distribuição – Portugal continua a ser um país altamente deficitário neste domínio, pelo que continua a haver espaço para crescer, embora em concorrência aberta com alguns dos principais produtores europeus.

Com 480 projetos para novos investimentos está a área designada por 'Pomar', onde se inclui sobretudo a produção de pera, maçã e laranja.

Os projetos dos jovens agricultores estão a desenvolver-se maioritariamente no Continente (62%), com os restantes 38% nas ilhas. Os homens dominam nesta incursão pelo investimento agrícola em todas as regiões do país. Apesar de tudo, é na zona Norte que as mulheres empresárias marcam mais posição, com 40% do total dos investimentos.

Dos 767 milhões já encaminhados para projetos de jovens agricultores, é a região Centro do país que se mostra mais dinâmica, pois acolheu 36% daquele valor. Segue-se o Alentejo, com 30% e o Norte, com 27%.

domingo, 3 de junho de 2018

"Nunca se investiu tanto na agricultura como agora", diz Capoulas Santos

02.06.2018 às 16h32


O ministro da Agricultura diz que tem em cima da mesa 44.743 intenções de investimento em projetos agrícolas. Alguns já estão aprovados, outros em apreciação. Portugal tem a 3ª melhor taxa de execução no sector em toda a União Europeia
Vítor Andrade
VÍTOR ANDRADE
Há 44.743 intenções de investimento em projetos agrícolas em Portugal, no âmbito do Programa de Desenvolvimento Rural, que termina em 2020.

Os dados, adiantados ao Expresso pelo ministro da Agricultura, Capoulas Santos, revelam ainda que estão já aprovados 18.932 projetos, a que correspondem 2,9 mil milhões de euros de investimento, dos quais 1,37 mil milhões em forma de subsídio por parte do Estado.

Dos 4,1 mil milhões de euros orçamentados para o PDR 2020, no final do primeiro trimestre estavam executados ou já comprometidos 3,1 mil milhões. Uma taxa de execução de 76,3%, que coloca Portugal no terceiro lugar da União Europeia, logo a seguir à Irlanda e à Finlândia, que lidera. "Penso que nunca se investiu tanto no sector da agricultura como agora", sublinha o ministro.

Estes dados surgem um dia depois de ter sido conhecida a proposta da Comissão Europeia para a próxima vaga de subsídios à agricultura. Mas a notícia não é boa para Portugal, que deverá ficar a perder cerca de 500 milhões de euros, em comparação com o último Quadro Comunitário de Apoio.

Bruxelas propõe uma 'fatia' de €7,6 mil milhões para Portugal, para o período 2021/27, contra €8,1 mil milhões (do quadro de apoios ainda em curso).

Segue-se agora um período de negociação entre a Comissão Europeia e os vários Estados-membros que o ministro da Agricultura classifica como "longo, duro e penoso", e que se prolongará praticamente até final de 2020, sendo que até maio do próximo ano a parte orçamental da Política Agrícola Comum terá de ficar definida. Depois falta definir as regras para a sua aplicação.

Entretanto hoje é inaugurada em Santarém a 55ª edição da Feira Nacional da Agricultura, este ano com enfoque especial no sector do azeite, onde Portugal tem vindo sistematicamente a crescer na última década.

Amanhã começa o rodopio político na Feira, com os três os líderes partidários a visitar o certame: o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, pelas 10:00, seguindo-se a coordenadora do BE, Catarina Martins, às 16:00, e a presidente do CDS-PP, Assunção Cristas, às 18:00. O presidente do PSD, Rui Rio, deverá visitar Santarém na quinta-feira.