O alerta é da FAO, a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação, no seu relatório bianual sobre perspectivas alimentares. O custo das importações de comida pode ultrapassar este ano o bilião (um milhão de milhões) de dólares, devido ao brusco aumento de preços face a 2009.
O índice FAO Food Price subiu 34 pontos entre Junho, data da divulgação do anterior relatório, e Outubro, quando registava uma média de 197 pontos, apenas 16 abaixo do pico de 2008. A factura alimentar dos países mais pobres deve subir este ano 11 por cento, valor estimado em 20 por cento para países com baixo rendimento e défice alimentar.
O aumento de preços deve-se a diferentes factores, o mais importante dos quais foram as más colheitas de alguns produtores-chave, designadamente estados da antiga União Soviética, o que vai implicar uma redução de stocks e levar a dificuldades no abastecimento.
A subida começou por se fazer sentir no mercado de cereais, mais acentuadamente no trigo e na cevada, em Agosto, devido a condições climatéricas desfavoráveis que levaram a que as previsões de crescimento de 1,2 por cento na produção, adiantadas em Junho, dessem lugar a um cenário de queda de dois por cento.
As estimativas da FAO são de que os stocks de cereais caiam sete por cento, com baixa mais acentuada na cevada, 35 por cento, milho, 12 por cento, e trigo, dez por cento. Só nas reservas de arroz se espera uma subida, da ordem dos seis por cento. O enfraquecimento do dólar ajuda também a explicar a subida de preços, uma vez que a maior parte das transacções é feita nessa moeda.
A FAO espera que as reservas, actualmente maiores do que na crise de 2007
2008, designadamente de arroz e farinha de milho, alimentos de primeira necessidade em muitos países vulneráveis, permitam enfrentar melhor o problema, mas isso não a impede de estar preocupada com o efeito dos aumentos. A apreensão estende-se aos próximos anos, devido à previsível diminuição de reservas. "Tendo em conta a expectativa de quebra geral de stocks, a dimensão das colheitas dos próximos anos será um dado crítico para a estabilidade", refere.
A expectativa é de que em resposta à subida de preços os agricultores alarguem as áreas de cultivo, o que pode não apenas fazer face às necessidades mais imediatas como permitir repor stocks. Mas os cereais não são as únicas culturas atraentes para os agricultores – produtos como a soja, o açúcar e o algodão registaram também aumentos de preços –, o que "pode limitar as plantações a níveis insuficientes para aliviar o aperto", diz a FAO.
Neste quadro, assinala a organização, os consumidores podem ter que resignar-se a pagar "preços mais elevados pelos alimentos".
http://www.publico.pt/Mundo/subida-de-precos-ameaca-provocar-nova-crise-alimentar_1466723
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