segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Carne pode ser taxada para reduzir emissões poluentes


Com o gado a representar quase 15% das emissões de gases causadores do efeito de estufa e a previsão do aumento do consumo global de carne até meados do século, começam a procurar-se alternativas. Mas não só em termos fiscais.

17 de dezembro de 2017 às 13:00
Depois do carvão e do açúcar, o próximo alvo possível de um imposto global é a carne.

Alguns investidores apostam que governos em todo o mundo vão encontrar uma forma de começar a tributar a produção de carne para melhorar a saúde pública e cumprir as metas estabelecidas para as emissões no Acordo do Clima de Paris. Investidores com um foco social começam a pressionar para as empresas diversificarem para proteínas vegetais, ou até mesmo a sugerir que os produtores de gado usem "preços-sombra" para a carne - semelhante a um preço interno de carbono - para estimar os custos futuros.

A carne pode ter o mesmo destino do tabaco, do carvão e do açúcar, actualmente tributados em 180, 60 e 25 jurisdições em todo o mundo, respectivamente, segundo o relatório do grupo de investidores FAIRR (Farm Animal Investment Risk & Return) Initiative. Deputados da Dinamarca, da Alemanha, da China e da Suécia debateram nos últimos dois anos a criação de impostos relacionados com a pecuária, uma ideia que encontrou forte resistência.

As emissões de gases causadores do efeito de estufa provenientes do gado representam cerca de 14,5% do total mundial, segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, que projecta o aumento de 73% no consumo global de carne até meados deste século devido ao aumento da procura em economias como a Índia e a China. Isto pode resultar em custos de saúde e ambientais no valor de 1,6 biliões de dólares (1,36 biliões de euros à cotação actual), com impacto na economia global até 2050, segundo a FAIRR, sediada em Londres e criada pela Coller Capital.

"Os investidores começam a ponderar esta questão à semelhança do que fazem com a avaliação do risco climático", afirmou Rosie Wardle, que gere os compromissos de investidores na FAIRR. "Está agora mais assente que precisamos de enfrentar a questão da produção e do consumo de gado para atingir o limite de aquecimento global de dois graus."

Bebidas açucaradas

O possível impacto de um imposto sobre a carne pode ser semelhante aos impostos aplicados ao açúcar. Embora os impostos sobre o açúcar, destinados a combater a obesidade nos EUA, tenham enfrentado alguma resistência, foram aplicadas taxas semelhantes em 18 países e em seis cidades dos EUA, segundo dados compilados pela Bloomberg Intelligence. Quando o México criou um imposto especial sobre as bebidas açucaradas, em 2014, o consumo per capita dessas bebidas no país caiu 6% em 2014, 8% em 2015 e 11% no primeiro semestre de 2016, segundo o Instituto Nacional de Saúde Pública do México.

A ideia de taxar a carne tem sido limitada pelo receio de criar uma reacção política ao tributar os agricultores, afirmou a FAIRR no relatório.

Um fundo de capital de risco detido pela Tyson Foods fez na semana passada o segundo investimento na Beyond Meat. Esta empresa produz um hamburguer de base vegetal, um projecto que tem também o apoio do bilionário Bill Gates e de Leonardo DiCaprio e é vendido em milhares de supermercados e restaurantes dos EUA. 

A Tyson comprou uma participação inicial de 5% na criadora deste hamburguer no ano passado, seguindo a proposta da accionista Green Century Capital Management, que pediu que esta empresa do sector aviário analisasse mais oportunidades na área das proteínas vegetais.

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