Conclusões de Christopher Wild têm merecido críticas por ligar a carne processada e o glifosato ao cancro. O diretor da agência de pesquisa sobre o cancro diz que tem havido mal-entendidos e aponta o dedo aos críticos.
DN
26 Dezembro 2018 — 10:19
O chefe da agência da ONU que provocou protestos, e foi mesmo ridicularizado por alguns setores, quando declarou que o bacon, a carne vermelha e o herbicida glifosato provocam o cancro, veio defender o seu trabalho, negando que essas conclusões sejam desajustadas e insistindo na independência do seu trabalho.
De saída do cargo, Christopher Wild defendeu afincadamente as decisões e a transparência da Agência Internacional de Pesquisa sobre o Cancro (IARC), e passou ao ataque - falou nos interesses dos seus críticos, muitos dos quais são de corporações multinacionais.
Wild, um cientista britânico que está no comando da IARC há dez anos, admitiu agora numa entrevista ao Guardian que pode haver necessidade de explicar melhor ao público o que tem procurado com os seus estudos: evidências científicas sobre o que, de telemóveis (provavelmente) a café (sem provas), causa cancro. Reconheceu que o seu trabalho às vezes é mal compreendido.
"O público mudou. Se recuar 10 a 15 anos, a audiência dos estudos era profissional - agências reguladoras, cientistas, legisladores de diferentes tipos. Agora há tanto interesse no cancro e nas suas causas que há um público mais geral", disse.
Em reação à notícia de que carne processada era cancerígena, Wild diz que "não houve especulação". "O nosso papel é sintetizar as evidências. Analisamos se algo tem potencial para causar cancro em algumas circunstâncias ". O cientista confessa que ficou surpreendido com a polémica causada pelas suas conclusões desde 2015. "A ciência era cristalina. Colocamos um pouco de ênfase na relação entre quantidades ingeridas e efeito."
"A ciência era cristalina. Colocamos um pouco de ênfase na relação entre quantidades ingeridas e efeito"
A IARC trabalhou com a Organização Mundial de Saúde no desenho de uma estratégia de comunicação. "No entanto, não estávamos preparados para a escala de resposta e de interesse nisso", disse Wild. "Isso levou a muitas discussões internas e com nossos colegas da OMS sobre como podemos coordenar melhor a avaliação científica e depois os conselhos sobre saúde pública".
Mas há um mal-entendido geral do sistema de classificação da IARC, reconhece. O tabaco, a radiação ultravioleta e o álcool são todos cancerígenos de grau 1, o que não surpreende ninguém, porque se ligam respetivamente a cancros de pulmão, pele e fígado (e outros). Assim é o bacon processado e outras carnes processadas. Isso não significa que todos sejam igualmente perigosos.
A IARC diz que 50 gramas de carne processada por dia aumenta o risco de cancro colorretal em 18%. Isso ainda não é alto se a pessoa tiver um risco inicial muito baixo. Fumar, por outro lado, mata metade daqueles que o fazem.
Sobre a carne vermelha e a processada, Wild diz que "muitas das agências de notícias disseram que é sobre moderação de consumo e não dizem para não comer carne vermelha ou carne processada. Mas a parte que falta e que temos de ser nós a fazer, junto com a OMS, é uma diretriz sobre o que isso significa para o público. Foi aí que sentimos que precisávamos de trabalhar juntos, muito mais de perto, no processo de planeamento. "
No caso do glifosato, houve reações muito negativas aos estudos de Wild. Desde a avaliação, divulgada em março de 2015, Wild aponta que "a agência tem estado sujeita a esforços coordenados e sem precedentes para minar a avaliação, o programa e a organização. Esses esforços têm deliberadamente e repetidamente deturpado o trabalho da agência. Os ataques foram em grande parte da indústria agroquímica e dos meios de comunicação associados ".
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