07.03.2019 às 23h46
PAULA BRONSTEIN/GETTY
Embaixador dos EUA no Reino Unido chama "museu da agricultura" aos métodos e padrões europeus na matéria
LUÍS M. FARIA
O embaixador dos EUA na capital britânica, Woody Johnson, voltou a defender os métodos agrícolas do seu país em relação aos da União Europeia e do Reino Unido. Perante a resistência a certas práticas americanas que tornam difícil consumir determinados produtos na Europa, Johnson insistiu, numa entrevista à BBC, que qualquer acordo comercial pós-Brexit entre os dois países tem de incluir as questões agrícolas.
Em causa estão práticas como a utilização de hormonas no gado e a lavagem de carcaças de galinha com produtos de cloro. O ex-ministro da Agricultura britânica, George Eustice (que se demitiu em protesto contra o curso que as negociações sobre o Brexit estão a tomar), explicou que, "se os americanos querem ter acesso privilegiado ao mercado britânico, têm de aprender a cumprir a lei britânica e os padrões britânicos. Ou então podem dizer adeus a qualquer acordo comercial e voltar para o fim da fila".
Devolvendo a Johnson as críticas sobre a incapacidade de adotar métodos modernos, o ex-ministro explicou que a agricultura norte-americana, em muitos aspetos, permanece retrógrada, e que as suas prioridades nem sempre correspondem às europeias.
"No tribunal da opinião pública, se a escolha é entre os interesses comerciais dos bancos ou o bem-estar das galinhas, as galinhas vencerão sempre", disse. Acrescentou que nos EUA "há uma resistência geral a reconhecer sequer a existência de sensibilidade nos animais das quintas, o que é extraordinário".
Pela sua parte, o embaixador garante que os agricultores do seu país se preocupam tanto com os animais como os seus congéneres no Reino Unido. Na semana passada, garantiu a superioridade da agricultura norte-americana no "Daily Telegraph", um dos maiores jornais britânicos.
"Nos Estamos Unidos, temos uma perspetiva mais ampla", justificou. "Não é sustentável que o mundo todo siga a abordagem 'museu da agricultura' da União Europeia. Temos de olhar para o futuro da agricultura, não para o passado". E sugeriu que a UE usava os seus padrões alegadamente mais exigentes com o objetivo real de criar barreiras aos produtos americanos.
O facto de ter acabado de se saber que o défice comercial americano atingiu o nível mais elevado dos últimos dez anos poderá enfraquecer a posição americana. Reduzir esse défice foi uma promessa central da campanha de Donald Trump. Se o efeito das guerras comerciais que o Presidente dos Estados Unidos lançou tem sido exatamente o oposto - ou, no mínimo, se Trump não conseguiu minorar esse efeito - a eficácia da estratégia parece ficar em causa. E, afinal, os agricultores são um dos principais blocos de apoiantes do atual Presidente.
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