sexta-feira, 16 de novembro de 2012

O genoma do porco foi desmanchado ao fim de nove anos

16.11.2012 - 12:08 Por Nicolau Ferreira, null



Os cientistas esperam que a sequenciação do genoma do porco ajude a
desenvolver animais mais produtivos para a pecuária Os cientistas
esperam que a sequenciação do genoma do porco ajude a desenvolver
animais mais produtivos para a pecuária (Daniel Rocha)

Quando o javali surgiu há cerca de quatro milhões de anos, no
Sudeste asiático, não iria adivinhar que iria ter uma ligação tão
estreita com um hominídeo que nessa altura evoluía em África. Há dez
mil anos, o homem começou a domesticar esta espécie que hoje faz parte
da alimentação global. Agora, o porco doméstico e também o javali
viram os seus genomas sequenciados ou, para usar uma expressão
apropriada, desmanchados. O estudo está na revista Nature desta
semana. Além das implicações para a história evolutiva deste mamífero
e a pecuária, o trabalho é importante para a investigação de doenças
que nos afligem.


Só faltava a sequenciação do genoma do porco para ficarmos a conhecer
profundamente o ADN das três fontes de carne mais importantes para
alimentação humana. O genoma da vaca e da galinha já eram conhecidos,
e desde 2003 que o Consórcio de Sequenciação do Genoma do Porco
trabalhava neste objectivo.

"De todas as carnes utilizadas na alimentação, a do porco é a mais
popular e, com o crescimento da população global, precisamos de
melhorar a sustentabilidade da produção alimentar. O conhecimento
melhorado da composição genética do porco deverá ajudar-nos na
procriação de animais mais saudáveis e mais produtivos", disse um dos
coordenadores do projecto, Alan Archibald, do Instituto Roslin da
Universidade Edimburgo, e que é um dos 136 investigadores que assinam
o artigo.

O genoma do porco tem 21.640 genes. Apesar de o número ser semelhante
ao dos humanos, o genoma do porco, mesmo das raças mais comerciais,
tem duas a três vezes mais variabilidade do que o nosso. Isto pode-se
explicar pela grande diminuição do número de humanos que aconteceu há
cerca de 120.000 anos, antes de a nossa espécie ter saído de África,
para se espalhar pela Terra.

O principal trabalho de sequenciação centrou-se na T. J. Tabasco, uma
fêmea de porco doméstico, da raça europeia duroc, que estava na
Universidade do Illinois (EUA), uma das instituições envolvidas na
investigação. Do ponto de vista genómico, os investigadores
identificaram uma rápida evolução de genes ligados à defesa
imunitária. Dos 158 genes relacionados com a actividade imunitária
estudados pelo consórcio, 17% "demonstraram uma evolução acelerada".
Um fenómeno também encontrado nos humanos e nas vacas.

Um olfacto poderoso

Outra característica descoberta, esta distintiva do porco, explica a
sua capacidade de descobrir trufas, um cogumelo que vive escondido no
solo. Os cientistas identificaram 1301 genes que comandam a produção
de proteínas de receptores olfactivos, importantes na identificação de
diferentes odores. Até agora, nunca se tinha sequenciado o genoma de
um animal com tantos genes do olfacto. "Este número reflecte
provavelmente a forte dependência do olfacto que os porcos têm quando
procuram comida", escrevem os cientistas.

A equipa não restringiu a análise a um único porco doméstico e, além
disso, sequenciou ainda genomas de javalis, que são porcos selvagens.
Ao comparar os dois tipos de genomas, conseguiu olhar para o passado
da domesticação do porco.

Existe uma diferença genética significativa entre o genoma do javali
na Europa e o do javali na Ásia, que reflecte a separação das duas
populações há um milhão de anos. Esta diferença está patente nos
genomas dos porcos domésticos da Europa e da Ásia e reforça um
fenómeno de que já se desconfiava: a domesticação dos porcos ocorreu
mais do que uma vez na Europa e na Ásia. Além disso, os porcos
domésticos foram-se cruzando com o seu antepassado selvagem ao longo
dos milénios. "Ao contrário da vaca doméstica, cujos antepassados, os
auroques, estão agora extintos, ainda resta muita diversidade genética
à linhagem suína. Facilmente encontramos genes que ainda estão em
javalis que poderão ser utilizados para fins reprodutivos", explica
Lawrence Schook, da Universidade do Illinois.

Mas o genoma do porco pode também ajudar no estudo de várias doenças
humanas, já que a sua fisiologia é mais parecida com a nossa do que a
dos ratinhos. "Observámos 112 posições [de aminoácidos, os tijolos das
proteínas] onde as proteínas têm o mesmo aminoácido implicado em
doenças humanas", lê-se no artigo.

Os genes que comandam a produção destas proteínas estão relacionados
com a obesidade, a diabetes, a dislexia, a doença de Parkinson ou a de
Alzheimer. Estes genes identificados agora podem tornar o porco um
modelo biomédico ainda mais importante.

http://www.publico.pt/Ci%C3%AAncias/o-genoma-do-porco-foi-desmanchado-ao-fim-de-nove-anos-de-trabalho-1572744

1 comentário:

Anónimo disse...

Exmos. Srs, informo que a raça Duroc é uma raça americana e não europeia como referido anteriormente.

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