16-11-2016
As emissões de gás com efeito de estufa (GEE), geradas pelas energias fósseis, mantiveram-se estáveis pelo terceiro ano consecutivo, um progresso inédito mas insuficiente para travar o aquecimento do planeta, concluiu um estudo divulgado segunda-feira.
Esta «ruptura clara» em relação ao aumento das emissões, verificada na década anterior, foi possível graças à China, primeiro emissor mundial, que reduziu o recurso ao carvão, sublinha o Global Carbon Project, no 11.º balanço anual, realizado por cientistas de todo o mundo.
No ano passado, o total das emissões mundiais ligadas à indústria e à combustão de energias fósseis não aumentou e deverá registar uma pequena subida este ano, de 0.2 por cento, considera o estudo, publicado na Earth System Science Data, à margem da conferência do clima, a decorrer em Marraquexe.
Em 2014, a subida das emissões de GEE tinha sido de 0,7 por cento, contra um aumento médio anual de 2,3 por cento na década 2004-2013. «Este terceiro ano quase sem aumento de emissões não tem precedentes em período de forte crescimento económico», sublinha a autora principal, Corinne Le Quérè, da universidade britânica East Anglia.
«Trata-se de uma contribuição essencial para a luta contra as alterações climáticas, mas não é suficiente», acrescenta. «As emissões mundiais devem agora baixar rapidamente, e não apenas parar de crescer».
Para limitar a menos de dois graus centígrados (2ºC) a subida média dos termómetros em relação aos níveis anteriores à Revolução Industrial, limiar crítico estabelecido pela comunidade internacional no final de 2015, em Paris, as emissões devem baixar, em média, 0,9 por cento até 2030, lembra este estudo.
O mundo já emitiu os dois terços do que lhe é permitido, se quiser ficar abaixo deste limite de 2ºC. Ao ritmo actual, este «orçamento carvão» será consumido integralmente nos próximos 30 anos. «Se os negociadores conseguissem em Marraquexe acelerar a redução de emissões, daríamos um enorme passo na luta climática», insiste Le Quéré.
Devido à inércia dos GEE, que perduram muito tempo, a sua concentração na atmosfera nunca foi tão elevada como no ano passado, sublinha o estudo. «Em 2015 e 2016, as florestas absorveram menos dióxido de carbono (CO2) devido ao calor, ligado nomeadamente ao fenómeno El Niño», explica a cientista.
Os países emissores mostraram também situações muito diversas. A China, que emite 29 por cento dos GEE, viu as emissões baixarem 0,7 por cento em 2005. Os Estados Unidos, segundo emissor, 15 por cento, reduziram as suas emissões 2,6 pontos percentuais (p.p.) em 2015, recorrendo ao gás e ao petróleo, mais do que ao carvão.
As energias «eólica, solar e o gás continuam a substituir o carvão no consumo eléctrico norte-americano», nota Glen Peters, um dos co-autores. Já a União Europeia (UE), 10 p.p. das emissões globais, conheceu um aumento das emissões de 1,4 pontos em 2015. A Índia continua a aumentar as emissões, com 5,2 por cento no ano passado.
A comunidade internacional, que se reúne em Marraquexe até sexta-feira, tenta chegar a acordo sobre a aplicação do acordo de Paris contra as alterações climáticas, nomeadamente para reforçar os compromissos nacionais, até agora insuficientes.
Fonte: Público
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