domingo, 29 de julho de 2018

Insegurança alimentar em Cabo Verde afeta 30 mil pessoas. FAO aliviada por impacto da seca ser menor do que o previsto

15.07.2018 às 19h19


José Garziano da Silva, diretor geral da Organização para a Alimentação e Agricultura, temeu que 150 a 200 mil pessoas viessem a ser afetadas pela grande seca de 2017 em Cabo Verde. O país foi incluído foi lista de emergência alimentar, medida que faz parte da nova estratégia "antes prevenir do que remediar" da FAO

O diretor geral da FAO, José Graziano da Silva, estimou, este domingo, em cerca de 30 mil as pessoas cuja segurança alimentar será afetada pela seca em Cabo Verde, manifestando-se satisfeito por as previsões iniciais não se terem concretizado. "Tínhamos uma projeção que entre 150 e 200 mil pessoas seriam afetadas na sua segurança alimentar, mas felizmente isso não ocorreu. Os números que temos hoje são muito menores. Estamos a fazer uma avaliação agora, mas diria que nem um quinto dessa população está sob ameaça. Estamos a falar aproximadamente 30 mil pessoas, que é uma ordem de magnitude que estamos acostumados a trabalhar na região do Sahel", disse José Graziano da Silva.

O diretor geral da Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês) falava aos jornalistas, na cidade da Praia, à margem de uma cerimónia em que foi condecorado com a Medalha de Mérito da República de Cabo Verde pelo chefe de Estado cabo-verdiano, Jorge Carlos Fonseca. Cabo Verde foi incluido pela FAO na lista de países que poderia vir a precisar de ajuda alimentar de emergência, devido aos efeitos da seca e do mau ano agrícola que assolou o país em 2017, medida que Graziano da Silva adiantou ter sido de prevenção.

"No ano da seca, apoiámos Cabo Verde com oito milhões de dólares, 16 vezes mais do que o que costumávamos investir, por causa da magnitude do facto. Não é uma seca qualquer, é uma seca que só tem precedentes em 1947. O facto de termos listado Cabo Verde nos países que poderiam precisar de ajuda alimentar é uma prevenção que a FAO faz habitualmente quando há fenómenos dessa magnitude, excecionais. É para prevenir a nossa comunidade internacional, os nossos doadores de que os recursos estão a ser alocados, mas que mais poderão ser necessários", explicou.

José Graziano da Silva sublinhou que a "nova normalidade" na região do Sahel revela um regime de chuvas torrenciais e concentradas em poucos dias, alertando igualmente para o potencial de destruição destas chuvas. "As previsões são totalmente incertas. Não temos como fazer previsões dada a alteração que está a acontecer no clima. A FAO tem trabalhado com a ideia de que é melhor prevenir que remediar e, por isso, continuamos a procurar os investimentos, os recursos para fazer o possível para que, na hora em que as chuvas torrenciais vierem, estejamos preparados para isso, inclusive para captar parte dessa água para ser utilizada para futuro", disse.

O responsável da FAO destacou também a importância do exemplo de Cabo Verde no trabalho da organização, considerando que se trata de "um laboratório onde se está a demonstrar que prevenir é melhor que remediar". José Graziano da Silva vai participar à margem da XII Conferência dos Chefes de Estado e de Governo da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), que terá lugar de 17 a 18 de julho na ilha do Sal, na reunião do Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSAN) daquela organização.

No âmbito da deslocação à cimeira da CPLP, José Graziano da Silva cumpre este domingo uma agenda de contactos com as autoridades cabo-verdianas e de visitas na ilha de Santiago, seguindo ao final do dia para a ilha do Sal. Durante a manhã assinou com o Governo cabo-verdiano um acordo de cooperação para promover maior resistência de pastores e agricultores aos períodos de seca.

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