Seca prolongada levou a recuo na área de cultivo de cereais, mas a chuva poderá levar a mitigar a quebra de produção
As chuvas de março foram uma verdadeira "água milagrosa" para a agricultura nacional, tendo ajudado a recuperar a produção das culturas de sequeiro, cereais e floresta. "Esta água fazia-nos muita falta. Março foi o mês mais chuvoso desde 1931, não veio a tempo para recuperar a produção de tomate para a indústria, mas ajudou a recuperar as culturas do próximo verão", afirma Luís Mira, secretário-geral da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP).
O início do ano previa-se menos animador, em particular para a cultura de cereais. No final de fevereiro, 84% do território encontrava-se em seca severa e extrema, tendo nos cereais de outono-inverno a seca prolongada reduzido a janela de oportunidade para a realização de sementeiras. Resultado? Uma diminuição generalizada das áreas cultivadas, com a área dedicada ao centeio a reduzir 5%, a diminuir 10% na cevada, 15% no trigo mole e triticale e 20% no trigo duro, de acordo com o Boletim Mensal da Agricultura e Pesca, do INE, divulgado em março.
Uma diminuição da área de produção que ocorria pelo quinto ano consecutivo, apontando o gabinete de estatísticas nacional que se atingia um mínimo histórico de 121 mil hectares, a menor área dos últimos cem anos (desde que existem registos). E com a seca igualmente a afetar a produtividade dos terrenos. No caso da cevada, cereal com uma sementeira mais precoce, o INE apontava uma descida de 5% na produção, para 1,2 toneladas por hectare.
"Em termos de área cultivada, já não há nada a fazer, mas as culturas [com a chuva] deverão recuperar um bom bocado", acredita Luís Mira. "As searas estão com muito bom aspeto. Foi uma água milagrosa", diz o responsável da CAP.
Floresta, sobreiros e pinheiros também beneficiaram do mês chuvoso. "Mesmo para as áreas ardidas não foi mau. Choveu um pouco, tendo nascido alguma vegetação, e quando choveu mais não houve arrastamento de terras", descreve. "Se continuar a chover com estes níveis é que as coisas poderão complicar-se", admite o secretário-geral da CAP. "Em maio/junho tudo estará [ao nível da precipitação] na normalidade. Mas vamos ver", diz, lembrando que as estações do ano, que antes determinavam as culturas, estão cada vez mais imprevisíveis.
Em 2018, as previsões para o ano agrícola apontam para uma produção histórica do azeite, que deverá superar os 1,3 milhões de hectolitros, perspetiva o INE. Melhor só mesmo a campanha de 1953-54, a mais produtiva desde 1915. Quanto aos preços agrícolas, ao nível do produtor, os dados do INE são apenas até fevereiro, mas as maiores variações face ao ano anterior são nos ovinos e caprinos (+18,6%), nos ovos (+14,5%) e na batata (-58,1%). Face a janeiro, as maiores variações ocorreram nos hortícolas frescos (+6,1%), nos ovos (-21%) e nos frutos (-7,3%).
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