05.07.2018 12h12
A organização de conservação da natureza WWF defendeu hoje que "não se pode culpar o eucalipto ou o pinheiro" pelos últimos grandes incêndios, considerando ser este um dos "mitos" que refletem tentativas de fuga à responsabilidade política.
"Não se pode culpar o eucalipto ou o pinheiro pelo que tem acontecido, mas podemos acusar o modelo territorial e a ausência de políticas que promovam um planeamento paisagístico coerente", salienta a WWF num trabalho hoje apresentado em Lisboa e em Madrid.
O relatório intitulado "O barril de pólvora do noroeste" analisa as causas e as circunstâncias em que ocorreram os grandes incêndios florestais ibéricos de 2017, principalmente a norte do Tejo, em Portugal, e na Galiza e Astúrias, em Espanha, que causaram mais de uma centena de mortos e centenas de milhares de hectares ardidos.
Para a WWF, "é necessário desmistificar alguns dos tópicos constantemente associados aos grandes incêndios, como a existência de 'terrorismo incendiário', a 'culpabilização do eucalipto', a 'especulação urbana' ou a 'requalificação de terrenos'".
A organização, presente em Portugal e em Espanha, defende que "estes mitos não são mais do que uma tentativa de fuga à responsabilidade política perante um problema social e ambiental cuja solução requer mudanças profundas".
"OS SUPER INCÊNDIOS NÃO SE APAGAM COM MAIS HIDROAVIÕES"
A WWF insiste que os incêndios de 2017 têm de ser um ponto de viragem para os dois governos e apela à tomada de responsabilidade no sentido de mudar a abordagem na luta contra o fogo, pois "os super incêndios, consequências das alterações climáticas, não se apagam com mais hidroaviões".
No ano passado, em Espanha, o número de grandes incêndios aumentou quase 200%, ou seja, triplicou em relação à média dos últimos dez anos, enquanto em Portugal arderam cerca de 500.000 hectares, o que representa um acréscimo de 400%, ou seja, cinco vezes a área afetada por fogos na última década, segundo dados do Instituto da Conservação da natureza e Florestas (ICNF), citados pela WWF.
Para a organização, os incêndios estão relacionados com vários fatores e "repovoamentos de eucalipto ou pinho, abandono rural e clima são uma combinação decisiva".
O debate acerca desta questão deve alargar-se além das críticas ao eucalipto e focar-se em "onde vamos permitir que existam eucaliptos do ponto de vista social e biológico e como devem ser geridos para que não coloquem em risco ecossistemas ou populações", defendem os ambientalistas.
"É um absurdo económico e ambiental que existam plantações de eucalipto abandonadas, em parcelas que os próprios donos nem sequer sabem que são suas", realçam, alertando que aquela espécie "pode ter sentido em casos em que há um correto aproveitamento económico, bem gerido e ordenado".
De acordo com a associação de defesa do ambiente, o abandono das plantações de eucalipto na Galiza é de cerca de 40% e as administrações galega e portuguesa "devem urgentemente" identificar as parcelas abandonadas, intervir e atribuir novos usos para diversificar a paisagem.
Em Espanha, quase 65% dos incêndios ocorrem no noroeste peninsular e só na Galiza, que representa 50% do total dos fogos, ocorrem 6.000 ignições por ano. Em Portugal, em 2017, dos 16.981 pedidos de auxílio registados até 31 de outubro, 94% ocorreram a norte do Tejo.
Lusa
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