segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Nem toda a agricultura familiar é segura. Estudo alerta para presença de pesticidas


18 DE JANEIRO DE 2019 - 09:37
Pesticidas ameaçam produção. Passagem para o modo biológico ajuda na saúde e aumenta rendimentos

São mais de 200 mil os agricultores familiares existentes em Portugal, homens e mulheres que produzem em propriedades de pequena dimensão e que se socorrem dos mais próximos nas colheitas. Estes profissionais, que normalmente estão fora dos radares da investigação, estão agora a ser alvo de um estudo do Instituto Politécnico de Viseu, no âmbito do projeto "Pontes entre agricultura familiar e agricultura biológica".

Segundo a coordenadora da investigação, Cristina Amaro da Costa, os agricultores familiares representam 90% do setor agrícola no nosso país, assegurando quase metade do que os portugueses comem - no entanto, nem todos os produtos que vendem têm qualidade ao contrário do que muita gente pensa.

"Temos a sensação que estes agricultores produzem tradicionalmente, como os nossos avós, que os alimentos são de qualidade, mas nem sempre o são, porque eles têm algumas práticas de grande risco, nomeadamente o uso de pesticidas", alerta.

O estudo, que inquiriu perto de 300 agricultores do Norte e Centro do país, não aprofundou muito o tema, mas constatou que há provas "evidentes que quem contacta muito com estes produtos (pesticidas) têm mais problemas de saúde", ao nível dos olhos, pele e doenças respiratórias.

O jornalista José Ricardo Ferreira ouviu a coordenadora do estudo do Instituto Politécnico de Viseu sobre agricultura familiar
A investigação está na reta final. Depois de concluída, alguns dos resultados vão ser encaminhados ao Governo.

"As recomendações passarão seguramente pela necessidade de capacitação deste agricultores, de apoio técnico, de apoio à comercialização, de formas simplificadas de reconhecimento da qualidade destes produtos e de regulamentação fiscal destes agricultores, sem que a vida lhes seja complicada, porque não estamos a falar de grandes negócios", defende Cristina Amaro da Costa.

Para além destas ajudas do poder central, a também professora na Escola Superior Agrária de Viseu considera que este grupo de agricultores pode melhorar os rendimentos se decidirem converter-se à agricultura biológica.

"É uma técnica bastante inovadora, que usa práticas agrícolas inovadoras, que as pessoas gostam e, se acreditam que o produto é de melhor qualidade, estão dispostas a pagar mais por estes alimentos. Isto está a acontecer no mundo inteiro e em Portugal também", sustenta, acrescentando que "para estes pequenos agricultores [esta transição] pode ser uma mais-valia, porque eles não têm outro tipo de mais-valias, não têm grandes áreas, não têm grande capacidade de investimento e esta pequenina mudança pode dar-lhes maior sustentabilidade e melhor qualidade de vida".

Na opinião da investigadora, a agricultura em modo biológico pode também contribuir para o desenvolvimento dos territórios.

"Agricultura familiar, agricultura biológica e desenvolvimento rural" é o tema de um ciclo de seminários que o projeto "Pontes entre agricultura familiar e agricultura biológica" promove esta sexta-feira na Guarda. As conferências, que prosseguem nos próximos dias 24 e 25 em Viseu e Vairão, vão juntar especialistas de diferentes áreas e setores, mas também agricultores.

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