segunda-feira, 4 de julho de 2016

O regresso dos resineiros



ANTÓNIO PEDRO SANTOS

A resina voltou a ter procura. Os produtores nacionais estão a voltar a investir nesta matéria-prima, da qual Portugal já foi o maior exportador da Europa e o segundo maior do mundo. Os antigos resineiros voltaram ao ativo. E os pinheiros portugueses voltam a sangrar.

Quando Emília Domingues partiu para a Suíça, sabia que, mais cedo ou mais tarde, a resina voltaria a fazer parte da sua vida. Com a quarta classe e uma mala a tiracolo, tinha uma certeza e um sonho: queria ser mãe solteira e juntar dinheiro para construir uma vivenda em Portugal. Com 17 anos e uma personalidade que chocava com a do pai, homem de velhos costumes, Emília era o oposto das mulheres da época. Estávamos em 1985. «As minhas amigas queriam casar de véu e grinalda. Eu não. Eu desejava ser mãe, mas não queria depender de nenhum homem.»

Emília fala enquanto recolhe resina num pinhal na zona industrial da Guia, arredores de Leiria. Começou a trabalhar aos 13 anos, depois de uma infância complicada. «Precisava de conhecer mundo. Não queria uma vida de sofrimento, como a minha mãe.» Na Suíça trabalhou num restaurante e como empregada doméstica. Dias e noites sem descansar durante oito anos. Só pensava na vivenda dos sonhos, ao mesmo tempo que não se conseguia libertar do odor a resina. «Que saudades eu tinha deste cheiro! É das coisas de que mais sentia falta.»

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