29.06.2016 às 12h142
Numa fase inicial, a equipa selecionou 50 sobreiros a nível nacional, para daí encontrar o sobreiro com o mínimo de heterozigotia possível, ou seja, menor variabilidade genética
D.R.
Investigadores portugueses estão a descodificar o genoma do sobreiro para conseguir assim as melhores árvores e cortiça de qualidade superior
RUBINA FREITAS
A versão resumida é que depois deste trabalho de investigação nacional, que está a meses do fim, vai ser possível fazer seleção genética dos sobreiros que sejam portadores dos melhores genes e com isso obter a melhor cortiça. E isto não é coisa de somenos num país que produz 49% da cortiça mundial, qualquer coisa como 40 milhões de rolhas por dia, que tem 650 empresas a laborar no sector e dá emprego a 9000 pessoas diretamente. Quer isso dizer que haverá produção de sobreiro geneticamente modificado? Não, não é isso que está na base do GenoSuber que remonta a 2013, mas estava na gaveta há uns anos, à espera de financiamento europeu.
E entramos na versão mais completa da história que vai permitir descodificar o genoma do sobreiro e cujos resultados serão publicados na revista Nature. Trata-se de um projeto do Centro de Biotecnologia Agrícola e Agro-Alimentar do Alentejo (CEBAL), que envolve também o Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV), o Instituto de Tecnologia Química e Biológica da Universidade Nova de Lisboa (ITQB), o Instituto de Biologia Experimental e Tecnológica (IBET) e o Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC). Conta ainda com o apoio da Fundação João Lopes Fernandes, em cuja herdade localizada em Montargil se encontra o sobreiro cujo genoma está ser sequenciado, e de vários patrocinadores, que incluem a Corticeira Amorim, a Cork Supply e o Crédito Agrícola.
Escolher a árvore que iria ser sequenciada não foi um processo simples. Os sobreiros cruzam-se frequentemente com outros carvalhos (árvores também do género Quercus), resultando em híbridos do ponto de vista genético, mas que visualmente são sobreiros. Numa fase inicial, a equipa selecionou 50 sobreiros a nível nacional, para daí encontrar o sobreiro com o mínimo de heterozigotia possível, ou seja, menor variabilidade genética.
Ainda assim, Marcos Ramos, o cientista da CEBAL responsável pelo projeto desde março, acredita que não foi o passo mais complicado. "Os maiores desafios talvez tenham sido a implementação de toda a infraestrutura, incluindo os recursos humanos, necessária para as análises bioinformáticas que seriam necessárias, assim como todo o trabalho de campo que foi necessário para produzir, através de polinizações controladas, a primeira população de sobreiros com pedigree conhecido", explica. "Atualmente temos cerca de 260 sobreiros para os quais sabemos quem foi a árvore mãe e quem foi a árvore pai", revela.
A investigação envolve 40 a 50 pessoas. "Os contributos de todas estas pessoas foram, e continuam a ser, fundamentais para o bom desenrolar do projeto", sublinha o cientista português, que abraçou o Genosuber quando vivia na Holanda e este acabou por ser decisivo no regresso à terra natal.
Apesar de haver alguns atrasos, Marcos Ramos está confiante de que os resultados da montagem deste puzzle complexo será bastante positiva. "O sobreiro tem sido uma das espécies florestais do montado que tem sofrido algum declínio, devido a fatores bióticos e abióticos e a qualidade da cortiça continua a ser uma preocupação dos produtores e da indústria", revela. "Quanto melhor for o nosso conhecimento sobre o sobreiro mais fácil tudo se tornará", afirma, garantindo que esta é a chave de muitas investigações futuras nesta área.
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