por LUÍS MANETA, ÉHoje
Os ministérios da Agricultura e das Obras Públicas autorizaram o abate
de 965 sobreiros e 314 azinheiras para a construção do lanço do IP8
entre Grândola e Ferreira do Alentejo. "Ver todas aquelas árvores
marcadas para serem abatidas dói um bocado", diz João Paulo Martins,
da associação ambientalista Quercus, em Beja. "Aquando da avaliação do
impacte ambiental fizemos propostas no sentido de o traçado da nova
estrada coincidir tanto quanto possível com o da actual, mas nem
sempre esta opção foi tida em conta."
Segundo João Paulo Martins, o abate destas 1279 árvores localizadas em
zonas sensíveis como a serra de Grândola e em núcleos de elevado valor
ecológico ao longo do traçado corresponde "apenas a uma parte" do
total de sobreiros e azinheiras que terão de ser derrubados para
permitir a obra.
Num despacho conjunto publicado no passado dia 23 em Diário da
República, os ministérios da Agricultura e das Obras Pública
justificam a autorização para o abate dado tratar-se de um
empreendimento de "imprescindível utilidade pública", para o qual "não
existem alternativas válidas" e que obteve declaração de impacte
ambiental favorável, ainda que condicionada ao cumprimento de medidas
compensatórias.
O despacho refere que a obra tem "relevante interesse económico e
social" e está prevista há dez anos no Plano Rodoviário Nacional para
permitir uma ligação mais rápida do Porto de Sines à fronteira com
Espanha e ao aeroporto de Beja.
O contrato de concessão do Baixo Alentejo foi assinado em Janeiro de
2008 com a Estradas da Planície, consórcio liderado pela Edifer, tendo
obtido visto prévio do Tribunal de Contas em Julho deste ano. A obra
representa um investimento global de 690 milhões de euros.
"Houve da nossa parte a tentativa de minimizar os impactes ambientais
relativamente às propostas de trajecto que estavam em cima da mesa.
Mas o que tem de se equacionar é se faz sentido continuar a construir
mais auto-estradas num país como o nosso", diz João Paulo Martins,
explicando que, além do derrube das árvores, estas grandes obras
provocam a "compartimentação dos ecossistemas", a qual não é
totalmente resolvida por medidas compensatórias. "São novas estradas,
valas e vedações que vêm dividir o território criando mais barreiras
aos continuos naturais", diz.
Para compensar o arranque destas árvores, entre as quais se incluem
774 sobreiros adultos com dezenas de anos, a Sociedade Portuguesa para
a Construção e Exploração Rodoviária (SPER), encarregada deste troço
do IP8, compromete-se a plantar uma quan- tidade de árvores superior
em 46 hectares de povoamento de sobreiro geridos pela Autoridade
Florestal Nacional na Herdade da Bêbada, próximo de Sines.
http://dn.sapo.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1743756&seccao=Sul
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