02.03.2018 às 16h44
O sobreiro de Águas de Moura, no concelho de Palmela, tem 234 anos e mais de 14 metros de altura
Para continuar a crescer, os industriais do sector querem mais 50 mil hectares de montado de sobro. Se não for possível no Alentejo pode ser nas zonas ardidas do interior. Mas são também as alterações climáticas que estão a 'empurrar' os sobreiros para norte
O presidente da Associação Portuguesa de Cortiça (APCOR), João Rui Ferreira, defendeu hoje que para continuar a crescer, a indústria da cortiça precisa de pelo menos mais 50 mil hectares de montado de sobro.
Em comunicado, João Rui Ferreira afirma ter solicitado "o compromisso do Estado numa reforma que aposte na proteção e adensamento dos montados existentes, com particular ênfase no alargamento a novas áreas geográficas".
Segundo alguns empresários agrícolas e climatologistas o Alentejo já não é o que era para o cultivo do montado de sobro. As temperaturas cada vez mais elevadas e os períodos de seca cada vez mais frequentes e prolongados estão a matar os sobreiros na planície alentejana.
Eduardo Oliveira e Sousa, presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), diz que em muitos locais do Alentejo o montado de sobre está a tornar-se num 'cemitério plantado'. O excesso de calor está a matar os sobreiros e, ao contrário das oliveiras, não podem ser transplantados, pois não resistem a uma mudança em idade adulta.
SOBREIROS RESISTEM AOS FOGOS
A solução é semear ou plantar sobreiros cada vez mais para norte, a começar pelas zonas ardidas do pinhal interior. Os sobreiros resistem aos fogos, pois arde a cortiça mas não arde o tronco e a árvore mantem-se de pé.
O presidente da APCOR sublinha que o secretário de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural, Miguel Freitas, assumiu na quarta-feira, em Santa Maria da Feira, a intenção do Governo em apoiar a plantação de sobreiros em todo o território nacional, um desígnio que vai ao encontro das pretensões dos empresários do setor da cortiça.
Segundo o presidente da APCOR, o secretário de Estado, que visitou algumas empresas, considerou "fundamental que o setor industrial se envolva mais na produção florestal, e no setor da cortiça este é um cenário que devemos aprofundar".
Nesse sentido, João Rui Ferreira disse que irá realizar, já na próxima semana, "uma visita exploratória à zona do Pinhal Interior para perceber que áreas específicas poderão ser usadas para plantação de sobreiros, tendo já agendadas reuniões com várias autarquias da região".
EXPORTAÇÕES CRESCEM 4,5% AO ANO
"Estamos a viver um período único no setor da cortiça, a imagem nos mercados internacionais é muito positiva e a preferência de profissionais e consumidores é bastante clara, quer no mundo vinícola quer nas restantes aplicações. Tudo isto materializado com aumentos médios anuais das exportações na ordem dos 4,5%, durante os últimos 9 anos, sendo 2017 mais um ano recorde", afirma.
Em seu entender, "é tempo de, em conjunto, encontrar formas de aumentar a disponibilidade de matéria-prima, numa visão nacional para o sobreiro e num esforço que possibilite manter esta rota de crescimento".
"A indústria está consciente da sua responsabilidade e o sinal dado pelo Secretário de Estado deixa-nos confiantes", frisou João Rui Ferreira.
De acordo com a associação, Portugal é líder mundial em produção e área de montado, com cerca de 100 mil toneladas extraídas e 700 mil hectares de área plantada.
Fundada em 1956, a Associação Portuguesa da Cortiça está no mercado há 60 anos e é hoje a única associação patronal do setor em Portugal.
Sediada no coração da indústria da cortiça, no concelho de Santa Maria da Feira, a APCOR representa atualmente 278 empresas, responsáveis por 80% do volume total de negócios do setor e 85% das exportações portuguesas de Cortiça.
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