quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Portugueses comem carne e pescado a mais e hortícolas e leguminosas a menos


Por Natália Faria
Consumo de gorduras saturadas excede as recomendações internacionais e ajuda a explicar aumento das doenças cardiovasculares, responsáveis por 32 por cento das mortes em 2008

Por uma política de educação alimentar

Calorias e gordura a mais, frutos, hortícolas e leguminosas a menos. A dieta portuguesa já conheceu melhores dias. Entre 2003 e 2008, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), os portugueses abusaram também do grupo alimentar da carne, pescado e ovos e elegeram a cerveja como bebida alcoólica preferida. Dado curioso: o consumo de iogurtes baixou pela primeira vez em 14 anos e o bacalhau também continua a perder importância.

Numa comparação com os hábitos alimentares da década de 90, o INE constatou que os desequilíbrios à mesa se acentuaram. Em termos de calorias ingeridas, as quantidades diárias correspondiam em média a 3883 quilocalorias, ou seja, bastante acima das 2000 a 2500 recomendadas.

Esta distorção decorre, em parte, de um consumo de carne, pescado e ovos 11 pontos percentuais acima do recomendado - este grupo representa 16,3 por cento da alimentação diária no período estudado, enquanto a roda dos alimentos recomenda apenas cinco por cento. Em sentido contrário, a ingestão de hortícolas está dez pontos percentuais abaixo do recomendado.

Aquém do recomendado fica também o consumo de leguminosas secas - feijão, grão-de-bico, lentilhas, com 0,7 por cento -, contra um padrão aconselhado de quatro por cento. Dito doutro modo, para ficarem mais próximos da alimentação ideal os portugueses deviam aumentar cinco vezes a ingestão de leguminosas secas. Os frutos, que deveriam representar 20 por cento da alimentação, também andam reduzidos a 14 por cento, ou seja, seis pontos percentuais abaixo do recomendado.

Bacalhau em perda

No grupo óleos e gorduras, a ingestão aumentou quatro por cento relativamente à década de 90, tendo-se fixado nos seis por cento, contra os dois por cento recomendados. Não seria tão grave, se as gorduras não fossem um dos principais factores de risco para o desenvolvimento das doenças cardiovasculares e se estas não tivessem sido a principal causa de morte em Portugal em 2008 - cerca de 32 por cento do total.

A carne de porco é a mais consumida, representando 38 por cento do total deste grupo, mas a sua importância decresceu um ponto percentual entre 2003 e 2008. A ingestão de carne de animais de capoeira, por seu turno, tem vindo a aumentar e já representa 33 por cento das disponibilidades alimentares das carnes. O INE concluiu, aliás, que as crises dos nitrofuranos (2003) e da gripe das aves (2006) não afectaram o consumo destas carnes. O facto de se tratar de carne branca, mais barata e menos gorda, pode ajudar a explicar o aumento de três pontos percentuais no seu consumo, segundo o INE.

Já o bacalhau tem vindo a perder importância dentro do grupo do pescado, tendo o seu consumo diminuído em cerca de 20 por cento no período analisado. Explicação: o aumento do preço, que chegou aos 9,4 por cento em 2008.

No grupo dos lacticínios - cujo consumo está dois pontos percentuais acima dos 18 por cento recomendados -, o INE detectou uma retracção do consumo em 2008. Explicação: a escassez de matéria-prima na indústria transformadora de lacticínios, que provocou um aumento dos preços na produção do leite cru e, consequentemente, junto do consumidor. Esta retracção incidiu nos iogurtes (quatro por cento) e no queijo (dois por cento). Aliás, no caso dos iogurtes foi a primeira vez em 14 anos que houve uma diminuição do consumo.

No campo dos cereais, prepondera o arroz. Aliás, Portugal é o país europeu que consome mais arroz, com uma média de 17,3 quilos por habitante por ano - em Espanha esse valor é de seis quilos por habitante/ano. Este aumento surge acompanhado por uma diminuição do consumo de tubérculos e raízes como batata e cenoura. Boa notícia: o azeite tende a substituir a margarina na dieta alimentar.

A cerveja mostrou ser a bebida preferida dos portugueses, com o seu consumo a sobrepor-se ao do vinho. Entre 2003 e 2008, a quantidade disponível para consumo diário per capita de bebidas alcoólicas decresceu oito por cento. A excepção foi 2004, ano em que o Euro 2004 fez aumentar o consumo de álcool, sobretudo à custa da cerveja que, nesse ano, aumentou dois por cento. Quanto ao vinho, perde importância desde a década de 90 e, entre 2003 e 2008, o seu consumo desceu dez por cento. Nas bebidas não alcoólicas, o consumo de água aumentou três por cento e o de refrigerantes diminuiu sete por cento.

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