A AJAP - Associação dos Jovens Agricultores de Portugal, no seguimento
das estatísticas tornadas públicas, que apontam para uma redução do
desemprego e referem a actividade agrícola como a mais responsável por
este indicador positivo para o País, entende fundamental que sejam
prestados alguns esclarecimentos que fundamentam os números
apresentados, nomeadamente:
1. Questão da sazonalidade de algumas tarefas agrícolas, sendo esta a
altura das colheitas, necessita de bastante mão-de-obra. Este facto
torna-se este ano significativo porque muita dessa mão-de-obra é
nacional.
2. O surgimento de algumas centenas de Jovens Agricultores que
iniciaram actividade, seguramente também contribuíram para os números
estatísticos apresentados.
3. Início de actividade de inúmeros pequenos agricultores, devido às
recentes alterações fiscais, verificados na presente campanha de
candidaturas aos subsídios agrícolas.
Na nossa perspectiva, o somatório dos números que cada uma destas
componentes representa, justifica em boa parte os números avançados
pelas Estatísticas oficiais.
São efectivamente números importantes para o sector, mas não deixam de
ser algo preocupantes.
As nossas preocupações assentam na importância que será dada no futuro
ao sector, depois da crise, será que serviu apenas para a atenuar,
para desviar atenções com apoios a Jovens Agricultores…?
Os políticos acabaram por falhar no compromisso de "salvação
nacional", nada temos com isso, mas a actividade agrícola precisa de
compromissos de estabilidade, porque não pode, de ânimo leve, alterar
opção tomadas, nem deslocalizar-se como o fazem outras actividades e
de igual forma não pode perpetuar-se ao sabor dos interesses das
grandes superfícies, nem tão pouco de "modas" políticas.
Será que de uma vez por todas, com esta crise, os políticos ainda não
perceberam isto?
Sendo certo que perceberam, esperamos que no futuro não esqueçam esta
actividade, numa fase em que começamos a ter alguns indicadores de
mudança positivos. O surgimento no futuro de medidas menos pensadas,
demasiado economicistas, excessivamente penalizadoras em termos
fiscais, sem ouvir os seus intervenientes, seguramente a arrastará
para patamares de difícil recuperação.
Hoje é "futuro", e se cada Jovem Agricultor que se instale, não se
sentir apoiado e acompanhado por políticas, por práticas e
procedimentos e se infelizmente as coisas não lhe correrem bem,
desaparece, arrasta outros com ele e semeia o descrédito.
Não nos podemos contentar com números que apenas serviram para
estatísticas, Portugal tem de assumir compromissos com todos aqueles
que optaram pela agricultura.
Os atuais agricultores mais idosos tendem a abandonar a actividade já
de si pouco produtiva, mas crucial em tantas regiões do País, e
afastam descendentes a permanecer se não se sentirem confortados com
medidas de apoio a este tipo de agricultura familiar.
As empresas agrícolas mais competitivas têm de sentir no seu dia-a-dia
que esta actividade é crucial para o País, e muitas vezes essa
constatação reflecte-se nos preços dos factores de produção, da
electricidade e no preço a que vendem as suas produções, quando
comparam com os demais parceiros europeus.
Os números que todos esperamos um dia, verdadeiramente realistas para
a actividade, são aqueles assentes no rejuvenescimento constante, são
aqueles que reflictam aumentos de produtividade e auto-suficiência
alimentar, aqueles em que as exportações regulares façam baixar as
importações, aqueles em que os pequenos e médios agricultores se
sintam motivados também pela contribuição do aumento da produtividade
do País.
Para além dos números, o espaço rural português tem de reflectir a
mudança de paradigma tão proclamada, necessitamos de restruturar as
nossas florestas, necessitamos de dar vida às vilas e aldeias de
Portugal, pelo turismo, caça, pesca, pela preservação da natureza e
dos recursos naturais e fundamentalmente pelo desenvolvimento de
actividade agrícola apostada na valorização da qualidade dos seus
produtos, pela transformação dos mesmos e acima de tudo que possam
chegar aos mercados capazes de pagar o seu justo valor.
http://www.agroportal.pt/x/agronoticias/2013/08/12c.htm
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