terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Cidadãos criam espaço para agricultura não convencional no centro do Porto

17.01.2011
Mariana Correia Pinto
Movimento pretende aproveitar terrenos abandonados para fazer
agricultura sem recurso a químicos. Qualquer pessoa pode cultivar um
lote no centro do Porto. Sem qualquer custo.
Encontrar terrenos abandonados nos quais se possam desenvolver
projectos de agricultura sem recurso a produtos químicos. Numa frase,
talvez seja esta a melhor forma de definir o projecto Quinta Musas da
Fontinha, que arrancou sábado e que juntou cerca de 40 pessoas só no
primeiro dia.

A ideia de Francisco Flórido, membro do movimento Terra Solta e mentor
do projecto, é simples: encontrar terrenos para distribuir lotes de
terra agricultável no centro do Porto. Tudo sem submissão a qualquer
tipo de "lógica economicista", nota Francisco Flórido, um engenheiro
agrónomo para quem a grande vantagem deste projecto é provar que o
"espírito cooperativo entre cidadãos pode funcionar".
Na Rua do Bonjardim, no Porto, foram já distribuídos os primeiros 11
lotes (que têm entre 25 e 75 metros quadrados). Os terrenos são
geralmente privados, mas estão abandonados ou sem qualquer utilidade.
"O que propomos ao proprietário é uma espécie de contrato de
comodato", explica o engenheiro agrónomo. "As pessoas cedem-nos o
terreno e, em troca, comprometemo-nos a mantê-lo limpo e produtivo." A
única obrigação assumida por quem cultivar o lote é utilizar técnicas
que respeitem a agicultura biológica, biodinâmica ou permacultura.
A ideia parece ter pegado: no sábado, entre associações ambientais,
sociais e recreativas e participantes a título individual (apareceram
casais desde os 30 aos 70 anos), passaram cerca de 40 pessoas pela
Associação Musas da Fontinha, que cedeu o principal terreno para o
projecto (com 400 metros quadrados). Nem todas estavam interessadas em
adquirir lotes e esse foi um dos pontos que mais impressionou
Francisco Flórido: "Houve gente que apareceu só para ajudar." E ajudar
significou sobretudo meter mãos à obra e limpar terreno - a primeira
das etapas do processo.
Cada um levava o que tinha - moto-serra, luvas, sementes - e todos iam
participando. "Criámos uma comunidade em autogestão", orgulhou-se o
mentor do projecto.
As linhas de acção e as regras não estão completamente definidas, mas
há muitas ideias no ar: criar espaços para a preservação de fauna e
flora natural, lagos, um forno de adobe (barro), limpar o poço
existente no terreno, integrar animais (abelhas incluídas) no espaço
para melhorar o ecossistema, criar periodicamente feiras para venda de
alguns produtos, são algumas delas. E ainda organizar workshops sobre
agricultura sustentável do ponto de vista ambiental.
A entrada para o terreno faz-se pelo n.º 998 da Rua do Bonjardim, a
sede da Musas. É também lá - e através do e-mail da associação Terra
Solta - que os interessados podem obter mais informações sobre o
projecto.
A ideia agora é ir desbravando terreno adjacente: um dos vizinhos do
Musas já cedeu a sua propriedade (90 metros quadrados, destinados à
Associação Vida Alternativa) e acredita-se que outros poderão seguir o
mesmo caminho. "O espaço onde estamos agora já esteve abandonado e,
depois de muito trabalho, conseguimos fazer agricultura aqui. É isso
que pretendemos que aconteça aos outros terrenos", explicou Hugo
Sousa, da Associação Musas da Fontinha.
Há todo um processo de "transferência de saberes" que interessa
particularmente a Hugo Sousa. E as diferentes associações que foram
comparecendo ao longo de sábado sugerem que essa tarefa não será
complexa. A Associação Colectivo Germinal, por exemplo, que trabalha
com crianças desfavorecidas, já "arrendou" um espaço com objectivo bem
definido: fazer hortas pedagógicas para os mais novos. É um "ponto de
partida", diz Francisco Flórido, para quem está demontrado que as
hortas urbanas também suscitam interesse no Porto, apesar de esta
cidade ainda mal ter acordado para a tendência.
http://ecosfera.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1475683

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