21.01.2011
Ricardo Garcia
Baixa execução orçamental, excesso de adjudicações directas, falta de
capacidade técnica, incumprimento de normas legais. Tudo isto consta
de uma auditoria do Tribunal de Contas à actuação do Estado nas
políticas de gestão da água.
Com base em dados de 2009, o Tribunal de Contas alerta para as
"execuções materiais muito baixas ou nulas" dos projectos a cargo das
administrações de região hidrográfica (ARH), constituídas em 2008. Dos
46 projectos previstos nesse ano para a gestão e ordenamento das
bacias hidrográficas e zonas costeiras, apenas 17 saíram do papel. A
taxa de execução financeira ficou-se pelos 17 por cento.
Em particular, a elaboração dos planos de gestão para as bacias
hidrográficas de cada região – cuja conclusão era exigida por uma
directiva europeia para o final de 2009 – teve fraco andamento. Até
hoje, ainda estão em elaboração, nas diversas ARH.
O Instituto da Água (Inag), em alegações enviadas ao Tribunal de
Contas, reconheceu os atrasos, dizendo que se devem à tardia
constituição das próprias ARH, que implicaram num "resvalar dos
calendários estabelecidos".
Chamou a atenção do Tribunal de Contas o excesso de adjudicações
directas na contratação de serviços externos. Foi a forma escolhida em
150 das 157 aquisições de bens e serviços das ARH. Em grande parte dos
casos, foi consultada uma única empresa. Segundo o relatório da
auditoria, divulgado ontem, "81 por cento da despesa com a aquisição
de bens e serviços foi efectuada sem que os contratos fossem
submetidos a concorrência".
Algumas ARH atribuíram a necessidade das adjudicações directas com
consulta única à "celeridade pretendida", a "razões de ordem
curricular e de conhecimento e confiança no trabalho" ou à "escassez
de recursos humanos".
O Tribunal de Contas identificou várias lacunas nas contratações, tais
como ausência de fundamento e análise dos custos, falta prestação de
cauções, não publicação em jornais oficiais ou deficiente
monitorização da execução material dos contratos.
Das respostas obtidas de alguns dos organismos alvo da auditoria, o
relatório conclui que "as ARH não dispõem de dimensão e pessoal
técnico com as necessárias qualificações técnicas que lhes permitam
exercer de forma autónoma as suas competências".
A auditoria aponta também para o atraso na regulamentação das tarifas
da água, que deveriam já reflectir os seus custos reais – tal como
exige a directiva europeia que enquadra a gestão da água nos
Estados-membros. Tal política de preços deveria estar em vigor já no
ano passado. Mesmo na ausência de regulamentação, porém, muitos
municípios estão a seguir um conjunto de recomendações da Entidade
Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos (ERSAR) para o cálculo de
tarifas mais realistas - conforme alegou este organismo e também o
Inag, nas respostas ao Tribunal de Contas.
Do lado positivo, o Tribunal de Contas reconhece os "muito bons
índices de qualidade da água distribuída para consumo" e a elevada
taxa de cobertura do abastecimento de água (94 por cento), próxima da
meta a que o país se comprometeu até 2013 (95 por cento).
Já o acesso ao saneamento está em pior situação, com 80 por cento da
população servida por sistemas de drenagem e 71 por cento com
tratamento efectivo de esgotos. A meta é 90 por cento.
O PÚBLICO contactou o Ministério do Ambiente esta tarde, para um
comentário à auditoria, mas não obteve ainda resposta.
No próprio processo de auditoria, o Tribunal de Contas procurou ouvir
as diferentes entidades envolvidas. Três ARH – do Norte, do Alentejo e
do Algarve – e a própria ministra do Ambiente, Dulce Pássaro, não
apresentaram alegações.
Notícia actualizada às 19h29
http://ecosfera.publico.pt/noticia.aspx?id=1476493
Sem comentários:
Enviar um comentário