domingo, 9 de janeiro de 2011

Suspeita de crime na contaminação de alimentos com dioxinas na Alemanha

Por Clara Barata
Foi lançada uma investigação judicial, enquanto foram encerradas mais
de 4700 explorações agrícolas. Suspeitas recaem sobre empresa que
produziu rações para animais

As autoridades alemãs começaram a investigar a possibilidade de haver
origem "criminosa" no escândalo dos alimentos contaminados com
dioxinas, que ontem obrigaram ao encerramento de 4709 explorações
agrícolas. Na Holanda foram apreendidos 136 mil ovos, sob suspeita de
estarem contaminados, e no Reino Unido soube-se que foram já vendidos
bolos e quiches feitos com ovos alemães - importados já sob a forma
líquida - que teriam níveis demasiado elevados de dioxinas. Não há, no
entanto, perigo imediato para a saúde.
A maioria das explorações encerradas (existem 375 mil na Alemanha) faz
criação de porcos, mas estão ainda a fazer-se testes para verificar se
há contaminação da carne de porco e do leite de vaca - e ficam na
Baixa Saxónia. Foi neste estado alemão que foi distribuída a maior
parte das rações animais que continham na sua composição as 3000
toneladas de ácidos gordos contaminados com dioxinas, distribuídas na
Alemanha durante os meses de Novembro e Dezembro.

As dioxinas em causa são subprodutos de exploração industrial,
provenientes de uma empresa alemã produtora de biodiesel a partir de
óleo de palma e soja, chamada Petrotec. Esta empresa, segundo a edição
em inglês na Internet da revista alemã Der Spiegel, alega que os
ácidos gordos que colocou no mercado só deviam ser usados para
fabricar lubrificantes industriais, e não rações animais.
Mas a Harles und Jentzsch, a empresa na berlinda, que está a
concentrar as atenções da investigação judicial que está a decorrer na
Alemanha, diz que não estava a par dessas limitações.
"Não utilizámos gorduras não autorizadas", defendeu-se o patrão da
empresa, Siegfried Sievert, numa entrevista concedida à televisão
Spiegel TV, que deve ser transmitida na íntegra no domingo. Sievert
afirma desconhecer a origem da contaminação com dioxinas e acrescenta
que a empresa está a "trabalhar em estreita colaboração com as
autoridades".
Mas as autoridades, que falam numa presença de dioxinas 77 vezes
superior ao permitido, dizem ser pouco crível que se esteja em
presença de um simples erro de manipulação. "Em tais quantidades, não
pode ser só um erro", declarou um responsável do governo da Baixa
Saxónia, Konrad Scholz, citado pela AFP.
Empresa não registada?
"As primeiras indicações apontam para um elevado nível de actividade
ilegal", disse uma porta-voz do Ministério da Agricultura, Ilse
Aigner, citada pelo site da BBC. "Há indicações de que a empresa nem
sequer está registada oficialmente, para não estar sujeita a controlos
oficiais."
Segundo o Governo de Berlim, podem ter sido contaminadas até 150 mil
toneladas de alimentos para animais. Os ovos, a carne e o leite desses
animais podem ter sido usados em muitos outros produtos, e exportados
para outros países, por vezes já processados - como aconteceu com os
bolos e quiches no Reino Unido.
O perigo para a saúde humana não será imediato, porque as dioxinas
estão já muito diluídas. Mas estes químicos, que podem ocorrer
naturalmente ou em resultado de processos industriais, são absorvidos
pelas células gordas e ficam lá armazenados, pois têm uma grande
estabilidade.
Podem causar problemas de desenvolvimento e no sistema reprodutivo e
imunitário, interferindo com as hormonas. Podem ainda levar ao
desenvolvimento de cancro.
http://jornal.publico.pt/noticia/08-01-2011/suspeita-de-crime-na-contaminacao--de-alimentos-com-dioxinas-na-alemanha-20973269.htm

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