terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Aumento do "preço do leite não é ditado" pelo Governo

Reunião
Margarida Vaqueiro Lopes
15/02/11 18:20
O Ministro da Agricultura rejeita responsabilidades na evolução do
preço do leite. Responsáveis do sector estão optimistas.
Os responsáveis da Federação Nacional das Cooperativas de Produtores
de Leite (FENALAC), da Associação Nacional dos Industriais de
Lacticínios (ANIL), da Associação de Produtores de Leite de Portugal
(APROLEP ), e da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição
(APED) estiveram hoje reunidos com o Ministro da Agricultura, António
Serrano, para discutir os recentes problemas por que atravessa o
sector leiteiro nacional.

A APROLEP ameaçou ontem avançar para uma greve, em caso de não haver
um aumento para o preço do leite no consumidor, na sequência das
recentes subidas do preço desta matéria-prima ao nível do produtor.
Da reunião com António Serrano não saíram, no entanto, soluções, visto
que "esta foi uma reunião de acompanhamento daquilo que está a
acontecer no sector", afirmou fonte oficial do Ministério da
Agricultura ao Económico.
Na mesma altura acrescentou que "o ministro apelou à cooperação entre
a produção, indústria e distribuição, para que contribuam para a
existência de um preço justo em Portugal como forma de fazer face ao
aumento dos custos de produção", mas lembrou que "não é o Ministério
que dita os preços".
No entanto, reforçou a mesma fonte, "existe um conflito, e por isso
impõe-se descobrir onde se podem criar pontes de diálogo entre as
partes de forma a ver onde e como este se pode resolver" o problema. O
Ministério disse ainda não haver data marcada para um próximo encontro
entre os responsáveis do sector dos lacticínios.
Responsáveis estão optimistas
Fernando Cardoso, da FENALAC, notou ao Económico que "não tínhamos
expectativas de resolver os problemas hoje, mas conseguimos criar um
clima de confiança, pelo que ficámos medianamente optimistas" em
relação à resolução dos actuais problemas.
No entanto, notou aquele responsável, as questões dos preços "são
assuntos que apenas os operadores económicos podem trabalhar. Nós
representamos um conjunto de operadores, mas são eles e os outros elos
da fileira que têm que se articular". Mas "é claro que queremos
contribuir para um clima optimista".
Já a fonte do Ministério da Agricultura avançou que neste encontro "se
estabeleceu um plano de trabalho num clima de grande confiança entre
ambas as partes", acrescentando que "a nível técnico, o Ministério, a
indústria e a distribuição vão acompanhar e analisar todos os aspectos
relacionados com a cadeia de produção".
Na verdade, sublinhou Fernando Cardoso, é de "salientar a presença do
sector da distribuição neste encontro. Porque, disse, "há um objectivo
de base de remunerar o melhor possível a matéria-prima: mas tem de ser
da distribuição a montante", notou aquele responsável, sublinhando que
este é um factor muitas vezes esquecido.
Produtores vão continuar a pressionar
Em declarações à Lusa, o presidente da APROLEP, Carlos Neves,
adjectivou esta reunião de "positiva porque todos os intervenientes
estão abertos ao diálogo e à negociação". No entanto, o responsável
espera agora que a "boa vontade demonstrada em ajudar a produção,
ultrapasse a boa intenção", deixando o aviso de que "os produtores não
vão deixar cair a situação de sufoco financeiro em que se encontram e
vão continuar a fazer pressão".
Há mais de um ano que os produtores portugueses reclamam um ajuste no
preço do leite aos produtores. Carlos Neves lembrou que os produtores
estão "à beira da ruína e que se não houver um aumento de cinco
cêntimos no preço do leite, "a maior parte das explorações agrícolas
fecha portas".
Os produtores "aguardam agora os resultados práticos" deste encontro
para poderem sair "deste sufoco financeiro em que se encontram",
concluiu.
Nos mercados internacionais o preço do leite já subiu 30% desde o
início do ano, e com os analistas a sinalizar que os "preços elevados
são o novo preço normal" desta matéria-prima. Andrew Ferrier, CEO do
Fonterra Cooperative Group, disse à Bloomberg ser mesmo possível que o
preço do leite se mantenha 50% acima da média, no longo prazo.
http://economico.sapo.pt/noticias/aumento-do-preco-do-leite-nao-e-ditado-pelo-governo_111212.html

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