As chuvas invulgares deste mês operaram uma autêntica revolução no diagnóstico de seca do país. No final de Fevereiro, mais de 80% do território estava em seca severa; a meio do mês de Março, só 21% ainda tem seca fraca. Assim se vê a diferença que a chuva faz.
Águas de Março expulsam seca de Portugal
Manuel Esteves Manuel Esteves mesteves@negocios.pt
16 de março de 2018 às 18:18
Na música celebrada por Elis Regina, em 1974, as águas de Março fecham o Verão. Em Portugal, em 2018, as águas de Março fecham o Inverno e dão uma promessa de vida a todo o país.
Segundo o boletim sobre a situação de seca meteorológica do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), disponibilizado esta sexta-feira, 16 de Março, o elevado nível de precipitação ao longo da primeira quinzena de Março fez desaparecer todas as situações de seca extrema e moderada que há uma semana ainda subsistiam em 9% do território nacional - interior norte, de Trás-os-Montes, a zona de Beja, no Baixo Alentejo, e uma outra no sotavento algarvio, litoral Norte e no Baixo Alentejo e Algarve.
Agora, existem apenas alguns focos de seca fraca no litoral Norte, no Baixo Alentejo e no Algarve. "A 15 de Março de 2018, 80% do território já não se encontra em seca meteorológica e apenas de 21 % está em seca fraca", lê-se no boletim. Na "classe normal" estão 21% do território, 51% encontra-se no nível de "chuva fraca" e 7% em "chuva moderada".
Para se ter uma ideia da transformação extraordinária operada pelas chuvas de Março basta ver que no final de Fevereiro 83,1% do país estava em seca severa e 1,3% em seca extrema.
Chuva recorde
Como qualquer português terá constatado, os níveis de precipitação têm sido, de facto muito elevados para esta época do ano, em absoluto contraste com o que aconteceu durante quase todo o Inverno. "O valor médio da quantidade de precipitação de 1 a 15 de Março […] é cerca de 3 vezes o valor médio mensal, sendo já o 9.º maior valor para o mês de Março desde 1931 e o 3.º mais alto desde 2000", descreve o IPMA. "Em grande parte das regiões do interior e na região do Vale do Tejo", continua o instituto, "os valores registados nesta 1.ª quinzena excedem já quatro vezes o valor médio do mês".
Inevitavelmente, a chuva acaba por se reflectir no teor de água no solo. E também aqui as mudanças são muito significativas: "verificou-se um aumento muito significativo da percentagem de água no solo", explica o IPMA, com grande parte do Continente a apresentar valores de água no solo superiores a 80%". Aliás, em algumas regiões, "o solo encontra-se até saturado, com os valores de água no solo acima da capacidade de campo". Ainda assim, o instituto lembra que "nalguns locais do Baixo Alentejo ainda se observam valores inferiores a 60%".
Para a próxima semana, o IPMA prevê que continue a chover "acima do normal" nas regiões do litoral Norte e Centro. Porém, entre 26 de Março e 1 de Janeiro, já se prevêem valores de precipitação "abaixo do normal" nas regiões Centro e Sul.
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