por Elsa Cláudia Alves, da agência Lusa Ontem
Os cavalos hoje existentes na Europa tiveram origem na Ásia, mas
também na Península Ibérica, que deu um contributo para a sua
domesticação, processo que acompanhou o desenvolvimento dos homens,
disse hoje uma investigadora.
A Península Ibérica serviu de refúgio a cavalos selvagens há cerca de
seis mil anos e as populações foram "preponderantes" para a
domesticação destes animais na região e no resto da Europa, concluiu
um estudo de uma equipa internacional que inclui Cristina Luís (dos
Museus da Politécnica da Universidade de Lisboa) e Maria do Mar Oom
(do Centro de Biologia Ambiental da Faculdade de Ciências da
Universidade de Lisboa). O trabalho, publicado esta semana na revista
PloS One, indica que as raças de cavalos existentes na Europa "não só
tiveram grande influência dos cavalos asiáticos, como também tiveram
influência dos cavalos selvagens existentes na Península Ibérica, um
dado novo e bastante interessante", avançou hoje à agência Lusa a
investigadora Cristina Luís. "O cavalo sempre esteve associado ao
homem e a sua domesticação também. Ao estudar a domesticação do cavalo
podemos obter pistas de como se processaram as movimentações dos
humanos ao longo dos tempos, numa análise antropológica e das
civilizações", explicou.
A domesticação dos cavalos constituiu um passo importante na história
da humanidade, tendo proporcionado vantagens na possibilidade de
viagens de longa distância, na agricultura, no comércio e na guerra. A
equipa de investigadores analisou as relações genéticas de 24 raças de
cavalos europeus e asiáticos para tentar esclarecer os fenómenos de
domesticação na Europa. As informações obtidas sobre a influência que
determinadas raças, de determinadas regiões, tiveram umas nas outras
podem dar um contributo para trabalhos de conservação e melhoramento
de raças actuais. Cristina Luís apontou que a investigação
desenvolvida "tem uma vertente de conservação, mas também de estudo da
evolução do cavalo e da história das civilizações humanas, muito
interligadas com os cavalos".
Há seis mil anos, quando eram selvagens, "os cavalos não gostavam
muito de regiões de floresta densa e terão tido um refúgio na
Península Ibérica e, eventualmente, terão então sido utilizados para a
formação de outras raças" e seleccionados de formas diferentes,
resumiu a investigadora. Actualmente, já não existem cavalos selvagens
na Europa, há alguns casos de cavalos que andam ao ar livre, como os
garranos, no norte de Portugal, mas "têm donos". Cristina Luís referiu
um projecto em que se pretende estudar a relação entre cavalos da
Península Ibérica e do Norte de África. Desconhece-se "qual a direcção
das migrações de cavalos", já que os mouros estiveram em Portugal e
"não se sabe se terão sido os cavalos dos mouros que foram trazidos
para a Península Ibérica ou ao contrário", explicou. Os investigadores
vão "tentar provar se realmente houve uma domesticação independente na
Península Ibérica", salientou a especialista.
http://www.dn.pt/inicio/ciencia/interior.aspx?content_id=1821950
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