segunda-feira, 4 de abril de 2011

Vender online e entregar em mãos para aproximar a agricultura ao consumidor

Projecto de pequenos produtores
03.04.2011 - 15:27 Por Pedro Crisóstomo
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A Prove, rede de produtores agrícolas locais, já tem centenas de
portugueses a consumir frutas e legumes todas as semanas, permitindo o
contacto com o ambiente de produção
(Pedro Cunha)
Ao final da tarde, as oito caixas que Ana Cordeiro enche com os
legumes e frutas que colheu de manhã já terão entrado na bagageira dos
carros de alguns dos 50 clientes que às sextas ou sábados a encontram
no Espaço Fortuna Artes e Ofícios, em Palmela.
Ana é apenas uma das seis dezenas de pequenos produtores agrícolas que
hoje estão associados ao projecto Prove (Promover e Vender). Uma rede
de venda online de produtos hortícolas que os consumidores vão buscar
aos próprios produtores a quem fazem a encomenda. O projecto movimenta
hoje 6,5 toneladas de produtos hortícolas por semana, 900 consumidores
de norte a sul e tem uma média de 8200 euros de vendas semanais.

A metodologia começou a ser testada em 2004 pela Associação para o
Desenvolvimento Rural da Península de Setúbal (Adrepes). Dois anos
mais tarde, recebia o primeiro financiamento europeu e, alargado o
modelo, desde há um ano, a outras associações de desenvolvimento
local, foi reconhecida pela Rede Europeia de Desenvolvimento Rural
como "projecto do mês" de Fevereiro.
Começou em Palmela e em Sesimbra, e da Península de Setúbal
estendeu-se ao Vale do Sousa e a Montemor-o-Novo. Depois, juntaram -se
produtores associados em Mafra, em Ponte de Lima, no Vale do Minho, no
Baixo Tâmega, no Entre Douro e Vouga, no Ribatejo, no Algarve e na
Área Metropolitana do Porto, conta José Diogo, técnico da Adrepes,
enquanto vai a caminho da exploração agrícola de Vitória Almeida, de
71 anos, que, com Ana Cordeiro, de 34, forma o núcleo de produtores de
Palmela.
Procurar a autonomia
Ana e Vitória entraram para o projecto apenas em Outubro. Trabalham em
conjunto de forma quase autónoma, já sem precisarem que a associação
monitorize o processo. Os consumidores fazem as encomendas através da
Internet - é Ana quem trata desta parte. A partir daí, passam
automaticamente a ser clientes da rede (podendo optar por encomendas
de cabazes todas as semanas ou quinzenalmente) e a responsabilidade
das duas é preparar caixas com produtos frescos e, de preferência,
diferentes de sete em sete dias.
Para Vitória Almeida, esta sexta-feira começou às seis da manhã. Três
horas mais tarde, na parte de trás da carrinha onde transporta os
produtos já se vêem empilhadas dezenas de caixas de madeira com maçãs,
batatas, alfaces e couves. Ali perto, rodeada de 17 hectares de vinha,
e por entre árvores de fruto, estendem-se culturas de espinafre,
tomate, alface, nabiça, couve e feijão-verde que darão para futuros
cabazes. Com a entrada no Prove, conta Vitória Almeida, teve de
aumentar a produção de hortícolas. Só na estufa que montou para
alfaces, tem 300 pés, ainda rasteiros, que "dentro de um mês e pouco
estão prontos para colher."
O programa não é apenas uma ajuda no bolso dos produtores agrícolas -
o rendimento mensal médio do que ganham ronda 560 euros, que resultam
directamente do que vendem. Podem também receber formação dada pelas
associações locais: como abordar os consumidores, "a grande lacuna"
detectada por José Diogo quando disseminou o Prove, e como ordenar a
exploração.
Aquilo de que beneficiam pelo contacto com os consumidores é também um
motor de desenvolvimento do projecto. "Há alguns que sugerem o que
plantar", explica Vitória Almeida, que toda a vida viveu da terra. O
conceito é aproximar os clientes do produtor. E o perfil está bem
definido: famílias urbanas, de agregados entre três e quatro pessoas,
sobretudo quadros médios e superiores, sublinha José Diogo.
Antes de tudo, o objectivo do programa é tornar viável o negócio a
agricultores com menos capacidade de entrada nos grandes mercados de
revenda. Ajudar, no fundo, aqueles que produzem e não vendem e
colocá-los numa situação "em que são donos de um negócio que começa na
produção e acaba no contacto directo com o consumidor", salienta.
Foi o caso de Ana Cordeiro, engenheira agrónoma que há dois anos
ficara desempregada no Alentejo e que hoje não pensa sair de Palmela,
terra onde nasceu. Os produtores "têm um apoio inicial por parte dos
técnicos, mas o que se pretende é que, ao final de um tempo, eles
sejam completamente autónomos", acrescenta José Diogo. Já passaram
essa fase, Vitória e Ana. As duas sozinhas decidem que produtos
incluir, acordam que quantidades cada uma traz para o cabaz, montam-no
em conjunto e o valor das receitas é dividido entre elas.
Ao final da manhã desta sexta-feira, dia de entrega de cabazes, Ana
Cordeiro prepara as encomendas da tarde no Espaço Fortuna, sede da
Adrepes. Passa as mãos pelas fichas dos clientes, verifica que todos
querem batatas e pega em sacos de plástico já preparados com a
quantidade certa. Espalha-os no fundo das caixas e, a seguir, vêm as
cenouras e as cebolas, para completar a base da semana. A abóbora vai
ser hoje substituída por nabo. Por cima, laranjas e maçãs. No topo, as
verduras. E, para colorir o arranjo, uma caixa de morangos maduros e
limões.
O cabaz está completo: uma caixa cheia, 11 produtos, dez euros. "É o
valor justo para produtos frescos e que são relativamente cuidados",
atalha Ana Cordeiro. "Justo e com pagamento imediato", completa José
Diogo. Do lado do consumidor, este tem um controlo "muito maior sobre
aquilo que come".
http://economia.publico.pt/Noticia/vender-online-e-entregar-em-maos-para-aproximar-a-agricultura-ao-consumidor_1488063

1 comentário:

Anónimo disse...

Estão de parabéns, é uma grande ajuda ao pequeno agricultor face aos "tubarões" das grandes superfícies. Em breve serei associado do núcleo de Ponte de Lima.

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