Grandes empresas "têm de ser penalizadas"
Construção é o sector mais afectado, mas o fenómeno está a crescer na
agricultura e a restauração. Presidente da Autoridade para as
Condições de Trabalho diz que se as leis europeias não mudarem
"continuarão a ser vertidas lágrimas de crocodilo".
23-08-2013 1:16 por Ana Carrilho
Grandes empresas que lucram com exploração laboral "têm de ser penalizadas"
Autoridade do Trabalho suspende quatro estaleiros de construção em Braga
Trabalhadores terão sessões para prevenir exploração no estrangeiro
Sindicato da Construção diz que situações de "escravatura" estão a crescer
As empresas estão a usar trabalhadores estrangeiros sem lhes pagar o
mesmo que aos nacionais ou dar as mesmas condições. O alerta é do
presidente da Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT) que
defende uma revisão da Directiva Europeia de Serviços.
Em declarações à Renascença, Pedro Pimenta Braz mostra-se muito
preocupado com o crescimento do fenómeno de angariação de
trabalhadores por redes mafiosas.
É sobre a construção que se fala mais quando a questão é o abuso de
trabalhadores portugueses no estrangeiro, mas o inspector-geral de
Trabalho faz questão de sublinhar que há outros sectores em que o
fenómeno também está a crescer, nomeadamente na agricultura e
restauração.
Pedro Pimenta Braz considera que é uma situação muito preocupante e
que a ACT acompanha como pode, normalmente depois de receber denúncias
dos sindicatos e dos trabalhadores. A dificuldade de actuação
prende-se com o facto dos trabalhadores saírem de Portugal sem passar
pelos serviços oficiais.
Em situação de crise e aumento do desemprego são cada vez mais os que
correm atrás de promessas que se revelam falsas, mas para o dirigente
máximo da Autoridade para as Condições de Trabalho pouco mudará
enquanto a Directiva Europeia de Serviços não for alterada e passar a
responsabilizar também as empresas que beneficiam do trabalho dos
portugueses, a preços muito mais baixos.
"As grandes empresas europeias que lucram com a existência deste tipo
de trabalho têm de ser penalizadas, porque não é possível, por
exemplo, num grande estaleiro de construção civil no meio da Europa
que um dono de obra ou um empreiteiro geral diga que desconhece que
tinha portugueses quase escravos a trabalhar nesse estaleiro. Isso não
é possível, é um exercício de hipocrisia monumental", acusa Pedro
Pimenta Braz.
Para o responsável, a Directiva de Serviços deve responsabilizar "o
angariador, a entidade a que pertencem esses trabalhadores, mas também
toda a cadeia de subcontratação até ao dono de obra".
"Se assim não for continuarão a ser vertidas lágrimas de crocodilo,
com alguma hipocrisia, e o fenómeno vai continuar a crescer",
sublinha.
Pedro Pimenta Braz defende uma maior publicitação das condições a que
os trabalhadores que vão para os estrangeiro devem dar atenção e
deixa mesmo um apelo a que ninguém saia do país sem passar pelos
serviços da inspecção de trabalho para se aconselhar.
http://rr.sapo.pt/informacao_detalhe.aspx?fid=25&did=119285
Sem comentários:
Enviar um comentário