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São cada vez mais os jovens que apostam na agricultura. Uns recuperam
tradições, outros fogem do desemprego.
18 de Agosto, 15h00
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Por:Isabel Faria
Em Idanha-a-Nova, todos apontam a história de Carla Torrado, 41 anos,
como um caso de sucesso. Formada em Engenharia dos Recursos Naturais e
do Ambiente, mãe de um filho, casada com um professor, deixou o ensino
para se dedicar à terra. Hoje pratica "uma agricultura sustentável,
ecologicamente viável e economicamente rentável". Tem produtos
certificados, que entram no mercado externo, e uma lista de ideias
para melhorar o setor da agricultura, que acredita ser "a base
sustentável do País".
Fruto da crise, do engenho e do desejo de mudança, são cada vez mais
os jovens que veem na agricultura um modo de vida. Segundo números do
INE (Instituto Nacional de Estatística), foi este o setor que mais
contribuiu para a descida da taxa de desemprego no segundo trimestre
do ano. A obrigatoriedade de antigos agricultores se coletarem nas
Finanças, assim como a sazonalidade do trabalho no setor favorecem os
dados, refere a CAP (Confederação de Agricultores de Portugal). Mas os
números falam por si, e no último ano, cerca de 3000 jovens lançaram
empresas.
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Carla cresceu a ajudar os pais na quinta e há dez anos instalou-se
como jovem agricultora. Numa área de 50 hectares, faz produção de
ovinos e caprinos e desde 2011 explora também 22 hectares de terreno
na Várzea, num projeto da câmara local que atribui a jovens
agricultores terras do Estado, "excelentes, de grande qualidade e que
estavam ao abandono", explica. Aí planta melão, melancia, meloa,
hortícolas, batata-doce e avança uma experiência de produção de
physalis e de bagas de goji. Para já, Carla Torrado não tem
dificuldades em escoar a produção: "Vendo leite para o meu pai, que
produz o Queijo da Fonte, puro de cabra. Os outros produtos, escoo
para a cooperativa Hortas d' Idanha."
Clique na imagem abaixo para ver a fotogaleria de quem regressou aos
campos para viver da agricultura
Na agricultura, criou cinco postos de trabalho e só nota dificuldades
em encontrar mais mão de obra. "Tenho dois empregados estrangeiros,
pois não há quem esteja disponível para estas tarefas, que não são
duras", diz. Por ter investido em qualidade, a antiga professora de
Matemática garante que a agricultura é rentável. "Trabalho muitas
horas, mas é com muita confiança que abraço este projeto. Acho que
temos bem-estar".
Daniel Peças, de 23 anos, recusou engrossar as estatísticas do
desemprego. Com um curso profissional na área do turismo rural e
ambiental, instalou-se em Fronteira, Alentejo, como jovem agricultor
num terreno da família. Em cerca de 600 metros quadrados, lançou-se no
cultivo de cogumelos shitake. O projeto orçado em 60 mil euros recebeu
fundos do IFAP e ajuda de familiares. "Fiz a instalação nuns casões
que já existiam, aproveitei o palheiro, limpei, instalei um sistema de
rega, e crio os cogumelos em troncos de eucalipto, num ambiente
artificial, pois no verão esta zona do Alentejo chega a ter
temperaturas de 40º", explica.
Por enquanto, Daniel Peças é o único na zona a produzir aqueles
cogumelos de origem asiática. "Chego aos dez quilos por semana, um
volume pequeno, mas a intenção é chegar aos 50/60 quilos para poder
exportar, pois aí terei rentabilidade."
Em terras do Douro
Foi nos tempos de abundância que Edmundo Monteiro decidiu o seu
destino. Fez um curso de vinicultor e logo em 1998 optou pela
agricultura. Em 2010 instalou-se como jovem agricultor em Sanfins do
Douro e hoje, aos 36 anos, orgulha-se das suas propriedades, que entre
terrenos próprios e do pai somam 12 hectares em região demarcada.
Os quatro irmãos emigraram à procura de vida melhor, mas Edmundo
decidiu ficar e explorar os terrenos que o pai adquiriu enquanto
esteve emigrado em França. "Gosto do que faço, sou apaixonado por isto
e tento ser o mais profissional possível na vinha." Ao contrário do
pai, "que foi sempre produtor de uva para entregar às grandes
empresas", Edmundo quer dar o passo mais largo. "Estou a modernizar a
vinha, para um dia ser produtor/engarrafador da minha própria marca,
Encostas da Moita, e assim ser autónomo."
Com indisfarçável orgulho, enumera as castas selecionadas que plantou
nos socalcos do Douro: "Touriga Nacional, Quinta Roriz, Touriga
Franca." Edmundo quer produzir "vinhos Doc. Douro, de altíssima
qualidade, porque a produzir vinhos a granel já existem milhões de
pessoas", assegura.
O investimento é avultado, "para cima de 250 mil euros", e exige muito
trabalho. A recompensa virá mais tarde. "Quando tiver toda a vinha em
produção, o que pode demorar cinco anos, vamos para a segunda fase,
que é a adega. A meta é vender metade da produção a um grande grupo e
ter a outra metade para ser engarrafador próprio."
Edmundo trabalha das 05h00 às 20h00 todos os dias da semana, com
exceção dos domingos, e contrata pessoal sazonalmente "conforme as
necessidades". Exporta para França, porque a nível nacional a situação
está "difícil", e procura novos mercados entre os países emergentes,
como Brasil, Índia e China. O sonho é deixar aos dois filhos uma marca
de renome. "Gostava de que eles seguissem isto. Mesmo que tenham outra
profissão, podem continuar a gerir a vinha, tal como em França e
Itália, onde as famílias mantém as marcas e a virtude."
Queijo inovador
Na região Centro, Dulce Fiens, 26 anos, licenciada em Engenharia
Biológica e Alimentar, está a acabar o mestrado em Inovação e
Qualidade da Produção Alimentar. Solteira, lançou um projeto de 200
mil euros para renovar a queijaria que arrendou aos pais. Em Vale dos
Prazeres, Fundão, aposta agora numa exploração de animais que lhe
permite ter o ciclo completo da produção. "Inovei com novos produtos,
aumentei a exploração, comprei máquinas agrícolas, comecei há um ano e
tenho duas empregadas", frisa.
Neste momento, Dulce Fiens trabalha apenas para o mercado interno e
não quer ter pressas. "Tenho uma boa carta de clientes, estou a tentar
entrar num nicho de mercado gourmet, e as vendas estão a correr bem",
diz, acrescentando que com bom trabalho se consegue alguma coisa,
"acima da média". Por estar instalada numa zona do Interior, e ter
criado postos de trabalho, Dulce teve alguma facilidade em receber os
apoios, mas ainda assim lamenta que
"o excesso de burocracia leve muita gente a desistir".
Certo é que entre os números de projetos apresentados e os casos de
sucesso vai uma larga distância. Ricardo Brito Paes, presidente da
AJAP, Associação de Jovens Agricultores Portugueses, nota que "muita
gente está a investir na agricultura porque o tema é muito falado, foi
uma bandeira desta ministra, e existem poucas alternativas em termos
profissionais".
No entanto, a AJAP pede mais fiscalização, pois, "enquanto organização
no terreno, preocupa-nos ver que muitas vezes estas pessoas chegam à
agricultura sem bases e com projetos para mercados saturados".
Para evitar esse problema, na região Centro crescem agora os pomares
que há anos pintavam de cor muitos dos terrenos locais. Dois
engenheiros (ver caixa) e uma mediadora de seguros estão entre os que
se dedicam à plantação de maçãs, produto que já foi ex-líbris da
região. Encontraram inspiração e apoio técnico da BLC3, Plataforma
para o Desenvolvimento da Região Interior Centro, que em 2011 criou o
Clube dos Jovens Agricultores, onde estes discutem modos de vida e
ajudam a mudar o perfil e tipo de agricultura na região.
"Em 2009, existiam na nossa área de atuação cerca de 87 agricultores
até aos 35 anos, contra 4,340 com mais de 55 anos", explica João
Nunes, Presidente da BLC3. "Desde a criação do clube, apoiámos 12
candidaturas ao PRODER, das quais 11 foram de jovens agricultores, com
uma média de 32,5 anos (o mais novo com 24 anos e o mais velho de
40)", nota.
Maternidade de caracóis
No Alentejo, a 20 quilómetros de Estremoz, Sérgio, 41 anos, e Stella
Sá Couto, 39 anos, garantem o sustento da família com um projeto fora
do comum. Em dez mil metros quadrados e depois de 400 mil euros
investidos, dos quais 60% são financiados, o casal aposta na produção
de caracóis, que vende para o mercado interno. O engenheiro agrónomo
deu o pontapé de saída, quando em 2011 ficou desempregado do matadouro
regional do Alto Alentejo. "Candidatei-me aos fundos de projeto de
Primeira Instalação, e neste momento tenho um volume entre 40 a 30 mil
quilos anuais, que escoo na totalidade para o Pingo Doce." Stella,
engenheira alimentar, apresentou o seu próprio projeto quando perdeu o
emprego como diretora de uma fábrica em Avis. Apostou numa
'maternidade' de caracóis, que permite aumentar a produção e a
rentabilidade. "Assim iniciamos e fechamos o ciclo de produção, desde
a reprodução, a engorda, embalamento e venda." O negócio tem crescido
nos últimos dois anos. "Realizamos menos dinheiro do que quando
estávamos empregados, temos mais trabalho físico e mental, mais
incerteza e menos descanso, mas esta foi a alternativa. Estou contente
com o projeto, é um desafio e é nosso."
É com a mesma visão que em Vieira do Minho, Carla Pacheco, 37 anos,
transformou a Quinta dos Gomes num espaço lúdico e rentável. Natural
do Porto, ex-professora do Pré-Escolar e Ensino Especial, com
frequência de doutoramento, investiu nos terrenos da família do
marido, "advogado e agricultor aos fins de semana", quando se viu com
o drama do desemprego.
Investiu 94 mil euros, dos quais 80 foram financiados, e criou uma
Quinta Pedagógica autossuficiente. Em quatro hectares de terreno
agrícola, tem vinha, milho, batatas, abóboras, horta, feijão e terreno
de pasto. Num monte, em 27 hectares de baldio tem pasto para os
cavalos garranos, uma das espécies autóctones que produz, a par de
porcos bísaros, galinhas, coelhos, patos, perus, gansos, para
autoconsumo e fumeiro. A produção de alheiras é outra fonte de
rendimento para clientes da zona e da Alemanha. Até ao final do ano,
Carla vai criar dois postos de trabalho e assegura que o saldo é
"positivo a todos os níveis. Dou mais apoio à minha filha, ganhei mais
qualidade de vida e em termos de salário, quando estiver toda a quinta
a funcionar na perfeição, acredito que posso ganhar mais do que como
professora".
http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/outros/domingo/os-novos-agricultores
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