Global Forest Watch é uma nova ferramenta online para acompanhar ao
minuto as perdas e os ganhos de áreas florestais no planeta
Com os termómetros longe dos recordes dos meses de Verão, a época de
incêndios parece ainda distante. As centenas de hectares de floresta
que desaparecem todos os anos do mapa nacional tendem a ser por isso
uma preocupação sazonal. A estratégia não poderia estar mais errada,
avisam os especialistas consultados pelo i. Com os recursos
canalizados para o combate durante os fogos, a floresta está
desprotegida na maior parte do ano. A realidade portuguesa, contudo,
não é muito diferente da do resto do planeta.
E se pudéssemos ver todas as árvores que desaparecem no mundo em tempo
quase real, será que a estratégia de preservação das florestas poderia
ser diferente? Se esta resposta é uma incógnita, já ver a floresta a
diminuir a cada minuto é sem dúvida possível. Para seguir a evolução
das manchas florestais do planeta, a Google criou a Global Forest
Watch (GFW), uma aplicação online que permite visualizar as áreas mais
afectadas pela desflorestação. O acompanhamento é feito quase ao
minuto, através de imagens de satélite e com a colaboração dos seus
utilizadores, que podem denunciar os casos a acontecer em cada um dos
países.
O resultado é um mapa pintado de rosa e roxo, as duas cores que
marcam, respectivamente, a área de perda de árvores e as zonas onde
estão a ser plantadas. A cor rosa continua a dominar. "Esta é a
tendência que queremos inverter", explicou ao i o responsável pela
comunicação da plataforma. "A maior vantagem da GFW é ter informação
actualizada quase ao minuto, de todas as partes do mundo, permitindo
uma acção mais rápida da parte das autoridades", acrescentou.
O sistema utiliza um algoritmo desenvolvido pela Universidade do
Maryland, nos EUA, que permite cruzar imagens de satélite com mapas de
florestas já existentes e dados recolhidos pelos habitantes de cada
local. Com um filtro mais refinado, é possível também ter informações
mais pormenorizadas sobre a biodiversidade e as causas da
desflorestação.
Analisando o mapa português na ferramenta da Google é possível
observar que de 2000 a 2012 se perderam 498 668 hectares de floresta,
o equivalente a uma área de duas vezes o tamanho do Luxemburgo. Em
contrapartida, nesse mesmo período ganharam-se 286 577 hectares de
árvores.
No plano global, as contas estão também feitas e mostram que por cada
10 hectares de floresta perdida só um metro quadrado é reflorestado:
em 12 anos, o planeta perdeu 2,3 milhões de quilómetros quadrados de
floresta e ganhou apenas 800 mil quilómetros quadrados com novas
árvores.
Agir de forma "proactiva" é portanto uma das bandeiras dos criadores
da plataforma. "A GFW vai ajudar os governos de todos os países a
monitorizar as florestas e detectar a desflorestação ilegal", explicou
James Anderson, acrescentando que ter noção da realidade ao minuto vai
também ajudar na consciencialização individual. "Os cidadãos vão poder
ver com exactidão o que se passa globalmente, mas também na sua área
de residência, o que lhe dará mais interesse em participar na
protecção das florestas."
FLORESTAS PORTUGUESAS Os incêndios florestais continuam a ser a
principal causa de perda de árvores em Portugal. No ano passado, os
fogos consumiram mais de 140 mil hectares, segundo dados do Instituto
da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), o que corresponde a
um aumento de 28% em relação a 2012. Em contrapartida, as ocorrências
de fogos diminuíram 10%, tendo-se registado 18 869, menos 2135 que no
ano passado.
Os dados revelam que a incidência de fogos florestais continua a ser
superior no litoral norte, sobretudo em Braga, Porto e Aveiro. Segundo
Domingos Patacho, coordenador para a área das florestas da Quercus, os
incêndios acontecem nestas áreas, "não porque haja mais floresta, mas
porque há mais população a viver perto das zonas verdes". As pequenas
fogueiras nas matas continuam a ser um dos maiores perigos para a
floresta portuguesa: "O fogo posto é uma realidade, mas a verdade é
que há ainda muita negligência", salientou.
Rosário Alves, directora executiva da Forestis - Associação Florestal
de Portugal, relembra que apenas uma ínfima parte dos incêndios tem
causa natural e é na sensibilização das populações que deve começar a
protecção: "Tivemos um século de crescimento florestal, tendência que
se alterou na última década." A responsável da Forestis detecta falhas
cruciais no combate aos incêndios. "Há falta de intervenção nos
primeiros 20 minutos e, além disso, o combate está centrado na defesa
de pessoas e bens, o que provoca a progressão do incêndio até perto de
aglomerados populacionais", avisou, justificando o aumento do número
de incêndios de grande dimensão.
Rosário Alves considera por outro lado que a arborização em Portugal é
muito deficitária. Recorrendo a dados do ICNF, lembra que a plantação
de pinheiro-bravo diminuiu, com o registo de menos 260 mil exemplares
de 1995 a 2000, anos abrangidos pelo último inventário florestal
nacional.
Veja mais em http://www.globalforestwatch.org
http://www.ionline.pt/artigos/mundo/desflorestacao-google-bombeiro-servico/pag/-1
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