A Faculdade de Medicina do Porto inicia esta semana um ensaio clínico para testar os efeitos do vinho sem sulfitos, mas com adição de uma substancia presente no marisco, na expectativa de não provocar alergias.
Usados no processo de vinificação para evitar a propagação de bactérias e a oxidação, os sulfitos podem causar dores de cabeça, náuseas, irritações gástricas e dificuldades respiratórias, que se manifestam mais em pacientes asmáticos.
Os sulfitos serão substituídos por um composto (quitosano) obtido através da casca dos mariscos e de alguns fungos com propriedades antimicrobianas e antioxidantes.
Sabendo que algumas pessoas são intolerantes aos sulfitos presentes no vinho, "a Universidade de Aveiro criou uma alternativa inovadora que permite substituir os sulfitos por um ingrediente natural, extraído da casca de mariscos, um polissacarídeo denominado de quitosano. Mas isso não vai causar problemas às muitas pessoas com alergia ao marisco? É para dar uma resposta cabal a esta questão que se vai realizar este estudo", salientou o coordenador do ensaio clínico, André Moreira.
"O objetivo do nosso trabalho é demonstrar a segurança do consumo de um vinho produzido com a utilização do quitosano em doentes alérgicos ao marisco. O receio da reação alérgica não tem nenhuma plausibilidade biológica que o justifique, mas são necessários estudos de segurança para comprovar aquilo que é uma evidência biológica e científica", sublinhou o investigador.
O ensaio é dirigido aos pacientes que são seguidos na consulta externa de Imunoalergologia do Centro Hospitalar São João.
"Pretendemos recrutar 20 adultos com diagnóstico de alergia grave ao marisco para testarmos os efeitos deste vinho sobre o seu sistema imunológico. A nossa expectativa é que os pacientes não apresentem qualquer sintoma alérgico, uma vez que, embora o composto (quitosano) que substitui os sulfitos possa ser proveniente de casca de crustáceos, não contém as proteínas causadoras da alergia", frisou André Moreira.
O ensaio será conduzido por médicos alergologistas da FMUP nas instalações do Serviço e Laboratório de Imunologia desta Faculdade e no Serviço de Imunoalergologia do Centro Hospitalar de São João. Depois de informados, os voluntários vão realizar testes cutâneos por picada para avaliar a reação ao vinho (com e sem quitosano). Posteriormente, ser-lhes-á pedido que ingiram pequenas doses de vinho, com intervalos de 15 minutos.
Os testes serão apresentados como positivo (existência de sinais alérgicos) ou negativo (inexistência de sinais alérgicos). "O ensaio cumpre todos os protocolos de segurança e os voluntários estarão sempre a ser supervisionados por uma equipa médica experiente", disse o investigador.
Os responsáveis pela investigação consideram que "esta tecnologia poderá revolucionar o processo de vinificação sem acarretar mais custos nem alterar as práticas enológicas comuns a todas as adegas".
Os vinhos foram preparados por uma empresa produtora de Carregal do Sal.
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