por Margarida Bon de Sousa, Publicado em 09 de Fevereiro de 2011 |
Actualizado há 8 horas
São várias as razões que põem em risco os dias de alimentação barata
na Europa. Desde as quebras na produção à própria PAC
Os portugueses consomem cada vez mais carne e o que produzimos não chega
nelson d?aires/kameraphoto
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Os portugueses podem vir a pagar a carne de vaca duas ou três vezes
mais cara do que actualmente. Este é um dos produtos alimentares em
que a fragilidade portuguesa face ao exterior é maior. A razão é
simples: não produzimos vacas suficientes, não temos capacidade para
as alimentar sem recorrer a rações e, como também não as produzimos em
quantidade, mais uma vez dependemos do exterior. O que faz com que
estejamos totalmente à mercê dos mercados internacionais, onde as
matérias-primas alimentares têm estado em alta. Nunca como agora se
equacionou este problema, pese o facto de a Europa considerar que está
salvaguardada.
Mas não está. Apesar de o governo garantir que não se voltarão a
repetir situações de escassez de produtos como a que aconteceu com o
açúcar em Dezembro, não há forma de precaver este tipo de situações
porque deixou de haver excedentes na União Europeia. O orçamento
comunitário também já não suporta o nível de ajuda aos agricultores e
o desligamento das ajudas à produção fez com que vastas zonas
deixassem de ser cultivadas.
Tal como noutros sectores, as leis da oferta e da procura estão a
funcionar em pleno e as bolsas de futuros mostram claramente que
existe uma tendência de subida das matérias-primas alimentares nos
próximos anos. O que, aliado à alta do preço do petróleo, aponta para
que a alimentação barata na Europa possa ter os dias contados.
Outro fenómeno relativamente recente é a pressão que a distribuição,
aliada à indústria transformadora, exerce sobre os produtores,
impondo-lhes preços cada vez mais baixos quando se assiste a uma
escalada no preço das matérias-primas. Em Portugal, de 1999 a 2009
desapareceram 27% das explorações, a maioria das quais com menos de um
hectare, pondo também em causa a chamada agricultura de subsistência.
A nossa taxa de dependência externa continua a ser elevada, cerca de
40%, embora não se tenha agravado nos últimos dez anos. Os cereais, as
frutas e a carne de vaca e de pequenos ruminantes são os produtos que
mais pesam no défice da balança comercial, embora o ritmo de
crescimento das exportações agro-alimentares no mesmo período tenha
sido muito superior ao das importações. As exportações
agro-alimentares cresceram 6,6%, enquanto as importações se ficaram
por um aumento de 3,7%.
Portugal também importa cada vez mais frutícolas em resultado do
aumento da procura dos portugueses por frutos tropicais, para além de
gostarem cada vez mais de consumir estes alimentos fora de época. As
nossas exportações centram-se sobretudo no vinho, nas frutas, nos
legumes e no azeite. O azeite é aliás um dos casos de maior sucesso,
com a transformação de uma cultura de mão-de-obra intensiva para uma
de rega gota a gota e apanha mecânica das azeitonas. O que mostra que
podemos ter ganhos significativos de produtividade e competitividade,
desde que haja políticas integradas e coerentes.
http://www.ionline.pt/conteudo/103523-carne-e-cereais-deixam-nos--merce-dos-mercados-externos
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