08.02.2011 - 14:13 Por Ana Rita Faria
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Empresa do Montijo recebe prémio nacional por projecto que promete uma
carne de porco melhor. Jerónimo Martins é o parceiro e vai vender o
produto sob a marca Pingo Doce
A valorização da carne não tem custo significativo para o consumidor
(Daniel Rocha)
Todos os dias saem da fábrica das instalações da Raporal, nos
arredores do Montijo, quatro camiões em direcção aos armazéns da
Jerónimo Martins (JM). Em cada um seguem 20 a 25 toneladas de carne de
porco, mas não uma carne qualquer. A empresa chama-lhe o "porco com
mais sabor", mas, na realidade, é o resultado de um projecto que
demorou três anos, custou 20 milhões de euros e foi premiado
recentemente num concurso nacional, o Portugal Vencedor.
A inovação foi a força motriz de todo o projecto, obrigando a empresa
a mudar a forma de produzir carne. A linha genética foi alterada, bem
como a alimentação e o ambiente onde são criados os animais. A carne,
que se diz mais saborosa e tenra, é vendida sob a marca Pingo Doce nas
lojas da JM (Pingo Doce, Feira Nova, Recheio e Lidosol), graças a um
contrato de cinco anos no valor de 250 milhões de euros. E tudo
começou numa simples troca de palavras.
"O projecto Porco com mais sabor surgiu a partir de uma conversa com
alguns responsáveis do Pingo Doce, que achavam que a carne que hoje se
consumia era demasiado industrializada, sem sabor, fazendo lembrar os
frangos de aviário e deixando saudades da carne que se comia
antigamente em casa dos avós", conta Mário Guarda, um dos
administradores da Raporal. A sugestão de que a empresa agitasse as
águas não tardou. Em Janeiro de 2008, a Raporal lançou-se no projecto.
Curiosamente, uma das primeiras necessidades foi assegurar que esta
nova carne teria mais gordura.
Gordura dá sabor
"Regra geral, os consumidores preferem carne sem gordura, mas isso não
é o ideal", explica o administrador, Nuno Ramalho. "Neste novo
produto, temos gordura intramuscular, aqueles veios no meio da carne,
o que evita que seja necessário adicionar azeites ou outras gorduras",
conclui.
Para conseguir isso, todo o processo de criação e produção teve de ser
mudado. O primeiro passo foi criar uma linha genética específica, que
desse origem a uma carne com mais qualidade, não destinada a fins
industriais. A Raporal fez mesmo uma parceria com a empresa de
genética PIC. Os porcos machos têm de ser castrados, para que a carne
não fique com um cheiro e gosto mais intensos.
O espaço onde os animais são criados foi melhorado e só são abatidos
mais tarde do que o normal para favorecer a deposição de gordura
intramuscular. A alimentação passou a ter maior gordura vegetal, de
tal modo que mais parece que o animal andou a pastar num campo de
bolota e não a comer rações. Foram feitas obras no matadouro, para que
a carne fosse refrigerada a temperaturas mais adequadas. No total, a
Raporal investiu mais de 20 milhões de euros no projecto. Agora,
começa a recolher os primeiros louros, tendo sido recentemente
premiada no concurso Portugal Vencedor, um galardão na área da
produção e saúde animal atribuído pela Intervet Schering-Plough.
Neste momento, o volume de produção da Raporal ainda está a 45 por
cento do que foi acordado no contrato, mas, em Outubro, quando atingir
a velocidade de cruzeiro, a empresa produzirá entre 350 e 400
toneladas de carne por semana, o que faz 18 a 19 milhões de quilos por
ano. "A cinco anos, são 100 milhões de quilos de carne que está
contratada, o que significa que cada português comeria, em média, 10
quilos desta carne até 2016", resume Mário Guarda.
Além disso, a garantia do contrato com a Jerónimo Martins permite à
Raporal fugir às oscilações de preços que afectam o sector. Com o
aumento dos preços das matérias-primas alimentares (como os cereais,
essenciais nas rações) e energéticas (o petróleo, usado nos
transportes), os produtores de carne têm visto os seus custos de
produção disparar.
"Com este contrato, de preço fixo, fugimos um pouco à guerra dos
mercados e não competimos com o mesmo produto que todos os outros
competem", salienta Nuno Ramalho. O mesmo acontece com os outros
suinicultores que se juntaram à empresa. Para conseguir assegurar a
quota de produção que a JM pedia, a Raporal juntou-se a nove
produtores mais pequenos.
Quanto ao custo, a empresa diz que o Porco com mais sabor deverá
representar um acréscimo de preço que não chega aos 75 cêntimos por
mês. "Ou seja, por mais um café, as pessoas comem carne de melhor
qualidade", defende o administrador Pedro Lagoa. Aliás, de acordo com
a Raporal, o preço da carne está, hoje em dia, mais barato em 25 por
cento do que há cinco anos, devido à crescente dispersão e
concorrência no sector, sobretudo por via da importação. E acrescenta
que, actualmente, mais de metade da carne que consumimos vem de outros
países.
http://economia.publico.pt/Noticia/raporal-quer-tornar-carne-mais-saborosa_1479208
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