POR ELISABETE RODRIGUES ⋅ 13 DE FEVEREIRO DE 2014 ⋅ 22:05
A Jerónimo Martins vai investir, este ano, no setor da agricultura. O presidente do Conselho de Administração do grupo não quis adiantar pormenores, mas admitiu que em breve será anunciado «um investimento grande», na agricultura, em Portugal.
«Teremos coisas interessantes para falar daqui a um mês ou dois», disse, esta quinta-feira, Pedro Soares dos Santos, no Algarve, na conferência de imprensa após a inauguração do Centro de Distribuição de Algoz (Silves), que representa um investimento de 25 milhões de euros e criou 220 postos de trabalho, diretos e indiretos.
Quando está próxima a entrada em vigor do novo regime que regula práticas comerciais, nomeadamente restringindo as promoções feitas pelas marcas de distribuição nas suas lojas, o CEO da Jerónimo Martins considera que isso virá «limitar muito a capacidade contratual» entre a grande distribuição e os fornecedores.
O novo regime visa, segundo o Governo, proteger os pequenos fornecedores, que agora são alegadamente esmagados pelos preços que lhes serão impostos pela grande distribuição. Mas Soares dos Santos vê as coisas de forma completamente inversa: «é todo um trabalho que se fez com milhares de médios e pequenos produtores que pode ficar completamente comprometido», garante.
«Os grandes e os fortes vão ultrapassar isto», já que, «se o setor se quiser proteger, uma primeira solução à vista, é a importação». Aliás, na opinião do gestor, a nova lei abre «brutalmente a porta» à compra de produtos estrangeiros.
«Uma lei que era para limitar os grandes, vem dar-lhes força e entalar os mais pequenos», garantiu.
No caso da Jerónimo Martins, Pedro Soares dos Santos assegura que «75% do que vendemos é produzido em Portugal», a nível do alimentar. O frango e o porco, por exemplo, é quase 100% nacional.
Impostos disfarçados e custos acrescidos
Fazendo uma lista das coisas que diz não perceber em Portugal, Soares dos Santos pergunta porque é que há-de «um português pagar a comida 30% mais cara que um alemão paga na Alemanha? Porque é que uma Coca-Cola, na Polónia, é 40% mais barata que em Portugal? Porquê obrigar os portugueses a pagar mais caro pela comida?». Na sua opinião, tudo resulta das regras e impostos existentes no país.
Por exemplo, em relação à taxa de segurança alimentar criada pela atual ministra da Agricultura Assunção Cristas, o presidente do CA da Jerónimo Martins diz que o grupo «não vai rever a sua posição», que é de não pagar. «Consideramos que isto é mais um imposto. Os tribunais hão-de revolver».
Quanto ao país, que considera que «nem tão cedo» vai sair da situação em que está, Pedro Soares dos Santos diz que «não sinto que já haja grande apetência para consumo desmedido». «O arranque do consumo vai retardar», até porque «a carga fiscal aumentou mais este ano que no ano passado». Poderá haver «uma estabilização da confiança», mas «nem a média de compra está a subir, nem o consumidor está a gastar mais». O que se está a passar, na opinião do gestor, é que «as pessoas mudam de hábitos, reajustam-se».
E sobre o "milagre económico" anunciado pelo ministro Pires de Lima? «Como não vou a eleições, não detetei nenhum milagre económico», responde, lapidar.
Investimento na Polónia e na Colômbia é para continuar
Os investimentos na Polónia, onde, através da marca Biedronka, o grupo tem a sua maior rede de lojas (2393), pretendendo chegar às 3000 em 2015, Soares dos Santos admitiu que «existe nitidamente uma travagem do consumo», mas nada que assuste o grupo português: «espero ter um ano simpático na Polónia».
Apesar de «alguma concorrência ter acordado e apertado connosco», no último ano a Biedronka ganhou mesmo «2,5% de quota de mercado na Polónia».
Quanto à Colômbia, onde o grupo inaugurou os seus primeiros supermercados Ara e o centro de distribuição do país há cerca de um ano, em março de 2013, Pedro Soares dos Santos diz que está «muito contente».
No entanto, admite, «ainda não me sinto esclarecido sobre o que é a Colômbia, o que é o consumidor colombiano». Até agora, a «fórmula tem sido testar, testar, testar».
Certo é que o gestor se confessa cada vez mais «confiante» nesta aposta na América do Sul, lembrando que «em nove meses abrimos 40 lojas e este ano vão ser mais 100 lojas».
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