segunda-feira, 7 de março de 2011

Aproveitar a cortiça para desenvolver as palmilhas ideais para obesos e carteiros

Por Sara Dias Oliveira
A 3DCork, empresa de moldação de cortiça, em Santa Maria da Feira,
está a desenhar um apoio para indivíduos com sobrecarga de peso
permanente ou temporária

O projecto chama-se Stress Less Shoe, representa um investimento de
120 mil euros, comparticipados na sua maioria pelo Quadro de
Referência Estratégico Nacional (QREN), e envolve várias parcerias.
A 3DCork, empresa de moldação de cortiça, localizada em Paços de
Brandão, Santa Maria da Feira, está neste momento a desenvolver duas
palmilhas em cortiça com o objectivo de proporcionar maior conforto a
quem tenha sobrecarga de peso permanente ou temporária. Como obesos,
carteiros, montanhistas, caminheiros, operários que trabalhem em pé,
trabalhadores de empresas petrolíferas, entre outros. No final do ano,
as palmilhas serão lançadas no mercado nacional e internacional.

A 3DCork está habituada a produzir componentes para calçado, já
fabrica palmilhas de conforto e tacões em cortiça, e decidiu
rentabilizar o seu know-how para investir num novo produto. Contactou
o Centro Tecnológico do Calçado de São João da Madeira para criar uma
palmilha especial com especificidades nunca antes sentidas no mercado.
Os estudos já começaram e os apoios para o pé estão em testes
laboratoriais para que os materiais, além da cortiça, sejam
seleccionados.
O que já está decidido é que haverá uma palmilha para obesos e outra
para os restantes pés que estejam sujeitos a sobrecargas temporárias
de peso. Sara Nunes, gestora comercial e financeira da 3DCork, adianta
que os estudos realizados revelaram que o pé de um obeso tem uma
configuração diferente dos indivíduos que estão muito tempo em pé.
"Estudámos as zonas de pressão do pé onde interessa haver uma certa
correcção do andar", explica.
Depois das palmilhas desenhadas, duas empresas do sector do calçado
desenvolverão um sapato apropriado à incorporação do apoio do pé.
"Será um calçado específico. O objectivo é minimizar o desconforto
provocado pela sobrecarga de peso", sublinha a responsável. Os testes
prosseguem e Sara Nunes ainda não adianta preços. "Será um produto que
terá uma boa aceitação no mercado. Será uma palmilha interessante,
tendo em conta o resultado que irá obter." E as características da
cortiça encaixam na perfeição nos resultados que se pretendem obter:
um produto maleável, confortável e amigo do ambiente.
Logo que o projecto começou a dar os primeiros passos, procuraram-se
parceiros para que o desenvolvimento das palmilhas fosse o mais
rigoroso possível. O Centro Tecnológico do Calçado de São João da
Madeira, a Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, a Faculdade
de Engenharia do Porto e o Instituto Superior de Saúde da Universidade
do Porto também participam.
A 3DCork molda a cortiça conforme as exigências do cliente. O processo
parece simples. O granulado de cortiça é colocado em moldes que
determinam a forma das peças requisitadas e que entram em máquinas a
temperaturas certas. Os estudos e testes até à fase da produção exigem
tempo à empresa que se dedica à comercialização de produtos em cortiça
para decoração, artigos de escritório, componentes para calçado e
peças de rigor técnico para utilização industrial.
Em 2010, desenvolveu uma peça única a pedido de um cliente
dinamarquês, radicado em Portugal: uma protecção em cortiça para o
iPad. "Nunca antes se tinha feito uma peça com essas características,
é uma protecção que encaixa no iPad e que garante a estabilidade
dimensional da peça." Em Novembro, a protecção foi lançada para o
mercado. A empresa produz ainda saboneteiras, bases para travessas,
tapetes, punhos para ski, carteiras, bolas de críquete. Tudo em
cortiça.
É sobretudo no centro da Europa que moram os seus principais clientes.
"É onde há uma maior consciência ecológica e onde a cortiça tem uma
maior aceitação", afirma a gestora financeira. Os EUA são o mais
recente mercado em exploração. Com alguns clientes portugueses, a
empresa exporta praticamente a totalidade da sua produção, mesmo que
de forma indirecta, uma vez que os produtos vendidos em território
nacional acabam por ter o mercado externo como destino. "É um negócio
de pormenores, não se ganham milhões, mas é um nicho interessante." Em
tempos de crise, Sara Nunes não concretiza o valor da facturação, mas
garante que de 2009 para 2010 a empresa registou um crescimento de
cerca de 30 por cento.
http://jornal.publico.pt/noticia/06-03-2011/aproveitar-a-cortica-para-desenvolver--as-palmilhas-ideais-para-obesos-e-carteiros-21490716.htm

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