A luta entre homens e animal volta a cumprir-se. A derrota está sempre
do mesmo lado. É proibido? É. Mas faz-se? Faz
Quem já assistiu à matança de um porco decerto não esqueceu os
guinchos do animal. O desespero de quem tem a certeza de que o espera
a morte. Nos arredores de Lisboa, ao início da manhã, um grupo de
cinco homens ultima os preparativos. Todos os anos celebram o ritual.
"Isto é mais pelo convívio, pelas minis bebidas entre amigos e pelos
petiscos", afirma o dono do porco. Durante seis meses tratou de o
engordar para este dia. Mal sentiu a presença dos homens, o animal
soube o que ia acontecer. Todo este processo é fortemente criticado
pelas associações de protecção dos animais, que considera o ritual
"extremamente cruel". Para a ANIMAL, "é desumano que os porcos sejam
sacrificados num ritual que não tem, não pode nem deve ter lugar numa
sociedade civilizada". A verdade é que, apesar de proibida, a tradição
continua a cumprir-se por todo o país.
Depois de se afiarem as facas e de se preparar a mesa onde se vai
deitar o porco, é a hora de o agarrar. Uma tarefa hercúlea. Entre
guinchos estridentes de quem tenta ingloriamente agarrar-se à vida, os
seis homens conseguem finalmente agarrar o animal e prender-lhe as
pernas com cordas. Um combate desigual, ganho pela força. Pascoal é o
responsável por dar o golpe ao porco com a longa lâmina da faca. Todos
os outros agarram o animal até ao momento certeiro. "Já está, não mexe
mais, pá", exclama um entre goles de mais uma cerveja. "Porra, este
deu luta", responde outro. Depois de recolherem todo o sangue - "isto
aproveita-se tudo!" -, Manuel tem a tarefa de chamuscar o porco para
retirar o pêlo.
Com a chama de um maçarico ligado a uma botija de gás e com a destreza
de quem conhece a tarefa, percorre todo o corpo do animal. A pele é
depois raspada com uma faca, sempre com uma garrafa de cerveja na
outra mão. Toda a carne será usada para consumo próprio e "para
algumas patuscadas". "É o melhor da vida, comer e beber entre amigos",
diz Jaime. Haverá dúvidas?
http://www.ionline.pt/artigos/portugal/matanca-porco-tradicao-ainda-era
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