Confederações com leituras diferentes para explicar por que razão o
sector agrícola gerou metade do trabalho no 2.º trimestre
Assunção Cristas
Jorge Carmona
09/08/2013 | 03:15 | Dinheiro Vivo
A agricultura foi o sector que mais contribuiu para a descida do
desemprego no segundo trimestre do ano, de acordo com dados do
Instituto Nacional de Estatística, mas as confederações de
agricultores têm uma leitura diferente para os mesmos números.
Enquanto a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) justifica o
aumento com a obrigatoriedade de muitos antigos agricultores se
coletarem nas Finanças, a Confederação de Agricultores de Portugal
(CAP) aponta para a sazonalidade do trabalho rural e para os novos
jovens agricultores.
João Dinis, da CNA, defende que os números divulgados pelo INE "não
são de trabalho sazonal, porque já há pouco em Portugal e o que há é
feito por estrangeiros". O aumento de trabalhadores na agricultura,
para este dirigente, prende-se apenas com o fato "de este Governo ter
imposto que todos os pequenos e médios agricultores, com rendimentos
anuais de dez mil euros tinham que se coletar nas Finanças", afirmou
ao Dinheiro Vivo. Ora, explica, "os agricultores que nunca fizeram
parte das estatísticas, porque não estavam coletados mas eram
agricultores há anos, agora fazem parte dessa estatística e esses
números ainda vão aumentar mais, porque já se coletaram dezenas de
milhares, mas faltam ainda muitos".
Quanto à sazonalidade, João Dinis diz mesmo "que alterou-se o tipo de
cultura e esta já não está dependente do trabalho sazonal, além disso,
por exemplo na zona do Douro, os agricultores não têm dinheiro para
contratar pessoal".
Já João Machado, dirigente da CAP, tem outra leitura e afirmou ao
Dinheiro Vivo que "a agricultura tem vindo a criar empregos nos dois
últimos anos. Só no último ano, cerca de 3000 jovens agricultores
lançaram novas empresas, criaram postos de trabalho, alguns o seu
próprio emprego, mas começam também a dar trabalho a outras pessoas,
quer empregos fixos quer temporários, e isso vai continuar a acontecer
nos próximos anos quando essas novas explorações, um pouco por todo o
País e com diferentes produções, começarem a produzir normalmente."
A sazonalidade é outra das explicações avançadas por João Machado.
Neste ponto, afirma "que haverá sempre emprego sazonal da agricultura.
Na época das colheitas é normal", mas, sublinha, "há uns anos esse
trabalho era feito por grupos de estrangeiros, que vinham para
Portugal, e agora, como há mais disponibilidade de mão de obra
portuguesa, esse trabalho é feito por portugueses e o dinheiro fica no
nosso país". O "importante", diz, "é verificar os números (do
desemprego) nos próximos trimestres, para aprofundar o que é sazonal e
o que é a tempo inteiro".
Trabalho precário
Certo é que os indicadores do INE contêm indícios que apontam para
precariedade do trabalho na agricultura. Assim, e em relação ao
trimestre anterior, o trabalho ao serão aumentou 87,7% e à noite 62%.
O trabalho ao sábado subiu 20,7% e 8,1% ao domingo.
Quanto à duração do trabalho, o INE apurou que a jornada entre uma e
10 horas semanais subiu 21,8% do primeiro para o segundo semestre. Já
o trabalho que ocupa entre 36 e 40 horas semanais (horário mais comum
nas atividades económicas) caiu 10,2%.
http://www.dinheirovivo.pt/Economia/Artigo/CIECO239598.html?page=0
Sem comentários:
Enviar um comentário